Em “O ditador”, Sacha Baron Cohen modifica o estilo
de comédia que vinha oferecendo em filmes anteriores como “Borat” (2006) e “Bruno”
(2009), ou seja, a linha do falso documentário, em que pessoas comuns e inocentes,
quase sempre amadores, eram atraídas para contracenar com ele em centenas de
pegadinhas de mau gosto. Desta vez ele faz piada com a figura do déspota General
Aladeen, um ditador atual que representa uma paródia-síntese de personagens
reais, numa mistura em que prevalece o estilo truculento e cruel de Idi Amim, Kadafi
e Assad, temperada por uma barba tipo Bin Laden. Apesar da grossura geralmente escatológica
da maioria das gags, o filme é de fato engraçado, principalmente pelo cuidado
com que ele constrói a sua criatura, mais ou menos como Chico Anísio fazia com
seus personagens. Ou seja, dotando-lhes de uma palpável credibilidade que vinha
da coerência entre os diversos elementos com os quais eram elaborados: o
gestual, a voz, o sotaque e a maneira de se expressar, por exemplo, tinham tudo
a ver com o seu modo de agir, de andar e de se vestir.
Mesmo quando o pomposo Aladeen
se achava despido daquele uniforme branco e ridículo com o qual Sacha tentou assistir
a última cerimônia do Oscar. Na ocasião, aliás, ele foi barrado, porque a Academia
concluiu (com razão) que aquela atitude seria uma ação promocional para o filme.
Além disso, ele decidiu contratar intérpretes profissionais, investindo assim no
desenvolvimento de “escadas”, isto é, de personagens auxiliares, ou
coadjuvantes, que lhe servem de contraponto -- como um físico nuclear (Jason
Mantzoukas), uma ativista ecológica (Anna Faris) e um tio (Ben Kingsley) que planeja
tomar o poder e instaurar uma “democracia, corrupta como as ocidentais”. Apesar
de também desenhar a caricatura de um tirano, o filme tem pouco a ver com seu quase
homônimo (O Grande ditador - 1940), obra de Charles Chaplin. Mas, ambos incluem
em sua parte final um discurso calcado na lógica do absurdo.
Enquanto o de Chaplin
elaborava uma língua esdrúxula, o de Sacha injeta uma alta dose de ironia,
voltando a mira de seu canhão satírico para o sistema americano, ao fazer a
defesa de seu próprio regime antidemocrático: “Imaginem se a América fosse uma
ditadura... Vocês poderiam ignorar as necessidades dos pobres em termos de
educação e saúde. Poderiam grampear telefones... Torturar prisioneiros
estrangeiros. Ou mesmo mentir para justificar uma guerra. Encher as prisões de
um grupo racial em particular que ninguém iria reclamar. Ou usar a mídia para
assustar a população até que ela apoie políticas contrárias a seus próprios
interesses”. A comicidade de Sacha pode não ser elegante como a de Tati, nem
refinada como a de Chaplin, mas, certamente também não é boba.
O DITADOR
The Dictator
EUA, 2012, 94 min, 14 anos.
estreia 24 08 2012
gênero comédia / política
Distribuição Paramount Pictures
Direção Larry Charles
Com Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley
COTAÇÃO
***
BOM
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