Textos de Luciano Ramos (jornalista, sociólogo e escritor paulista) sobre crítica de filmes nacionais e internacionais, reflexão a respeito da arte cinematográfica, notícias sobre o mundo do cinema, inserção do cinema na história da cultura, patrimônio histórico e cultural.
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Filme narra a infância de um garoto - inspirado no escritor - durante os anos 30
Neste ano de 2016 foi lançado o filme brasileiro
“O Escaravelho do Diabo”, que pertence a um gênero raro entre nós que é o filme
juvenil. Como a gente não tem parâmetros para a comparação, vamos sugerir a
revisão de um belo exemplo lançado em 2014 que foi "O Menino no Espelho" - filme o qual pode ser visto em DVD ou na TV a cabo.
Quem viu os filmes mineiros "Cinco Frações
de uma Quase História", "Batismo de Sangue"e "Depois daquele Baile" percebeu que havia um capricho a mais
naquelas produções de Guilherme Fiuza Zenha. Pois aquela qualidade adquire
agora um grau superlativo, com esta obra de puro encantamento.
É a adaptação de um romance autobiográfico de Fernando Sabino que faleceu há 10
anos, sobre a sua infância em Belo Horizonte por volta de 1938, época do levante
dos integralistas – que aliás aparece no personagem muito bem trabalhado de
Ricardo Blat. Assim como todo os interpretes, principalmente os infantis,
Mateus Solano está excelente como o pai. Mas quem brilha mesmo é o novo astro Lino
Facioli – que nasceu em Ribeirão Preto e, desde os 7 trabalha no cinema na
Inglaterra, onde já fez 7 filmes e 6 episódios da série "The Game of Thrones". O garoto é de fato um fenômeno em termos de
comunicabilidade e simpatia...
Guilherme Fiuza Zenha, o diretor de "O Menino no Espelho"
O roteiro consegue se fazer ao mesmo tempo fantástico e realista, educativo e
divertidíssimo, irreverente e filosófico ao abordar a inevitável dualidade das
crianças sempre em confronto com a sociedade dos adultos. Mas um dos pontos
altos de "O Menino no Espelho" é a direção de arte que nos permite viajar para o
Brasil, bem mais simples e tão belo, como era há 80 anos.
"Minha Mãe É uma Peça 2" traz Paulo Gustavo de volta aos cinemas
Nesta semana vivemos um acontecimento raro.
Trata-se do número 1000, agora aplicado à quantidade de salas de cinema em que
estreia um filme brasileiro. Você pode não acreditar, ou julgar que estamos
falando de uma reedição do fenômeno “10 Mandamentos”. Mas na verdade é uma nova
comédia de Paulo Gustavo, o grande nome atual do humorismo televisivo: “Minha
Mãe é uma Peça 2”
A equipe e o elenco são os mesmos, sempre girado em torno da protagonista, a
Dona Hermínia – livremente inspirada na própria mãe do cômico, que Paulo
Gustavo caracteriza principalmente por meio da voz. É um tom cortante e um
tanto rude, no mínimo firme e afirmativo.
Agora ela está financeiramente mais resolvida, porque passou a fazer um
programa de TV. Continua cheia de problemas com a família e falando no mesmo
tom. Mas isso é quase inevitável para os humoristas populares. Lembremos dos
astros do cinema no século passado como, por exemplo, Zé Trindade e Ronald
Golias. O fato é que o humorismo no cinema brasileiro descende diretamente do
rádio. É dessa mídia que migraram os comediantes mais famosos. Daí a
importância da voz.
Mas a maior aposta do cinema adulto e natalino é “Capitão Fantástico”,
protagonizado por Vigo Mortensen – esse nova-iorquino com pinta de dinamarquês,
que já fez mais de 30 filmes e, no entanto, prossegue mais conhecido como um dos
heróis de “O Senhor dos Anéis”.
Ele faz o papel de um pai de seis crianças, que se afasta da cidade e resolve criar
os filhos numa floresta, longe da escola e da civilização. O roteiro
constrói a sua história como uma metáfora da trajetória de Cristo. Ele é o
mestre de seus filhos que, na verdade, reluta em se tornar adulto.
"O Lamento", inquietante filme
de horror e suspense sul coreano, tem como diretor Hong-Jin Na, um
cineasta de prestígio no oriente. A história é sobre uma misteriosa epidemia
que vem matando os moradores de um vilarejo, na Coreia, é claro.
Da França, chega “O Que Está Por Vir”, que é como foi feita a tradução do
título original L'Avenir -que significa, simplesmente, “O Futuro”. Todavia, o
filme trata apenas sobre o presente. Ou seja, do cotidiano triste e desinteressante
da personagem interpretada por Isabelle Huppert. A direção é de Mia Hansen-Løve
que, aos 35 anos começou como assistente de Olivier Assayas e já fez dois
longas.
Isabelle Hupert desenvolve aqui uma personagem que é o oposto daquela criada
por Paul Verhoven para o filme “Elle”. Trata-se, provavelmente, de uma febre de
minimalismo que começa a tomar conta de alguns realizadores do cinema
francês...
Porém o espetáculo mais atraente e encantador da semana é um filme musical de
animação, "Sing - Quem Canta Seus Males Espanta". A proposta do diretor e roteirista inglês Garth Jennings é montar uma
história em que cantores e músicos são animais. Tudo gira em torno de um
concurso de canto patrocinado por um coala. A caracterização dos animais é tão
bem feita que ficamos na dúvida se eles são bichos mesmo ou se são gente como
a gente.
Na competição, uma menina porco espinho é roqueira, um gorila é um cantor
romântico, uma elefanta é a cantora pop e um rato mal caráter e ligado aos
gangsters tem uma voz sensacional – talvez numa alusão a Frank Sinatra. Com
humor, emoção e suspense servindo de tempero, o filme significa diversão mais
do que garantida.
Tony Gilroy, diretor de "Conduta de Risco" e "Duplicidade"
As pessoas estranham ao ver o nome de Tony Gilroy
como roteirista da aventura espacial “Rogue One - Uma História Star Wars”. Hoje de 60 anos, o novaiorquino vem consolidando a posição de um dos mais respeitados
cineastas da indústria desde o final dos anos 1990, quando surpreendeu o
mercado com o texto de “O Advogado do Diabo”, no qual criticava o sistema
jurídico norte americano. Ao longo da carreira, ele produziu 5 títulos, entre
os quais a prestigiada série “The House of Cards”. Escreveu 19 roteiros e dirigiu
apenas 4. Entre eles, “O Legado Bourne”, no qual formatou esse personagem que
protagonizou cinco filmes. Por isso é interessante rever os outros dois que ele
escreveu e dirigiu, ou seja, os seus trabalhos mais autorais. São eles “Conduta
de Risco”, de 2007, e “Duplicidade”, de 2009.
A
ideia para “Conduta de Risco” (trailer acima) deve ter surgido quando Gilroy pesquisava as
grandes firmas de advocacia para “O Advogado do Diabo”. Ele imaginou um
executivo que resolve se contrapor à própria empresa em que trabalha. Mais
ou menos como o personagem Bourne – o agente da CIA que se transforma em
inimigo n. 1 da instituição. Neste seu primeiro trabalho como diretor, ele mostra
a enrascada em que se envolve um advogado que era do bem, mesmo sem sabê-lo.
Assim como o herói de “Rede de Intrigas”, que Sidney Lumet fez em 1976, o
principal advogado de uma grande firma vivido por Tom Wilkinson enlouquece e
começa a revelar os podres de seu maior cliente. Mas o protagonista do
espetáculo é o personagem de George Clooney, seu colega e amigo que, por sua
vez, vive uma dolorosa crise pessoal. Até para tentar se manter vivo ele não
tem outra saída a não ser virar a mesa também. Como boa parte dos outros
trabalhos de Tony Gilroy, “Conduta de Risco” reedita a luta de Davi contra
Golias.
