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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Como está em cartaz Aquarius, revisitamos O Som ao Redor, filme anterior de Kleber M. Filho


A personagem de Irma Brown é confrontada pelos prédios e condomínios de Recife

Hoje vamos comentar o filme “O Som ao Redor”, exibido pela primeira vez entre nós em janeiro de 2013. É possível que essa revisão nos ajude a ver melhor “Aquarius”, a obra atual de Kleber Mendonça Filho que se acha em cartaz. 
Houve época em que os filmes brasileiros se dividiam em duas categorias: urbanos e rurais. De modo geral, aqueles ambientados no campo concentravam-se nas questões sociais, enquanto os situados em cidades privilegiavam os temas de cunho psicológico ou existencial. Essa fronteira, entretanto, vem sendo questionada pelo cinema pernambucano.Concretamente, na história do país, litoral e sertão representam duas faces da mesma moeda – inseparáveis em qualquer tentativa de compreender a nossa realidade.


Em “O Som ao Redor”, tudo acontece numa rua de Recife, onde os condomínios vêm tomando o lugar das casas. A cena se inicia num play-ground de prédio, enquanto a câmera passa para uma rua deserta. De repente, dois automóveis se chocam na esquina. Ou seja, o filme acontece num mundo em que as crianças vivem presas nos pátios dos edifícios.

O ator Gustavo Jham em cena do filme

Ao redor do quê esse som do título se manifesta? A resposta vem com o arrepio provocado pela chave de um vigia riscando a pintura do automóvel cujo dono lhe pagara para proteger. Com vemos, os ruídos não se resumem a acompanhar as falas e os gestos. Eles funcionam como as vozes dos objetos. Esse é o caso da máquina de lavar e do aspirador, com os quais uma das personagens costuma se relacionar fisicamente.

Por sua vez, os diálogos adquirem baixa definição. As pessoas quase sempre falam baixo, sem impostação e nem brilho. Isso, entretanto, não se aplica a dois personagens cujo discurso reproduz a aspereza do relacionamento arquetípico entre um coronel e seu jagunço. A partir desse antagonismo, o filme se desloca no tempo e no espaço, passando a trabalhar com elementos míticos da cultura brasileira. Um deles é o proprietário da maior parte dos imóveis da rua, enquanto o outro interpreta o chefe de uma firma de segurança que chega para tomar conta do lugar. Por meio dessas figuras tão comuns nas cidades modernas, até a derradeira cena do filme, aquele bairro praiano de Recife terá se transformado na sucursal de um antigo engenho sertanejo. Vale mesmo a pena ver e rever “O Som ao Redor”.

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