“E agora para onde vamos” é uma comédia filmada no
Líbano, sobre um tema que não tem a menor graça. Ou seja, a atual inviabilidade
da convivência de cristãos e muçulmanos: um hábito que já foi patrimônio
cultural daquele país que agora parece estar constantemente à beira da Guerra
Civil. A bela Nadine Labaki (“Caramelo”, 2007) que o dirige resolveu
desenvolver uma farsa moral a partir de conflitos reais, como que para
conjurá-los na tela de cinema transformada literalmente em quadro votivo.
Parece um caso raro de filme-oração, um roteiro em forma ex-voto – objeto
religioso que, no Brasil descende de práticas católicas medievais. A imagem
inicial do filme (acima) já nos coloca numa atmosfera adornada com impostação de
fábula, por meio de um balé alegórico: um cortejo de mulheres de preto num
cemitério. Com essa encenação sóbria, talvez ingênua, somos apresentados a um
povo de luto.
Lembra a pintura naïf de
um ex-voto de sacristia que exibe
alguém enfermo, em perigo de vida. Essas pessoas formam toda a população
feminina de uma minúscula aldeia, quase inacessível no topo de uma montanha,
separada do mundo por uma ponte sobre a qual apenas uma lambreta pode passar.
Metade dos habitantes do lugar é católica, metade é islâmica, mas o padre é
amigo do imam, e os dois estão sempre apartando o choque entre as duas facções.
Há aqui um clima que lembra as velhas comédias italianas de Don Camilo escritas
por Giovanni Guareschi nos anos de 1950, em que a rivalidade milenar se
revelava sob a forma de pequenas provocações mútuas, mas que poderia explodir a
qualquer momento. Apesar de precária, portanto, reina a paz entre os moradores.
Tanto, que a moça mais bonita do lugar (interpretada por Nadine Labaki - acima) está
apaixonada e flertando discretamente com um dos rapazes do outro lado. Aliás,
as mulheres de ambos os credos são solidárias e decidem sabotar os sinais de TV
e de rádio quando ouvem notícias da cidade, sobre novas violências envolvendo
os dois grupos. A comédia se beneficia pelo ridículo de algumas brincadeiras de
mau gosto, como roubar os sapatos dos muçulmanos na mesquita ou colocar sangue
de galinha na pia de água benta.
Quando a tragédia toma conta do cenário,
porém, elas aplicam o golpe final na agressividade masculina. E o fazem por
meio da uma farsa que inventam e executam por falta de uma ideia melhor. Só que
funciona, de fato, como um pedido de intervenção à Virgem Maria – cuja imagem
chora por duas vezes no filme: uma fingida e outra de verdade. A diretora
envereda pela encenação dentro da encenação, para terminar em círculo, do mesmo
modo como começou e fazendo do título do filme o seu desfecho.
E AGORA AONDE VAMOS?
Et Maintenant On Va Où?
Líbano, Egito, Ìtália, 2011, 110 min, 14 anos
estreia 16 11 2012
gênero comédia / política
estreia 16 11 2012
gênero comédia / política
Distribuição Vinny Filmes.
Direção Nadine Labaki
Com Nadine Labaki, Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim
C O T A Ç Ã O
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Ó T I M O
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Ó T I M O
Um comentário:
Muito bom. Quem tiver oportunidade, assista.
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