Já em
“Duplicidade” (trailer acima) ele traz Clive Owen e Julia Roberts, além de Paul Giamatti e Tom
Wilkinson. A trama até caberia na classificação de comédia de suspense, se não
puxasse mais pelo sarcasmo do que pela comicidade. E se não apresentasse uma
estrutura que joga com as expectativas que ela mesma vai oferecendo ao
espectador. O casal de protagonistas se conhece em campos opostos, um trabalhando
para a CIA e o outro para o serviço secreto britânico.
Anos depois se reencontram, agora empregados no ramo de espionagem industrial,
outra vez para patrões diferentes e que competem furiosamente entre si. O
prazer da trama é ser enganado e desenganado sucessivamente pelas reviravoltas
espiraladas com que Gilroy constrói o roteiro. Seu pano de fundo é guerra
quente travada pelas indústrias farmacêuticas e a reflexão de como o
futurologista italiano Roberto Vacca estava correto em seu livro “Il
Mediovo Prossimo Venturo” (A Idade Média do Futuro, lançado em 1971). Ele dizia que
a meta principal das grandes empresas seria a de se tornarem inexpugnáveis, assim
como os feudos medievais. Dois filmes para ver e rever: “Conduta de risco” e
“Duplicidade”.
Luis Gnecco vive o poeta revolucionário, Mercedes Moran interpreta sua amante
Em 2008, o cineasta
chileno Pablo Larraín se tornou conhecido com o filme “Tony Manero”, sobre um
psicopata que era obcecada por John Travolta. Em 2012, ficou famoso pelo
docudrama “No”, no qual reconstituía a batalha publicitária que envolveu o
plebiscito pelo fim do governo Pinochet. Em 2015 Larrain fez “O Clube”, sobre
uma casa de praia para a qual os padres pecadores eram exilados. Por este trabalho,
ele foi premiado nos festivais de Berlin, Havana, Lima, Chicago, Austin, Mar
del Plata e Montreal. Com essa coleção de prêmios, ele ganhou fôlego para fazer
“Neruda” que está em cartaz nos cinemas da cidade
A ação se inicia em 1948, quando o poeta e senador do Partido Comunista Pablo
Neruda se acha numa sessão do Senado chileno. Era uma situação semelhante ao
líder do Partido Comunista Brasileiro, Luis Carlos Prestes, que antes de ser cassado, foi
senador da República entre 1946 e 1948. Numa amostra do que seria o resto do
filme, Pablo Larraín situou primeira cena no banheiro do Senado. Quer dizer,
mais do que uma reflexão histórica sobre aquele episódio, a proposta é reunir
cenas de impacto envolvendo Pablo Neruda, um astro da poesia internacional, e o
mexicano Gael Garcia Bernal, um astro do cinema, no papel do policial que o
persegue.
Com exceção do clássico “O Carteiro e o Poeta” de 1994, o poeta agraciado com o
Prêmio Nobel em 197 1não tem a sorte com o cinema que de fato merecia. O filme
anterior sobre a sua biografia, feito por Manuel Basoalto em 2014, foi apenas
sofrível, porque submetia a ordem dramática da narrativa a um discurso que
Neruda fez no dia de sua posse como senador. Mas é possível que este trabalho
de Pablo Larraín seja ainda mais frustrante. Limita-se a uma perseguição, ou
seja, o policial interpretado por Gael Garcia correndo atrás de Neruda que
ingressara na clandestinidade e permanecia por certo tempo no país, se mudando
de um esconderijo para outro.
