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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

De Brasília: mais um boletim sobre o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro


O Festival de Cinema de Brasília começou muito bem, com uma noite em que se manifestaram pelos menos 4 obras primorosas. O documentário curto “Câmara Escura”, do pernambucano Marcelo Pedroso; o curta de animação “Linear” do paulista Amir Admoni; os dois longas: “Um filme para Dirceu” da paranaense Ana Johann e o de ficção “Eles Voltam”, do pernambucano Marcelo Lordello. Todos revelam a elevação do nível artesanal, estilístico e cultural dos jovens realizadores brasileiros. “Câmara Escura” consiste numa ousada experimentação na qual o diretor solta a sua câmara no mundo, mais ou menos como alguém que abre a porta da gaiola para que o passarinho possa sair voando. Na verdade, procura colocar em prática uma das ambições essenciais do gênero, que é a criação de uma imagem do real produzida pela câmara de modo indicial, ou seja, sem interferência significativa de seu operador. No caso, a máquina seria manipulada pelas próprias pessoas escolhidas para aparecer diante dela. Já o curta paulista de animação é tecnicamente impressionante e o impacto que causa é inversamente proporcional à sua duração de apenas 6 minutos (acima). Imagine um ponto produzindo uma linha corporificada numa faixa de trânsito riscada sobre uma rua de São Paulo. 
A sequencia do festival promete trazer boas surpresas, como “Um filme para Dirceu”, documentário da paranaense Ana Johann. A linha do filme é a do documentário participativo, em que a realizadora se coloca como uma das personagens deste filme que tem como diretriz filmar o cotidiano de Dirceu Cieslinski, um jovem sanfoneiro dedicado à música sertaneja de raiz e que também se mostra um humorista nato (fotos abaixo e acima). O filme é recheado de passagens cômicas, principalmente nas cenas em que aparecem os amigos do personagem. A cineasta empregou três anos nesse projeto, acompanhando o rapaz que, de certa forma, ia colaborando com a captação dos recursos e direcionado as entrevista com muito humor. Um dado de curiosidade é que a diretora só aparece de costas para uma câmara de vigilância instalada em seu escritório, de onde conversa com o Dirceu por meio do Skype. Com isso ela faz piada com um dos conceitos mais marcantes do chamado cinema verdade que é o de que a câmara deveria permanecer, como uma mosca na parede, sem interferir em seu objeto. Aliás, este não é um filme sobre Dirceu, mas para ele, como diz o título. Porque o seu tema é, na verdade, o próprio filme. 
Neste ano, a maioria dos títulos em competição no 45º Festival de Brasília vem de Pernambuco. Um jornalista comentou que, se de fato esse festival for uma amostra no nosso cinema atual, poderíamos supor que o cinema brasileiro seja agora majoritariamente pernambucano. Nos últimos anos o cinema daquele estado tem sido marcado por filmes agitados e violentos, no trabalho de gente como Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Claudio Assis e Heitor Dahlia. Mas os novos realizadores estão nos oferecendo a alternativa de modalidades mais intimistas, com dramas mais interiorizados. É o caso do cativante do “Eles Voltam”, do recifense Marcelo Lordello. Um carro para numa estrada e dois irmãos, uma moça de 12 anos e um rapaz de 15, são deixados ali sozinhos. (foto abaixo)
As horas passam sem que os pais voltem para apanhá-los. O garoto se desespera e manda que a irmã o espere enquanto ele vai ao posto mais próximo. Nada acontece e ela passa a noite à beira da estrada. No dia seguinte um menino que passa de bicicleta a leva para a casa de sua família, dentro de um assentamento de “sem-terras” instalado na região. Assim se inicia a saga daquela menina de classe média alta que passa a experimentar coisas e conhecer pessoas que nunca tinha imaginado e que a transformariam por completo. O que mais impressiona no filme de Lordello (de costas abaixo) é a elegância e a discrição com que tudo é narrado, com uma coerência de estilo só vista em grande mestres do passado, como Antonioni, ou do presente como a argentina Lucrecia Martel. 
 

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