Comportando-se como um senhor há mais de 30 anos, Albert também gostaria de ter uma esposa para compartilhar uma casa própria. E esse é um dos aspectos mais surpreendentes do roteiro, porque não existe nesse travestimento qualquer conotação sexual. A ponto dele (a) começar a cortejar uma colega vivida por Mia Wasikowsa, que fez “Alice de Tim Burton”, e não tentar obter um beijinho sequer dessa moça que pretende pedir em casamento. Em função disso, o trabalho de Glenn Close se mostra ainda mais requintado, porque seu personagem é pura auto-repressão, treinado em jamais revelar qualquer sentimento. E mesmo assim emociona, pela depuração e pelo ascetismo que o eleva acima das pessoas comuns − talvez como um anjo, sem sexo e motivado pelas melhores intenções.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Mais um impressionante trabalho de Glenn Close digno de Oscar: "Albert Nobbs"
Comportando-se como um senhor há mais de 30 anos, Albert também gostaria de ter uma esposa para compartilhar uma casa própria. E esse é um dos aspectos mais surpreendentes do roteiro, porque não existe nesse travestimento qualquer conotação sexual. A ponto dele (a) começar a cortejar uma colega vivida por Mia Wasikowsa, que fez “Alice de Tim Burton”, e não tentar obter um beijinho sequer dessa moça que pretende pedir em casamento. Em função disso, o trabalho de Glenn Close se mostra ainda mais requintado, porque seu personagem é pura auto-repressão, treinado em jamais revelar qualquer sentimento. E mesmo assim emociona, pela depuração e pelo ascetismo que o eleva acima das pessoas comuns − talvez como um anjo, sem sexo e motivado pelas melhores intenções.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
"A Dama de Ferro": caso raro de docudrama a um só tempo político e poético
Essa é a dificuldade e também o encanto do roteiro que a mostra já fora do poder, conversando com o marido morto e tendo dificuldade de se lembrar exatamente como as coisas aconteceram. Falo do complicado processo histórico que a levou a exercer o governo de um modo especialmente enérgico e que, como também aconteceu com os do Partido Trabalhista, apresenta aspectos positivos e negativos. Em alguns momentos, o filme impressiona pela tenacidade e pelo idealismo desta que foi a primeira mulher a assumir a chefia do governo na Inglaterra, desde a rainha Elizabeth no século XVI. Em outros, comove com as passagens poéticas em que a vemos frágil e falível como qualquer ser humano. E acima de tudo o louva-se o inigualável talento de Meryl Streep que corre o risco de com ele levar o 3º Oscar da carreira, por não apenas ter incorporado a personagem histórica, mas ter revelado dramaticamente, inclusive por meio da expressão corporal, a passagem do tempo sobre ela.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Em “A Invenção de Hugo Cabret”, Scorcese louva e glorifica a história do cinema
Mas tudo no filme acontece por meio de um personagem fictício criado pelo escritor Brian Selznick (da família de David Selznick, produtor de sucessos como “E o Vento Levou”), um menino órfão que vivia escondido na estação de trem onde o velho mago do cinema vendia doces e brinquedos para sobreviver. Até esbarrar com a neta dele (Chloe Moretz de "Deixe ela entrar"). Sempre se esquivando de um policial que o persegue (Sacha Baron Cohen de “Borat”), a meta desse personagem interpretado pelo garoto Asa Butterfield é desvendar o segredo do funcionamento de um autômato movido a corda, como um relógio, que seu pai (Jude Law de “Sherlock Holmes”) tinha construído antes de morrer. O sentido desse boneco animado permanece obscuro quase até o final.
A função do rapaz no projeto, porém, é instaurar um clima de fábula para crianças, repleto de peripécias e correrias, para garantir a necessária identificação com as platéias mais jovens e talvez mais distantes do conhecimento histórico referente à trajetória do cinema ao longo do século XX. É surpreendente como o filme associa a sensação de aventura e risco que marca o início do cinema ao frenesi das narrativas infantis. Naquela mesma época em que se passa o filme de Scorcese, em Hollywood surgia o cinema falado, exilando para a gaveta obras primas como “Metropolis” (1926) do alemão Fritz Lang, no qual a heroína é substituída por um robô sem alma. Uma frase desse filme que se tornou famosa é “sem o coração, não pode haver entendimento entre a mão e o cérebro”. Ou seja, numa interpretação ligada ao tema de “A Invenção de Hugo Cabret”, os avanços da tecnologia como o som e o digital não vieram para anular o que foi feito anteriormente e sim para abrir novas possibilidades de criação.
Hugo
EUA, 2011, 126 min, livre
estreia 17 92 2012
gênero aventura / história / comédia
Distribuição Paramount
Direção Martin Scorsese
Com Ben Kingsley, Asa Butterfield, Chloe Moretz
Sacha Baron Cohen,Jude Law,Christopher Lee
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Aparece o favorito para o Oscar de melhor desenho animado de longa metragem.
