O diretor Marco Bellocchio (foto) é também homenageado esse ano no evento
Entre os filmes cultuados no vasto
repertório da 40ª Mostra se destaca “Belos Sonhos”, do italiano Marco Bellochio. Sua
chegada ao Brasil para se envolver direto nas atividades do evento, com
entrevistas, palestras e máster classes, estava prevista já para o evento de
abertura na última quarta-feira. Mas ele não pode viajar e mandou um bilhete
pedindo desculpas ao público paulista. E nesse recado ele dizia que tinha
conhecido o cinema brasileiro por meio de três cineastas que conhecera na
escola chamada "Centro Experimental de Cinematografia". Eram eles
Gustavo Dahl, Paulo Cesar Saraceni e Glauber Rocha. Todos eles há muito tempo
falecidos. Isso mostra que o conhecimento de Bellochio sobre o Brasil e o seu
cinema se acha bastante defasado.
Outra evidência, por outro
lado, é que o próprio cinema de Bellochio se encontra historicamente datado, de
modo que poderia ser considerado acadêmico ou tradicional. Sendo ele um artista
de 77 anos de idade, se movimentando em uma indústria que começa a receber os
seus novos realizadores mal eles saem das universidades, ou antes mesmo desse
fato. Aliás, este “Belos Sonhos”, assim como “Vincere”, o seu lançamento anterior no Brasil, é um filme biográfico
e também de época – o que fornece mais uma pista sobre as preferências estéticas
e temáticas do cineasta que já dirigiu 46 títulos, desde a sua estreia em 1961.
Guardadas as devidas
diferenças, seu filme anterior era “Vincere” (ou seja, “Vencer”) - a biografia
de um jornalista, assim como o mais recente. Só que este se baseia na
trajetória emocional do bestseller "Máximo Gramellini", enquanto “Vincere” consiste
na história do ditador Benito Mussolini. Os pontos em comum entre os dois se
resumem à técnica narrativa, com predomínio de tomadas curtas, uma luz de meios
tons tendendo para o granulado, e um tratamento de som que atribui uma
tonalidade metálica para as vozes.
Cena do longa "Belos Sonhos"
Forçando um pouco no
comparativo, poderíamos notar uma mesma fixação materna nos dois protagonistas.
Explico enquanto a mãe de Máximo morreu cedo demais e se fez inesquecível, a
pátria mãe italiana de Mussolini se rendeu por completo à política do ditador.
Não há dúvida de que o filme anterior é melhor que este mais recente, mas
“Belos Sonhos” impressiona como retrato de época. Derrapa, aqui e ali, num
sentimentalismo piegas e açucarado apresenta uma portentosa produção.
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