Um tanto desprezado por boa parte dos críticos que o comentaram, “Hysteria” é
admirável, como filme de ficção histórica e como comédia de costumes. Embora dirigido
por Tanya Wexler, natural de Chicago com 42 anos de idade e irmã da atriz Daryl
Hannah, trata-se de uma produção inglesa, que segue um padrão clássico de
realização, pautada por uma linha de comicidade que busca a sofisticação da
ironia e evita a palhaçada. Uma direção de arte impecável nos coloca no ápice
da época vitoriana e é exatamente com aquele contexto moral e científico que a
equipe de roteiristas – cinco a todo – se dispõe a brincar. A partir de um personagem
curioso embora verdadeiro, toma-se com ele e seu ambiente todo o tipo de
liberdade ficcional que for possível. Não para distorcer a realidade histórica,
mas ao contrário, para torná-la inteligível.
Marca daquela época é o fato das
mulheres não terem direito a voto e serem excluídas do mundo acadêmico. A maior
parte de seus integrantes julgava não existir o orgasmo feminino e taxava de “histeria”
os indícios naturais da sua privação, por conta da moralidade reinante. Uma das
principais fontes de humor do filme é a impressionante ignorância dos homens
daquele tempo em relação ao organismo e à estrutura emocional do sexo oposto.
Quanto ao seu psiquismo, aliás, o próprio Freud que também viveu naquela quadra
do século XIX, confessava-se incapacitado para desvendar.
Alguns médicos
ingleses, porém, praticavam massagens manuais nas partes íntimas de suas clientes,
com a intenção de conduzi-las a um estado de efeito pacificador e calmante que
chamavam de “paroxismo”. Assim, o protagonista é o Dr. Mortimer Granville
(1833-1900) o inventor oficial do vibrador – máquina que, durante as primeiras
décadas do século XX, podia ser encomendada pelo catálogo da Sears e,
eventualmente, era também usada para combater dores musculares.
Outras figuras patéticas
compõe um quadro caricatural do universo masculino de então, por meio de grandes
intérpretes como Jonathan Pryce e Rupert Everett (acima) – este o melhor amigo do médico-inventor
(Hugh Dancy, “Rei Arthur” – 2004) e responsável por atribuir-lhe certa ambiguidade
sexual. Para fazer contraponto com esse personagem, o roteiro inventa uma
mulher avançada demais para o período (Maggie Gyllenhaal, “Batman – o cavaleiro
das trevas”, 2008) que ajuda no entendimento do absurdo social imposto aos
indivíduos (abaixo).
Assim como ela, a diretora se faz de recatada e comedida, mas nos
oferece ousadas cenas de sexo ao mostrar bem de perto mulheres gritando em pleno orgasmo,
ainda que pesadamente vestidas com aquele espesso vestuário tão ao gosto da
Rainha Vitória. Aliás, nem a soberana escapa ao implacável humorismo do filme. Pelo
que nele se vê, certamente Tanya Wexler jamais receberá a comenda de Dama da
Ordem do Império Britânico, como aconteceu com Judy Dench, Helen Mirren e outras artistas de
cinema.
HYSTERIA
Histeria
Reino Unido/ França/ Alemanha
2012, 100 min, 14 anos
estreia 09 11 2012
gênero comédia/ histórica
Direção Tanya Wexler
com Hugh Dancy, Maggie Gyllenhaal,
Jonathan Pryce e Rupert Everett
COTAÇÃO
* * *
BOM
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