Encontre o que precisa buscando por aqui. Por exemplo: digite o título do filme que quer pesquisar

sábado, 29 de setembro de 2012

AQUI NÃO SE TOCA! -- em Brasília, o cinema já grita em idioma nativo.


Nas longas sessões do 45º Festival de Brasília, houve espaço para o confronto das diversas tendências que se manifestam atualmente no cinema brasileiro. De modo geral e em polos por vezes opostos, aparecem propostas comprometidas com algum tipo de engajamento ideológico e outras, mesmo abordando problemas sociais, se destacam pelo seu aspecto formal. Entre os curtas, a primeira postura é mais comum, liderada pelo brasiliense “A ditadura da especulação” (acima), feito pelo coletivo Zé Furtado. Para reforçar o seu efeito mobilizador, este filme-panfleto trouxe uma equipe de dezenas de jovens e indígenas que ocupou o palco para protestar contra a construção de um condomínio de luxo dentro e um parque que abriga uma comunidade indígena. (abaixo)
Foi emocionante ver novamente a indignação nos rosto dos estudantes. Entre os competidores de longa-metragem o vitorioso foi aquele cinema que já foi chamado de poético, feito só de imagens e sons, e tão narrativo quanto pode ser uma pintura abstrata, se situa “Otto” (abaixo), de Cao Guimarães – quase um filme familiar que registra imagens referentes à gestação de seu filho, não fosse ele o esteta que nos deu obras como “O Andarilho” (2007). Enquanto os estudantes colocam na tela toda a sua ira cidadã registrada por meio de filmagens precárias, feitas no sufoco do protesto com qualquer tipo de câmara, incluindo celulares, Cao Guimarães se esmera em esculpir fotogramas de cristalina beleza, para emoldurar a esposa e o filho recém-nascido, provavelmente os seres por ele mais amados. É justamente essa exuberante diversidade que agora marca o cinema brasileiro.
Os curtas de animação mais interessantes do 45º Festival de Brasília chegam de São Paulo e Minas Gerais, enquanto a maioria dos documentários de curta e longa metragem vem do sul e sudoeste do país. Isso não quer dizer muita coisa, porque a elenco de filmes selecionados sempre depende dos títulos disponíveis no momento da seleção. De qualquer modo, os desenhos animados “Phantasma”, do mineiro Alessandro Correia e “Linear” do paulista Amir Admoni, se revelam os melhores em competição, mostrando estilos e técnicas completamente diversos. Enquanto “Linear” parte para o stop-motion, numa vertente surrealista, ou seja, uma fantasia apoiada na impressão de realidade, “Phantasma” nos oferece uma versão a um só tempo caricatural, humorística e poética da tão conhecida história do Fantasma da Ópera. Os jurados, porém, premiaram o mineiro “Valquíria” de Luis Henrique Marques, um dos menos expressivos da competição. 

Entre os documentários longos, o melhor fica entre a paranaense iniciante Ana Johan, com o seu adorável “Um filme para Dirceu” (Prêmio especial do júri) e “Olho nu”, uma feérica cinebiografia de Ney Matogrosso, inteiramente desprezada pelo júri. Sua produtora é Paloma Rocha e o diretor é o veterano Joel Pizzini (“500 Almas” – 2004), nascido no Rio, mas também marcado por seu trabalho no Paraná. Neste filme a montagem adquire especial importância, tanto que ficou a cargo de vários profissionais liderados por Idê Lacreta e Ricardo Miranda, com a dura missão de selecionar trechos a partir de uma coleção de 300 horas de material de arquivo. Nos longas de ficção, duas gerações competiram pelo prêmio: Marcelo Lordello, com o minimalista “Eles Voltam” (acima), e Marcelo Gomes, o celebrado criador de “Cinema, Aspirinas e Urubus”, com o retrato sociológico “Era uma vez eu, Verônica” (abaixo). No final, como uma espécie de consenso político bem ao gosto de determinados parlamentares, as duas ganharam. 

Qual dessas imagens há de ficar como ícone desta edição do Festival? Esses dois rostos felizes de mulher, iluminando o caminho e dando um novo corpo para o cinema. Ou a santa indignação, inflamando novamente a alma da juventude, para fazer do cinema sua pintura de guerra, seu arco e sua flecha.

Nenhum comentário: