Jean Dujardin foi escolhido pelo sindicato dos artistas de cinema dos Estados Unidos como o melhor ator de 2011, por sua atuação em “O Artista”. Curioso é o fato de ele ser francês, assim como o próprio espetáculo, que se passa em Hollywood, no final da década de 1930 − época em que os filmes falados começavam a conquistar o espaço do cinema mudo, passando a substituí-lo na indústria cinematográfica. Inspirado no visual de Mandrake (herói de HQ criado por Lee Falk em 1934), seu personagem é um astro do cinema mudo que não se adapta às mudanças e que foi construído como uma alegoria, ou seja, a partir de traços de personalidade de diversas pessoas reais: um pouco de Errol Flyn, Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Fred Astaire e Rodolfo Valentino.
Uma personalidade inspirada nesses figurões só poderia desenvolver um ego especialmente hipertrofiado de modo que, por orgulho e excesso de confiança, não admite a queda e não aceita ajuda de ninguém. Nem da estrelinha vivida pela franco-argentina Berenice Bejo − competindo ao Oscar de atriz coadjuvante − que o ama em segredo enquanto se transforma numa celebridade dos talkies. O enredo se situa na transição do cinema mudo para o falado, compondo uma espécie de alegoria dos fatos e dos agentes históricos. Mais ou menos como fez Billy Wilder em "O Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Blvd - 1950)
Não se trata, portanto, de um ensaio didático sobre aquele período e sim de uma trama alegórica sobre a soberba e a vaidade. De modo semelhante ao seriado televisivo “O Brado Retumbante”, ao elaborar a alegoria de um presidente que tem um pouquinho de diversos indivíduos que de fato ocuparam a presidência, para fazer ficção com a ideia de um político para quem os fins não justificam os meios. É o que acontece também com praticamente todo o faroeste: a época está retratada em todos os exemplares do gênero − usos e costumes, roupas, armas etc. Mas, em lugar dos verdadeiros caubóis e pistoleiros do passado, temos somente alegorias em ação. O fato de “O Artista” ser mudo e em branco e preto é um destaque a mais para a atuação de Dujardin, a música de Ludovic Bource e a direção de Michel Hazanavicious − todos concorrendo ao Oscar, num total de 10 indicações.
É impressionante como a comédia se transmuta em drama e depois retorna ao veio original, garantindo uma narrativa absolutamente clara e rica em pormenores culturais, técnicos e psicológicos, mesmo com um mínimo de letreiros. Destaque para as passagens de interação do herói com o cachorrinho que é o seu principal parceiro e para a cena em que Berenice Bejo contracena com a roupa de seu amado. “O Artista” é uma prova de que Chaplin estaca correto quando ponderou que a estética do filme mudo ainda não tinha esgotado todas as suas possibilidades, quando foi interrompida em sua evolução pelo advento do som. E assim como o fez o personagem, produziu “Luzes da Cidade” e “Tempos Modernos”, em plena era do cinema falado. A surpresa maior de todas, entretanto, é o próprio diretor Hazanavicious que, antes desta experiência notável, fizera com o próprio Dujardin os sofríveis filmes do “Agente 117”, uma paródia infeliz de James Bond.
2 comentários:
ACREDITO NESSE FILME DESDE QUE VI O TRAILER PELA PRIMEIRA VEZ!
O chato para quem vive no interior, como eu, é ter que esperar pelo Oscar para poder assisti-lo.
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