Naura Schneider interpreta uma mulher vítima de violência doméstica.
A violência doméstica é um dos temas atualmente mais
preocupantes na sociedade brasileira. Talvez para se conectar com a origem da Lei
Maria da Penha, o filme é ambientado em Recife no começo dos anos de 1980.
Naquela época, o país acompanhava os lances dramáticos do assassinato de Angela
Diniz e o julgamento do marido, bem como os episódios da série de TV “Quem Ama
não Mata”, com Marilia Pera e Claudio Marzo. Uma das várias qualidades do filme "Vidas Partidas" é colaborar para uma
melhor compreensão daqueles acontecimentos.
Determinados comentários sobre a história adotam uma ótica econômico-financeira para abordar essa transformação. A frustração do marido desempregado em face ao sucesso profissional da esposa explicaria a mudança em seu comportamento. Essa linha de análise, entretanto, não se sustenta, porque o personagem de Montagner se torna ainda mais agressivo depois que ele volta a lecionar numa faculdade.
A cada 12 segundos, 1 mulher é violentada no Brasil.
O número 180 é destinado à denúncia desses casos.
O número 180 é destinado à denúncia desses casos.
Como o cineasta Guel Arraes faz parte da equipe de produção, “Vidas Partidas” se favorece dos bons exemplos do cinema pernambucano. A câmara se esmera em descrever de perto a gradativa evolução emocional do agressor, enquanto mostra que – à sua maneira doentia – ele ama sinceramente a mulher e as filhas. Em outras palavras, neste filme o trabalho da direção valoriza muito o resultado final do projeto.
O diretor Marcos Schechtman é um dos pilares da televisão brasileira que, embora muita gente nem desconfie, não se resume à produção da TV Globo. Na década de 1980, Schechtman foi um dos responsáveis pela consolidação da dramaturgia da TV Manchete. No final dos anos de 1990, ele passou a dirigir sucessos da TV Globo, como “Caminho das Índias” e “O Clone”. Toda essa experiência transparece na qualidade de “Vidas Partidas”, que é o 1º filme de sua carreira. Repare na maneira como o gestual do protagonista vai indicando as suas transformações, por meio apenas das imagens e da eloquente interpretação de Domingos Montagner.
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