Como sabemos, “360” é a adaptação de um texto
teatral do austríaco Athur Schnitzler (1862-1931) que, em 1950, já tinha sido
filmado por Max Ophuls (1902-1957), como o nome de “La Ronde”. Era um enredo que
não tinha um único núcleo dramático, mas uma série deles, que se transferiam de
um personagem para outro, todos ligados factualmente entre si, até que o último
coincidisse com o primeiro, como que fechando um círculo. O autor se inspirou
numa rua circular de Viena que, por sinal, é o lugar em que o filme de Fernando
Meirelles se encerra. A peça, portanto, não obedecia a tradição da dramaturgia
clássica, em que o conflito central do espetáculo era individualizado na figura
de um protagonista. Essa linha foi incorporada em sua essência pelo cinema
ocidental, principalmente o americano.
Curiosamente essa mesma estrutura foi recentemente
adotada em “Até a eternidade” (Les Petits Mouchoirs – 2010) lançado em julho
passado. Dirigido e escrito por Guillaume Canet, o roteiro, no entanto, segue outra
regra do teatro clássico que é a da unidade espacial. Isto é, coloca uma dúzia
de personagens numa casa de praia, aonde os conflitos também vão passando de um
para outro, até que o acaso resolve tudo na cena final, em que todos se abraçam
numa roda selada pelos diversos afetos que os aproximam. Em “360”, porém, além
de o conflito central ser coletivizado, a regra clássica da unidade espacial também
não é respeitada, ou seja, a história salta de Viena para Paris, Londres,
Bratislava, Rio de Janeiro, Denver e Phoenix, para voltar a Viena.
No entanto,
a convenção da unidade temporal é obedecida, sem qualquer flashback, numa
narrativa que se acelera a cada instante, privilegiando momentos de suspense,
construídos por Meirelles de modo especialmente hábil. Principalmente a sequencia
que envolvia a atriz Maria Flor e os atores Bem Foster e Antony Hopkins. Essas
passagens assustadoras foram as mais comentadas dentre tudo o que se escreveu a
respeito do filme, talvez porque tenham sido as que individualizam a emoção. Ou
seja, o público tende a se interessar mais pelos personagens que correm perigo
de vida ou se que encontram em situações extremas. De fato, a trama se esgarça
e a dramaticidade do todo se dilui entre as partes. De resto, “360” é um belo
trabalho de atores, montagem e direção que merece ser visto.
“360”
Reino Unido/Áustria/França/Brasil, 2012, 115 min, 16 anos.
estreia 17 08 2012
gênero drama / suspense / romance
Distribuição Paris Filmes
Direção Fernando Meirelles
Com Maria Flor, Juliano Cazarré, Ben Foster, Moritz Bleibtreu,
Rachel Weizs, Anthony Hopkins e Jude Law
COTAÇÃO
* * *
BOM
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BOM
2 comentários:
Muito interessante o seu blog, Luciano. Vou passar a frequentá-lo antes de comprar entradas.
Será um prazer poder ajudar em suas escolhas.
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