Em 2005 com “Os dois Filhos de Francisco” o diretor
Breno Silveira provou ser possível fazer no Brasil um cinema ao mesmo tempo popular
e de qualidade, ou seja, isento de apelação ou grosserias caricaturais, buscando
a sobriedade expressiva e a elegância formal e, mesmo assim, alcançar o grande
público. Esse caminho estava aberto desde 1980 por Nelson Pereira dos Santos
com “A Estrada da Vida”, em que focalizava a saga da dupla sertaneja Milionário
e José Rico. Agora Silveira lança “A beira do Caminho”, um melodrama minimalista
inspirado em canções de Roberto Carlos, focalizando gente simples, mas capaz de
grandeza nos gestos e de sentimentos delicados. Dira Paes e o menino Vinícius
Nascimento (que brilharam em “Ó paí ó” – 2007) bem como a fotografia de Lula
Carvalho funcionam como sustentação perfeita para o drama. O ator baiano João
Miguel faz um caminhoneiro amargurado por uma mágoa que de início não sabemos
qual seja e que se manifesta quando um garoto de nove anos entra
clandestinamente em seu caminhão.
Conforme a gramática do gênero, a rejeição a
princípio inevitável vai se transformando em amizade, ao mesmo tempo em que
recebemos mais informações quanto à desgraça que aflige o protagonista. Elas
chegam em doses diminutas, numa louvável economia de diálogos e flashbacks. Junto
com a música que escorre pela narrativa, assim como os rios ao lado dos quais o
motorista costuma acampar ao longo da viagem, o filme propõe uma simbologia de
superação da dor por meio da explicitação dos afetos. Mas sempre com um mínimo
de explicações verbais e raríssima exacerbação emocional. Trata-se aqui da
questão da paternidade – condição que, às vezes, as pessoas não podem assumir –
mas também um papel que é possível desempenhar, mesmo sem querer.
Tanto é assim
que, sabiamente, o filme foi lançado às vésperas do dia dos pais. Na tradição do
cinema brasileiro anterior aos anos 1950, os filmes de maior sucesso eram aqueles
que associavam drama e música popular. Tanto que, até hoje, “O ébrio” baseado
numa canção “dor de cotovelo” de Vicente Celestino é citado como o campeão de
bilheteria de todos os tempos. Este trabalho de Breno Silveira a partir do
imaginário de Roberto e Erasmo Carlos é um sinal aceso para os cineastas que ainda
não descobriram esse manancial de histórias e personagens que povoam a MPB.
Na
derradeira sequencia do filme, há uma cena em que a câmara está posicionada na
cabine do caminhão, mostrando o caminhoneiro e seu carona a conversar na
calçada. É como se fosse a imagem de uma câmara subjetiva, destinada a
entronizar o veículo como um terceiro personagem que, afinal, acompanhara em
silêncio a viagem desde o seu início e o tempo todo. Este é um caso exemplar de
merchandising sutil e eficiente, porque a produção é parcialmente financiada
pela Volvo.
A
BEIRA DO CAMINHO
Brasil, 2011, 102 min, 14 anos.
estreia 10 08 2012
gênero drama / social / melodrama
Distribuição: Fox Filmes
Direção Breno Silveira
Com João Miguel, Vinicius Nascimento, Dira Paes
COTAÇÃO
*
* * *
ÓTIMO
Nenhum comentário:
Postar um comentário