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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

“E agora para onde vamos?” é título e desfecho deste filme em forma de farsa medieval


“E agora para onde vamos” é uma comédia filmada no Líbano, sobre um tema que não tem a menor graça. Ou seja, a atual inviabilidade da convivência de cristãos e muçulmanos: um hábito que já foi patrimônio cultural daquele país que agora parece estar constantemente à beira da Guerra Civil. A bela Nadine Labaki (“Caramelo”, 2007) que o dirige resolveu desenvolver uma farsa moral a partir de conflitos reais, como que para conjurá-los na tela de cinema transformada literalmente em quadro votivo. Parece um caso raro de filme-oração, um roteiro em forma ex-voto – objeto religioso que, no Brasil descende de práticas católicas medievais. A imagem inicial do filme (acima) já nos coloca numa atmosfera adornada com impostação de fábula, por meio de um balé alegórico: um cortejo de mulheres de preto num cemitério. Com essa encenação sóbria, talvez ingênua, somos apresentados a um povo de luto. 
Lembra a pintura naïf de um ex-voto de sacristia que exibe alguém enfermo, em perigo de vida. Essas pessoas formam toda a população feminina de uma minúscula aldeia, quase inacessível no topo de uma montanha, separada do mundo por uma ponte sobre a qual apenas uma lambreta pode passar. Metade dos habitantes do lugar é católica, metade é islâmica, mas o padre é amigo do imam, e os dois estão sempre apartando o choque entre as duas facções. Há aqui um clima que lembra as velhas comédias italianas de Don Camilo escritas por Giovanni Guareschi nos anos de 1950, em que a rivalidade milenar se revelava sob a forma de pequenas provocações mútuas, mas que poderia explodir a qualquer momento. Apesar de precária, portanto, reina a paz entre os moradores. 
Tanto, que a moça mais bonita do lugar (interpretada por Nadine Labaki - acima) está apaixonada e flertando discretamente com um dos rapazes do outro lado. Aliás, as mulheres de ambos os credos são solidárias e decidem sabotar os sinais de TV e de rádio quando ouvem notícias da cidade, sobre novas violências envolvendo os dois grupos. A comédia se beneficia pelo ridículo de algumas brincadeiras de mau gosto, como roubar os sapatos dos muçulmanos na mesquita ou colocar sangue de galinha na pia de água benta. 
Quando a tragédia toma conta do cenário, porém, elas aplicam o golpe final na agressividade masculina. E o fazem por meio da uma farsa que inventam e executam por falta de uma ideia melhor. Só que funciona, de fato, como um pedido de intervenção à Virgem Maria – cuja imagem chora por duas vezes no filme: uma fingida e outra de verdade. A diretora envereda pela encenação dentro da encenação, para terminar em círculo, do mesmo modo como começou e fazendo do título do filme o seu desfecho.
E AGORA AONDE VAMOS? 

Et Maintenant On Va Où?
Líbano, Egito, Ìtália, 2011, 110 min, 14 anos
estreia 16 11 2012
gênero comédia / política
Distribuição Vinny Filmes. 
Direção Nadine Labaki
Com Nadine Labaki, Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim 
C O T A Ç Ã O
* * * *
Ó T I M O

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Quem tiver oportunidade, assista.