Gael García Bernal, que já viveu Che Guevara, agora é o tirano à caça dos comunistas
Nesse processo totalmente linear, quase não há conflito e o filme se ocupa em
levantar curiosidades sobre o protagonista – como por exemplo a sua vaidade e o
gosto pela bebida e pelas mulheres. Ou seja, o filme “Neruda” é um bom exemplo
de confusão entre a ação física e a ação dramática.
Fábio Porchat (esq.) e Leandro Soares (dir.) em cena do longa
Logo
nas primeiras imagens e diálogos do filme, já se escutam as primeiras
gargalhadas. Isso não determina, mas indica para a comédia “Tamo Junto”
que se inicia uma possibilidade de acerto. Os momentos seguintes mostram-se
ainda mais promissores. É quando os tipos principais do enredo começam a ser
apresentados: um rapaz simpático e boa pinta, mas incompetente por inteiro, e
seu amigo de infância. Esse então uma nulidade completa, que tem aquele garotão
como ídolo e modelo de virilidade. Não estamos falando da dupla Jerry Lewis e Dean Martin, mas de comediantes brasileiros da nova geração.
E essa
nova dupla é formada pelo digamos... “galã” Leandro Soares e pelo clow e também
diretor do filme Matheus Souza. Esse então é uma figura notável porque, além de
ser naturalmente engraçado, é capaz de elaborar um texto cômico e inteligente,
em especial por evitar clichês e lugares comuns. Aliás, a comparação com Jerry
Lewis não se aplica inteiramente, porque o humor de Matheus Souza é mais verbal
do que físico. Ele faz o tipo do sujeito inadequado ao mundo real: um nerd de
quase 30 anos que ainda guarda os videogames com os quais brincava na infância.
Em 2008 Matheus teve um sinal claro de reconhecimento, quando o seu trabalho “Apenas
o Fim” ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri popular no Festival do Rio. Ou
seja, teve a aprovação de um público bem volumoso. E em seguida, trabalhando
com Domingos de Oliveira em “BR 716”, recebeu do mestre um elogio igualmente de
peso. Para Domingos, Matheus é o melhor ator e autor de sua geração. A
propósito há vários elementos comuns entre “Tamo Junto” e o último filme de
Domingos, que é “BR 716”.
Matheus Souza, Alice Wegmann, Sophie Charlotte e Leandro Soares formam o elenco
Se nos anos de 1960, Domingos de Oliveira se valia do encanto de Leila Diniz,
Matheus investe na beleza e na comunicabilidade de Sophie Charlotte. Ao lado
dela, aliás, ele começou a carreira ainda muito jovem no Teatro Tablado. A
propósito, a atuação de Matheuz lembra um pouco a de Woody Allen, no começo da
carreira, e a de Paulo José, em clássicos como “Todas as Mulheres do Mundo”. Ambos
os filmes giram em torno do apartamento dos pais, em que os personagens
aprontam as peripécias que fazem o roteiro do filme. Em resumo: há esperança
para a comédia brasileira.
Viggo Mortensen (de amarelo) é o protagonista deste filme
Houve época em que o natal pautava diretamente a
programação dos cinemas. Mais precisamente, entre os anos de 1950 e 1970,
quando os adultos de hoje ainda eram jovens, sempre havia filmes natalinos em
cartaz.
Alguns títulos eram reprisados todos os anos, como o lacrimoso melodrama espanhol
“Marcelino Pão e Vinho”. Ou os épicos “Os 10 Mandamentos” (trailer acima) e “Ben Hur”. No
entanto, o maior interesse ficava com filmes sobre a vida de Cristo. “O Rei dos
Reis”, de Nicholas Ray, rivalizava com “A Maior História de Todos os Tempos”, de
George Stevens. O mais incrível é essa tradição continua, ainda que disfarçada em
roteiros de histórias recentes.
