Tony Gilroy, diretor de "Conduta de Risco" e "Duplicidade"
As pessoas estranham ao ver o nome de Tony Gilroy
como roteirista da aventura espacial “Rogue One - Uma História Star Wars”. Hoje de 60 anos, o novaiorquino vem consolidando a posição de um dos mais respeitados
cineastas da indústria desde o final dos anos 1990, quando surpreendeu o
mercado com o texto de “O Advogado do Diabo”, no qual criticava o sistema
jurídico norte americano. Ao longo da carreira, ele produziu 5 títulos, entre
os quais a prestigiada série “The House of Cards”. Escreveu 19 roteiros e dirigiu
apenas 4. Entre eles, “O Legado Bourne”, no qual formatou esse personagem que
protagonizou cinco filmes. Por isso é interessante rever os outros dois que ele
escreveu e dirigiu, ou seja, os seus trabalhos mais autorais. São eles “Conduta
de Risco”, de 2007, e “Duplicidade”, de 2009.
A
ideia para “Conduta de Risco” (trailer acima) deve ter surgido quando Gilroy pesquisava as
grandes firmas de advocacia para “O Advogado do Diabo”. Ele imaginou um
executivo que resolve se contrapor à própria empresa em que trabalha. Mais
ou menos como o personagem Bourne – o agente da CIA que se transforma em
inimigo n. 1 da instituição. Neste seu primeiro trabalho como diretor, ele mostra
a enrascada em que se envolve um advogado que era do bem, mesmo sem sabê-lo.
Assim como o herói de “Rede de Intrigas”, que Sidney Lumet fez em 1976, o
principal advogado de uma grande firma vivido por Tom Wilkinson enlouquece e
começa a revelar os podres de seu maior cliente. Mas o protagonista do
espetáculo é o personagem de George Clooney, seu colega e amigo que, por sua
vez, vive uma dolorosa crise pessoal. Até para tentar se manter vivo ele não
tem outra saída a não ser virar a mesa também. Como boa parte dos outros
trabalhos de Tony Gilroy, “Conduta de Risco” reedita a luta de Davi contra
Golias.
Já em
“Duplicidade” (trailer acima) ele traz Clive Owen e Julia Roberts, além de Paul Giamatti e Tom
Wilkinson. A trama até caberia na classificação de comédia de suspense, se não
puxasse mais pelo sarcasmo do que pela comicidade. E se não apresentasse uma
estrutura que joga com as expectativas que ela mesma vai oferecendo ao
espectador. O casal de protagonistas se conhece em campos opostos, um trabalhando
para a CIA e o outro para o serviço secreto britânico.
Anos depois se reencontram, agora empregados no ramo de espionagem industrial,
outra vez para patrões diferentes e que competem furiosamente entre si. O
prazer da trama é ser enganado e desenganado sucessivamente pelas reviravoltas
espiraladas com que Gilroy constrói o roteiro. Seu pano de fundo é guerra
quente travada pelas indústrias farmacêuticas e a reflexão de como o
futurologista italiano Roberto Vacca estava correto em seu livro “Il
Mediovo Prossimo Venturo” (A Idade Média do Futuro, lançado em 1971). Ele dizia que
a meta principal das grandes empresas seria a de se tornarem inexpugnáveis, assim
como os feudos medievais. Dois filmes para ver e rever: “Conduta de risco” e
“Duplicidade”.
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