Mathieu Kassovitz é uma das personalidades mais
ativas do atual cinema francês. Aos 45 anos, ele já trabalhou como ator em 35
filmes (foi protagonista em “O Fabuloso destino de Amelie Pulain” - 2001) e dirigiu
12. Entre os quais, títulos de ação como “Rios Vermelhos” (2000) e de temática
social, como “O Ódio” (1995). Agora ele nos oferece “A Rebelião”, um primoroso
docudrama escrito, dirigido e interpretado por ele mesmo. Aborda um acontecimento
especialmente polêmico da história política da França, ocorrido em 1988, na
Nova Caledônia – uma ilha da Melanésia francesa. Em abril daquele ano, um grupo
de separatistas tomou como reféns 27 soldados, nas imediações da cidade de Ouvea, capital da colônia. Nas altas
esferas do governo, passou-se a discutir se deveria haver uma negociação ou se
os rebeldes seriam eliminados sumariamente, como criminosos.
Reconstituir um
fato histórico recente é às vezes mais complicado do que trabalhar com uma data
mais remota, porque ainda não há aquele afastamento cronológico, depois do qual
as dúvidas e perplexidades costumam ser decantadas. O título original da obra é
L’ordre et La Morale, ou seja, “A
Ordem e a Moral” – já indicando o tipo de enfoque adotado pelo diretor para a descrição
e a análise daquele episódio. Com muita competência, aliás, ele interpreta o
papel central: um militar especializado em negociação, nos casos daquela
natureza, e que chegou a articular com seus contatos socialistas na presidência
da república para evitar a mortandade, que passaria para a história como “O
Massacre de Ouvea”.
O fato mais curioso e significativo é que, na ocasião, a presidência
da república experimentava o raro caso de “coabitação” num sistema democrático, isto é, o presidente era o
socialista François Mitterand, mas o primeiro ministro era o conservador
Jacques Chirac. Numa debate pela TV, que é incluído de modo estratégico na
narrativa, o esquerdista defende os revoltosos em seus motivos, enquanto o
direitista os classifica como selvagens e terroristas. Mas, para ver o que
realmente ocorreu e se escandalizar mais uma vez com o cinismo de determinados políticos, é
preciso ver “A Rebelião” que, a propósito, adota o estilo do suspense, evitando
as cansativas discussões ideológicas que poderiam prejudicar a fluência do
roteiro. Este filme é mais uma comprovação de que o cinema francês vive uma
nova era em sua trajetória.
A REBELIÃO
L’ordre et La Morale
estreia 31 08 2012
gênero docudrama / história /política/
França, 2011, 136 min, 14 anos.
Distribuição Imovision
Direção Mathieu Kassovtiz
Com Mathieu Kassovitz, Iabe Lapacas, Malik Zidi
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
Um comentário:
Este é um filme que me interessa mesmo ver.
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