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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"Os Intocáveis" pode marcar o reencontro do cinema francês com o grande público.


O milagre da simplicidade gerando sofisticação. É o que poderia explicar o encanto de “Os intocáveis” e decifrar um pouco o seu inesperado sucesso de público. Com apenas dois atores e uma única situação dramática, o filme de Eric Toledano e Oliver Nakache produz uma multiplicidade de efeitos, que variam do riso à reflexão, do suspense à empatia com os personagens. Estes resultam da observação direta do mundo real, mas levaram anos para serem construídos e ganharem forma no roteiro. A partir de uma notícia de jornal, os autores foram montando essa dupla de seres desiguais, obrigados a conviver em absoluta intimidade: por causa de um acidente, um aristocrata francês riquíssimo e intelectualmente refinado (François Cluzet) torna-se paraplégico e precisa contratar alguém que cuide dele em tempo integral. 
Na falta de um candidato mais adequado, o escolhido é um ex-presidiário senegalês meio arrogante e sem qualquer habilitação profissional para a tarefa (Omar Sy). Mas naturalmente expansivo e de fácil comunicação, tendo a franqueza como principal qualidade. Seria fácil imaginar que, na convivência, o rapaz adquirisse certo verniz cultural, numa rotina já vista em filmes como “Tarzan” ou “My Fair Lady”. Mas acontece justamente o oposto e o ranço passadista de certos hábitos da elite tornam-se evidentes no confronto com o gosto popular. 
É muito divertida a passagem em que o personagem de Omar Sy vai desmontando as peças clássicas que o patrão lhe apresenta, na tentativa de catequizá-lo para a música clássica. Para ele, Bach devia ter composto tanto, só para conquistar mulheres, enquanto Mozart lhe faz lembrar um desenho de Tom e Jerry. Diante da falta de cerimônia, as máscaras sociais acabam desabando e tudo fica mais fácil. Mas essa mágica só foi possível com o talento de dois grandes atores: Cluzet (“Até a eternidade” – 2010) e Omar Sy (“Micmacs – um plano complicado”, 2009).
É possível que a interpretação de que o filme tenha desenvolvido uma metáfora sobre o relacionamento da França com as suas antigas colônias esteja correta. Mas aí vale imaginar outra analogia, isto é, a de que o cinema francês esteja finalmente se libertando do peso há décadas exercido pela memória da nouvelle vague, com tudo o que ela teve de positivo e negativo.
INTOCÁVEIS 

Intouchables
França, 2011, 112 min, 14 anos
estreia 31 08 2012
gênero comédia / social 
Distribuição Califórnia Filmes
Direção Eric Toledano, Oliver Nakache
Com François Cluzet e Omar Sy
COTAÇÃO
* * * * 
ÓTIMO

Um comentário:

Enaldo Soares disse...

Depois de O Artista mais um filme francês que ser estadunidense.