Por exemplo, no próximo dia 22, em estreia internacional, será lançado “Capitão Fantástico”, com Viggo Mortensen no centro do elenco, ele que foi um
dos heróis em “O Senhor dos Anéis”. Ambicioso, esse título teve destaque nos
festivais de Cannes e Sundance deste ano. Provavelmente não houve essa
intenção, mas ele funciona quase como uma parábola da trajetória de Jesus
Cristo. Viggo Mortensen interpreta um visionário que vive afastado do mundo
urbano, em companhia de seus 6 filhos. Na verdade seus discípulos, porque as
crianças não frequentam a escola e o pai lhes ensina tudo o que elas precisam
saber e que está contido na biblioteca de uma casinha no meio da floresta.
Num dos exageros de caracterização em que o filme às vezes escorrega, vemos que
ele não ensina apenas o conteúdo dos livros, mas faz de seus filhos especialistas
em Yoga e caçadores com treinamento militar. E todos são marxistas, oscilando
entre o trotskismo e o maoísmo. Todos menos um, que se encanta com as benesses
do capitalismo, na casa dos primos. E porque o roteiro precisava que um deles cumprisse
a função de Judas.
Ficção narra a história de uma família bem distante dos padrões
Apesar de todas as boas intenções, a realidade cobra o seu preço e o nosso
herói vai enfrentar a família do poderoso sogro. Esse é o papel de Frank Langella,
atuando aqui como um misto de Nixon e Poncius Pilatus. Este é o primeiro longa
dirigido pelo ator Math Ross, que, aliás,
já trabalhou em 44 filmes. Imitando um
parlamentar politiqueiro, ele tentou contentar todas as tribos da plateia, de
velhos hippies a novos republicanos. E assim, num esquema “self service” o
filme “Capitão Fantástico” nos oferece dois finais... Nenhum dos dois satisfatórios.
Para muita gente o lançamento mais importante da
semana, talvez de toda a temporada, seja “Rogue One - Uma História Star Wars”.
É a primeira produção da franquia com um elenco diferente da formação
original. O diretor é o jovem inglês Ben Mendelsohn, especialista em efeitos
visuais - até porque o forte do filme é a quantidade de criaturas alienígenas
atuando ao lado dos personagens centrais.
A principal figura da equipe, no entanto, é o grande roteirista Tony Gilroy - que inclusive desenvolveu a série de longas do agente Jason Bourne. Mas a sua
credencial mais importante é o drama político “Conduta de Risco” que ele fez em
2008 com George Clooney.
Sob o comando da inglesa Felicity Jones, que vimos em “A Teoria de Tudo”, os
guerreiros rebeldes planejam roubar os planos da Estrela da Morte para derrotar
a opressão do Império.
Para outro tipo de espectador, o filme preferido da semana pode ser “Sully - O
Herói do Rio Hudson”, dirigido pelo eterno caubói Clint Eastwood. Quem assume o
cargo de herói é Tom Hanks, no papel de um comandante que salva uma aeronave
pousando em pleno Rio Hudson.
O ato de heroísmo acontece logo nos começo do filme e até está no trailer. O
drama vem em seguida, com o julgamento do aviador pelas autoridades americanas.
Para aquela parcela mais politizada do público, temos o decepcionante “Neruda”
de Pablo Larraín, que recentemente lotou a sua prateleira de troféus com “O
Clube” e agora tem essa aventura vivida pelo poeta chileno indicada para
concorrer ao Golden Globe de filme estrangeiro. A narrativa não passa de uma
longa perseguição na qual o chefe de polícia vivido por Gael Garcia Bernal
tenta prender o poeta e senador comunista. Nada mais que isso.
Os cinéfilos mais renitentes talvez não deixem escapar esse drama familiar
romeno bastante elogiado que é "Sieranevada". É dirigido por Cristi Puiu, famosos
pela “Morte do Sr. Lazaresco” de 2005 e detentor de 35 prêmios internacionais – a
maioria deles na Europa oriental.
