Injustamente, uma garotinha acusa de assédio sexual um adulto que, em seguida, tem a sua vida destroçada. Em
“A Caça”, o personagem é interpretado por Mads Mikkelsen, ganhador do prêmio de
melhor ator em Cannes com a atuação neste filme do dinamarquês Thomas
Vinterberg, indicado para a Palma de Ouro em 2012. O mesmo tema ocupa posição
central em “Desejo e Reparação”, do inglês Joe Wright, vencedor do BAFTA e do
Globo de Ouro em 2008. Naquele mesmo ano, “Dúvida” do americano John Patrick
Shanley abordava assunto semelhante e concorria a cinco Oscars. Na verdade, a
figura do inocente injustiçado aparece em muitos outros enredos de cinema. O
fato de Hitchcock ter usado a rotina do “innocent bystander” em dezenas de
roteiros comprova uma potencialidade dramática que remonta à base da cultura
judaico-cristã, na imagem do cordeiro de Deus.
O cinema de Thomas Vinterberg,
entretanto, permanece integrado a uma opção estética explicitada desde sua
participação no Dogma95, como um dos fundadores daquele movimento que recusava esquemas
cristalizados de dramaturgia, bem como qualquer forma de artificialismo. Em
“Festa de Família” (1998) que foi o primeiro sucesso de público obtido pelos
“monges cineastas”, ele já desnudava o mito da harmonia social na civilização
nórdica, ao revelar a podridão escondida na elite do país. Em “A Caça”, no lugar
de um vasto grupo de personagens, ele concentra o foco nos parcos habitantes de
uma vila do interior, como quem recorre a uma maquete para deixar mais claro
determinados aspectos de uma construção.
É que vemos também em o “Amante da Rainha”, outro projeto recente com o mesmo Mads
Mikkelsen: drama político e sentimental sobre o Reino da Dinamarca, tal como aquela
nação atravessou o período do despotismo esclarecido, na segunda metade do século
XVIII. Se acrescentarmos a estes títulos outros exemplos, como “Em um mundo
melhor”, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2011, poderemos concluir que o
cinema do país de Hamlet, em lugar da ideia do “bom selvagem” proposta por
Jean-Jacques Rousseau, optou pela metáfora do homem como “lobo do homem”, criada
pelo dramaturgo romano Plauto (século III A.C.) e popularizada pelo filósofo Thomas
Hobbes (século XVII).
A CAÇA
Jagten
Dinamarca, 2012, 115 min, 14 anos
estreia 22 03 2013
gênero drama/ social/ psicológico
Distribuição Califórnia Filmes
Direção Thomas Vinterberg
Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
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