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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Palma de Ouro em Cannes, "A Árvore da Vida" leva um drama familiar à origem do universo

A árvore da vida tem traços comuns ao excelente Foi apenas um sonho (2008). Por meio de uma tragédia familiar se abatendo em meados dos anos de 1950, sobre um casal de classe média, Sam Mendes flagrava o nascimento de uma cultura, que é norte-americana e em larga medida universal. Um modo de viver e pensar o mundo que se formou a partir do pós-guerra, sustentado por um sistema econômico que só agora entra em crise e que se propagou de modo amplo – principalmente por intermédio do cinema, da indústria fonográfica e da televisão. Mas, enquanto Sam Mendes dissecava aquele contexto utilizando a dramaturgia tradicional, Terrence Malick rompe com a forma costumeira de filmar uma trama e constrói um sistema narrativo bastante original, provavelmente em busca de uma retórica mais expressiva e impressionante.
Em primeiro lugar, reduz a história que se resume no conflito entre pai (Brad Pitt) e filho (Sean Penn, quando adulto) à sua formulação mais simples. Apesar da participação da mãe e do irmão – com quem nutria uma relação de amor e ódio – é nessa dualidade que ele concentra a fissura principal daquele mundo.
Em seguida, extrapola esse cenário para o universo inteiro e para outras eras do passado, ou talvez do futuro. Há, por exemplo, imagens de planetas explodindo e de um dinossauro perdido na amplidão de um pântano. Evitando recorrer à computação gráfica atual, Malick trabalhou com o veterano Douglas Trumbull (1042), que cuidou dos efeitos especiais de 2001 – uma odisséia no espaço (1968) e Blade Runner (1982).
Finalmente, percebe-se que a dicotomia pai/filho abrange o universo inteiro e o discurso de Malick passa a abarcar o próprio binômio criador/criatura. No prólogo do filme, ouve-se um versículo bíblico do livro de Jó que remete ao drama da criação. Isso atribui um determinado sentido aos personagens de Brad Pitt e Sean Penn, cujo nome é o mesmo – Jack O’Brien, com as iniciais formando JOB (Jó, em inglês). Nos diálogos, além dessas referências veladas e principalmente nas falas da mãe (Jessica Chastain) são inúmeras as menções à divindade. Ao morrer o seu filho mais novo de 19 anos, o padre afirma que “agora ele está nas mãos de Deus”. Ao que ela questiona: “mas ele não estava lá o tempo todo? E ensina os filhos: “há dois caminhos na vida, o da natureza e o da graça; a natureza só deseja satisfazer a si mesma e promove a infelicidade, enquanto o amor sorri em todas as coisas”.
Quando regressa com a câmera ao plano da família, Malick se recusa a mostrar as situações de modo corriqueiro e filma, em ângulos inusitados, gestos e atitudes dos personagens que seriam desprezadas na edição da maioria dos filmes já vistos. O filme tem sido qualificado de pretensioso porque procura ampliar ao extremo um simples drama familiar, relacionando-ao com cenas que se referem à origem do universo e ao espaço sideral. Mas não há como negar a beleza, a exuberância e o poder sugestivo dessas imagens que devem ter contribuído para que o filme fosse o ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano.

A ÁRVORE DA VIDA
Tree of Life
EUA, 2011, 138 min, 10 anos
estreia 12 08 2011

gênero drama / família / religião
Distribuição Imagem filmes
Direção Terrence Malick
Com Sean Penn, Brad Pitt,Jessica Chastain
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

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