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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

“Melancolia”, de Lars Von Trier é uma prova de que o cinema ainda vive e se transforma

Hoje em dia os filmes de horror viraram piada, porque nada se compara com o sangue que brota todo o dia nas manchetes de jornal. Dráculas e outros monstros se transferiram para títulos românticos consumidos por adolescentes. O suspense também perdeu o interesse porque todo o mundo sabe que, no final, tudo dá certo. Mas o cinema ainda guarda a capacidade de emocionar as platéias. O problema é o tipo de emoção que os filmes despertam, algumas bem mais sutis do que outras. Digo isso a propósito de “Melancolia”, o filme mais triste dos últimos tempos que, misteriosamente, foi maculado no seu lançamento em Cannes pelo próprio diretor Lars Von Trier. O blues, a voz de Billie Holiday, os poemas de Byron induzem a esse sentimento cujo nome está no títuki do filme, intangível porque não se explica e incurável porque não tem origem conhecida.
O impacto, literalmente falando, já se antecipa logo na seqüência de abertura, com impressionantes painéis pictóricos fotografados em câmara lenta e os plangentes acordes do prelúdio de Wagner em “Tristão e Isolda”. Aliás, esse é praticamente o único tema musical do filme a se repetir a cada aproximação do final anunciado, fazendo crescer a aflição do público e de alguns personagens. Há um parentesco entre este e outro filme dinamarquês do conterrâneo fundador do movimento do "dogma", Thomas Vinterberg, que é “Festa de Família” (1998). Porque tudo se passa durante a festa de casamento da protagonista interpretada por Kirsten Dunst, com justiça premiada em Cannes como melhor atriz. Aliás, é a segunda artista a quem o diretor abre o caminho para o mesmo prêmio em dois anos. A outra é Charlotte Gainsbourg, que trabalhou em “Anticristo” (2009) e que também está no elenco de “Melancolia”, junto com intérpretes de primeira linha, como Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling e Stellan Skarsgard.
Todos estão reunidos para festejar o casamento que se inicia alegremente, mas aos poucos a noiva é atacada por aquele mal de que falamos e passa a arruinar a festa passo a passo, até que o enlace é cancelado. Tudo isso é mostrado de modo ágil, com a câmara na mão, menos nos momentos em que a personagem se relaciona com as estrelas e nota o brilho de uma delas em especial. Trata-se de um planeta que vem se aproximando da Terra e que, segundo os astrônomos, deverá passar ao largo, ainda que na internet as postagens mais numerosas anunciem o fim do mundo. A nós só resta compartilhar com eles essa dúvida e as maneiras como cada um reagem a ela. É de fato uma narrativa simples, mas que possibilita diversas leituras. Alguns mencionam uma reinterpretação do mito medieval de Tristão e Isolda, em que o amor se realiza só (ou até) na morte. Outros falam em metáfora das experiências de perda que, por todo o mundo, vêm superando as de crescimento e conquista. E há os que identificam aí aquela mesma premonição de abismo, aquele sabor de amargura sugerido pela certeza de tudo está sempre por um fio.



MELANCOLIA
Melancholia
Franca/ Alemanha, 2011, 136 min, 14 anos
estreia 05 08 2011
gênero drama / fantasia
Distribuição: California Filmes
Direção: Lars Von Trier
Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

5 comentários:

Enaldo Soares disse...

Fiquei vivamente interessado no filme, embora todo cuidado com Lars von Trier é pouco

Nelson L. Rodrigues disse...

Depois de anticristo, tudo é possível com Lars.

Parabéns pelo site.

Luciano Ramos disse...

Obrigado amigos. Assistam e depois digam se estava errado...

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Luciano, que filme sensacional, não? Olha, tô circulando sua crítica no Facebook. Aliás, você está por lá?

Bjs
Dani

Anônimo disse...

Depois de assistir,tomei um bom vinho e fui tentar dormir.Adorei!!