Nas longas sessões do
45º Festival de Brasília, houve espaço para o confronto das diversas tendências
que se manifestam atualmente no cinema brasileiro. De modo geral e em polos por
vezes opostos, aparecem propostas comprometidas com algum tipo de engajamento
ideológico e outras, mesmo abordando problemas sociais, se destacam pelo seu
aspecto formal. Entre os curtas, a primeira postura é mais comum, liderada pelo
brasiliense “A ditadura da especulação” (acima), feito pelo coletivo Zé Furtado. Para
reforçar o seu efeito mobilizador, este filme-panfleto trouxe uma equipe de
dezenas de jovens e indígenas que ocupou o palco para protestar contra a
construção de um condomínio de luxo dentro e um parque que abriga uma
comunidade indígena. (abaixo)
Foi emocionante ver novamente a indignação nos rosto dos
estudantes. Entre os competidores de longa-metragem o vitorioso foi aquele
cinema que já foi chamado de poético, feito só de imagens e sons, e tão
narrativo quanto pode ser uma pintura abstrata, se situa “Otto” (abaixo), de Cao
Guimarães – quase um filme familiar que registra imagens referentes à gestação
de seu filho, não fosse ele o esteta que nos deu obras como “O Andarilho”
(2007). Enquanto os estudantes colocam na tela toda a sua ira cidadã registrada
por meio de filmagens precárias, feitas no sufoco do protesto com qualquer tipo
de câmara, incluindo celulares, Cao Guimarães se esmera em esculpir fotogramas
de cristalina beleza, para emoldurar a esposa e o filho recém-nascido,
provavelmente os seres por ele mais amados. É justamente essa exuberante
diversidade que agora marca o cinema brasileiro.
Os curtas de animação
mais interessantes do 45º Festival de Brasília chegam de São Paulo e Minas
Gerais, enquanto a maioria dos documentários de curta e longa metragem vem do
sul e sudoeste do país. Isso não quer dizer muita coisa, porque a elenco de
filmes selecionados sempre depende dos títulos disponíveis no momento da
seleção. De qualquer modo, os desenhos animados “Phantasma”, do mineiro Alessandro
Correia e “Linear” do paulista Amir Admoni, se revelam os melhores em
competição, mostrando estilos e técnicas completamente diversos. Enquanto
“Linear” parte para o stop-motion, numa vertente surrealista, ou seja, uma
fantasia apoiada na impressão de realidade, “Phantasma” nos oferece uma versão
a um só tempo caricatural, humorística e poética da tão conhecida história do
Fantasma da Ópera. Os jurados, porém, premiaram o mineiro “Valquíria” de Luis
Henrique Marques, um dos menos expressivos da competição.
Entre os
documentários longos, o melhor fica entre a paranaense iniciante Ana Johan, com
o seu adorável “Um filme para Dirceu” (Prêmio especial do júri) e “Olho nu”,
uma feérica cinebiografia de Ney Matogrosso, inteiramente desprezada pelo júri.
Sua produtora é Paloma Rocha e o diretor é o veterano Joel Pizzini (“500 Almas”
– 2004), nascido no Rio, mas também marcado por seu trabalho no Paraná. Neste filme
a montagem adquire especial importância, tanto que ficou a cargo de vários
profissionais liderados por Idê Lacreta e Ricardo Miranda, com a dura missão de
selecionar trechos a partir de uma coleção de 300 horas de material de arquivo.
Nos longas de ficção, duas gerações competiram pelo prêmio: Marcelo Lordello,
com o minimalista “Eles Voltam” (acima), e Marcelo Gomes, o celebrado criador de
“Cinema, Aspirinas e Urubus”, com o retrato sociológico “Era uma vez eu,
Verônica” (abaixo). No final, como uma espécie de consenso político bem ao gosto de determinados
parlamentares, as duas ganharam.
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