Com o lado positivo de escalar veteranos, como Norival Rizzo, Zecarlos Machado e
Imara Reis, Newton Canito que fazia series policiais de TV, agora lança uma
comédia chamada “Magal e os Formigas”. O astro é Sidney Nagal... É sem dúvida
uma curiosidade.
Quanto a mim não há dúvida que vou assistir novamente a melhor animação da
temporada e talvez do ano: “Sing- Quem Canta Seus Males
Espanta”. O diretor é o criativo inglês Garth Jennings que, em 2005, fez a ficção científica alternativa “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. O filme derruba qualquer baixo
astral e, mesmo em sua cópia dublada, as músicas estão mantidas em sua versão
original. O que é essencial porque o filme “Sing” é uma homenagem à canção
americana.
Isabelle Huppert é a protagonista do novo filme de Verhoeven
Chega aos cinemas mais um controvertido trabalho do
holandês Paul Verhoeven, muito procurado na recente 40ª Mostra internacional de
São Paulo. Há mais de 20 anos aquele cineasta lançava “Instinto Selvagem”, focalizando
uma figura feminina que impactou o publico da época pela agressividade sexual e
por conta de um componente de conotação maligna em sua personalidade. Sharon
Stone cruzava e descruzava as pernas, atribuindo assim uma marca gestual para a
sua personagem demoníaca. Aliás, muito menos ambígua e assustadora do que esta
Michele, interpretada por Isabelle Hupert. Na comparação com a francesa, aquela
mulher fatal americana mais parece uma santinha de colégio interno.
Com o desconcertante “Elle”, o cineasta holandês elaborou uma das maiores
sensações da 40ª Mostra. O filme não permite classificação, embora seja
geralmente rotulado como “de suspense”. No entanto, são tantas as risadas que
ele provoca que se encaixaria também como comédia, ou melhor, uma farsa de
humor negro. Um dos parâmetros trabalhados no roteiro é de fato o cinema de
Hitchcock, numa referencia mais clara pelo uso da trilha sonora e pela
ambientação predominantemente noturna. Mas uma breve reflexão sobre a
protagonista nos leva a concluir que estamos diante de um estudo sobre a
dualidade humana.
No que se refere à Michele, encarnada por Isabelle Hupert, nada é o que parece
ser. Ela é estuprada, dentro de casa, na primeira cena do filme e já surpreende
com a frieza de sua reação. Em vez de se queixar à polícia (o que é o mais devido), faz apenas um exame
de sangue para ver se foi contaminada. Mais tarde, se masturba ao espreitar um
jovem vizinho pela janela. E tem um caso com o marido da melhor amiga, ainda
que mantenha uma aparência diáfana e quase assexuada que, de fato, lembra as
loiras de Hitchcock. É generosa com a mãe e o filho, embora costume humilha-los
diante de todos. E assim por diante, essas oposições reunidas nessa mesma
personagem se sucedem, diversas vezes ao longo do filme. Até alcançar o supremo
e sintético paradoxo de uma pessoa que é, ao mesmo, tempo vítima e agressora.
"Elle" trata da dualidade humana em estilo de lembrar Hitchcock
Por meio desse estratagema ficcional, numa dramaturgia totalmente anti naturalista, a personagem
central do filme “Elle” consiste
numa construção abstrata que exprime os aspectos contraditórios do universo
feminino. Isto é, os arquétipos opostos de Eva e de Lilith.
Editor Geral Doutor em Cinema pela Unicamp. Crítico de cinema da Rádio Cultura FM, no programa CINEMA FALADO. Exerceu a crítica de cinema na Rádio USP, no Jornal da Tarde e na Folha de São Paulo. Dirigiu o Departamento de cinema da Rede Bandeirantes. Roteirista das minisséries "Avenida Paulista" e "Moinhos de Vento", bem como da novela "Champanhe" da Rede Globo.
Todos os textos aqui presentes no blog são de sua autoria.