Com a ausência de “Rio”, de Carlos Saldanha, e de “As Aventuras de Tin Tin - O Segredo do Licorne”, de Steven Spielberg, já tinha gente apostando no medíocre “O gato de Botas” de Chris Miller e no apenas razoável “Kung Fu Panda 2”, de Jennifer Yuh. Já o francês “Um gato em Paris” parece fora do páreo. Mas acontece que “Rango", de Gore Verbinski foi o grande vencedor da 39ª edição do Annie Awards, realizado em Los Angeles. O prêmio é considerado uma prévia do Oscar, por que é concedido pela International Animated Film Society às melhores animações do cinema (longa e curta), televisão e videogame. O sensacional “Rango”, inteligente e amargo, mas furiosamente engraçado, cujo personagem principal é dublado por Johnny Depp, ganhou os prêmios de Melhor Animação, Edição, Personagem e Roteiro. "Kung Fu Panda 2", da Dreamworks, era o favorito da noite, mas levou apenas de Melhor Direção de Arte e Melhor Diretor para Jennifer Yuh. Os dois concorrem ao Oscar 2012 de Melhor Animação, mas minha preferência é “Rango”. "As Aventuras de Tintin: O Segredo de Licorne", também recebeu dois Annies, de Melhor Música e Efeitos. A produção de Spielberg ficou de fora do prêmio da Academia, mas ganhou o Globo de Ouro, provando que nos EUA os desenhos feitos no sistema “captura de movimento” também são considerados filmes de animação.
A comédia “As Mulheres do 6º Andar” é um novo alento para o cinema francês.
AS MULHERES DO 6º ANDAR
Les femmes du 6ème étage
França, 2011, 104 min, 16 anos
estreia 10 02 2012
Gênero comédia / romance
Distribuição: Vinny Filmes
Direção: Philippe Le Guay
Elenco: Carmen Maura, Fabrice Luchini,
Natalia Verbeke, Lola Dueñas
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
Mais um bom trabalho de Tilda Swinton: "Precisamos falar sobre Kevin"
Quem "O Artista" representa? Charles Chaplin, Rodolfo Valentino, Errol Flynn, ou todos eles?
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Boas piadas com uma sombra do nosso passado político em "Reis e Ratos".
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
"Reis e ratos" será lançado em 17 de fevereiro, com Selton Mello e Rodrigo Santoro
Ainda que isso não signifique um tipo de elogio, “Reis e Ratos” é uma prova de que o chamado “cinema marginal”, ou “de invenção” fez escola no Brasil. Até o dia 12, aliás, prossegue no CCBB uma mostra chamada “Jairo Ferreira – Cinema de Invenção”, cujo título é uma homenagem ao crítico paulista que se engajou naquele movimento desenvolvido nos anos 1960 e 70, como uma reação ao cinema novo, que realizara uma espécie de pacto com a ditadura e tinha, de certa forma, se assenhoreado da Embrafilme. Alguns dos diretores daquele ciclo como Rogério Sganzerla, Neville de Almeida e principalmente Ivan Cardoso são citados explícita e veladamente ao longo deste filme dirigido por Mauro Lima, que fez o bem resolvido e biográfico “Meu nome não é Johnny” (2008). Desta vez ele cria uma paródia dos acontecimentos anteriores ao golpe militar de 1964, por meio de duas figuras que parecem ter saído de um gibi underground. São dois agentes da CIA trabalhando para derrubar o governo com o apoio do embaixador dos EUA (Hélio Ribeiro), mais um latifundiário mineiro (Orã Figueiredo), e um ex-cafetão (Rodrigo Santoro).
Eles são Selton Mello e Otávio Muller que falam igualzinho aos personagens de enlatados americanos, com o mesmo fraseado e uma entonação idêntica. A maior parte do filme inclusive é filmada em branco e preto, com diálogos e trilha sonora gritantes, talvez para ampliar as referências aos seriados de TV daquela época e ao estilo trash do cinema marginal. Mas, com exceção do trabalho dos atores Orã Figueiredo e Otávio Muller, que se impõe por conta própria, o projeto não decola, derrapando no humorismo forçado, nas confusões da narrativa e em personagens sem sentido nem fundamento, como o de Cauã Reymond – um radialista que transmite recados mediúnicos durante a locução dos próprios programas. O filme será lançado pela Warner e Globo filmes, no dia 17 de fevereiro, com produção de Paula Lavigne e canção original de Caetano Veloso, cantada por Bebel Gilberto. O resultado é uma comédia apenas regular, parecendo dizer – já que não se sabe tudo sobre aquela época conturbada, então podemos inventar qualquer disparate sobre ela.