Mas essa questão extra-cinematográfica de terminologia, aponta justamente para o esquema ficcional criado para atribuir plausibilidade à trama e, assim, incluí-la no gênero chamado de ficção científica. Dele fazem parte histórias que não apenas tratam de temas ligados à ciência, mas que também apresentem alguma possibilidade – apoiada em conceitos científicos – de acontecerem de fato no mundo real. A ficção científica também se dedica a imaginar mundos que, apesar de diferentes, sejam representações deste em que vivemos. Nesse sentido se aproxima das fábulas de Esopo e La Fontaine, que já escreviam contos em que animais exibiam características humanas em seu comportamento.
Os símios são, na realidade, os primatas fisiologicamente mais próximos aos humanos. E, provavelmente, os melhores candidatos a sofrerem uma mutação que os permita desenvolver cultura. Por isso, é aceitável para o público de cinema que um símio aprenda a se comportar como um ser humano e a incorporar todas as suas contradições como, por exemplo, a capacidade amar e de odiar, ou o dom de viver em sociedade e, no entanto, desenvolver conflitos de classe, raça e religião. Quando neste filme, Cesar − o primeiro chimpanzé adquire uma inteligência equivalente à humana − não deixa de ser visto e tratado como um animal. De fato, as normas culturais aprendidas com a linguagem não anulam, mas se somam ao seu instinto natural. E por isso se revolta furiosamente contra aqueles que o protegem e alimentam, mas que também o prendem com coleiras, escondem-no no sótão, e o obrigam a viajar no bagageiro do automóvel.
Uma das cenas mais carregadas de significado mostra a primeira vez que Cesar se defronta com um cão preso a uma coleira. O pastor alemão não para de latir para ele, tentando intimidá-lo, como faria com qualquer bicho. Mas, após alguns instantes de surpresa, Cesar toma uma decisão, faz uma careta e solta um rugido que leva o cachorro a colocar o rabo entre as pernas assustado. Do mesmo modo como faria um ator, ele tinha interpretado o personagem de macaco raivoso, revelando-se capaz de desempenhar outros papéis sociais e até de constituir uma nova sociedade.
Acidentalmente, portanto, um gênero meramente literário se defronta neste filme com um gênero biológico. Um se refere à ciência e o outro à ficção. Um tem força de lei natural, outro não passa de convenção, arbitrária e mutável como todas as criações humanas. Entre elas, a própria tecnologia que recentemente permitiu a geração de seres vivos transgênicos ou que teria dado origem a uma epidemia mundial, tal como vemos atualmente com a AIDS que, aliás, aparece metaforizada no encerramento e na "coda" que é inserida após o inicio dos letreiros finais.
Em termos de espetáculo, “O Planeta dos macacos – a origem” pode também ser considerado transgênico porque realiza a integração final entre duas linguagens: o cinema e a computação gráfica. O filme mostra o começo de tudo o que já vimos nos demais exemplares da série, quando o primeiro símio inteligente é criado em laboratório, educado por uma família humana (como um Tarzan às avessas) e, em seguida, se revolta para liderar sua espécie no enfrentamento aos humanos. Diferentemente dos seis episódios anteriores da série, o herói antropóide e seus companheiros não são interpretados por atores vestindo máscaras simiescas, mas a produção usa a técnica chamada “captura de performance”, em que a figura do ator depois de filmada é trabalhada digitalmente. Esse recurso já foi usado antes, em filmes como “Avatar”, “King Kong” e “Senhor dos Anéis”. Mas esta foi a primeira vez em que se realizou a captura no mesmo set de filmagem, junto com os demais atores.
A par dessa novidade tecnológica que nos coloca no meio da ação, o filme se destaca pela qualidade do roteiro que nos leva a acompanhar os acontecimentos pelo ponto de vista dos primatas. James Franco está bem em seu papel de cientista que luta contra o mal de Alzheimer e provoca toda essa alteração num chipanzé cuja mãe lhe servira de cobaia em seu laboratório antes de morrer. Adota-o como filho e, mais tarde, quando ele se recusa a voltar pra casa, não vemos duas espécies, mas duas gerações em conflito. Porém, o que impressiona mesmo é a sofisticada atuação do inglês Andy Serkis, que já fez o papel de King Kong (2005) e que só tem o gestual e a expressão dos olhos para construir um personagem tão complexo.
5 comentários:
Ao contrário do anterior de Tim Burton, este filme com Cesar "Gollum" parece que é da hora.
Parece ser bacana mesmo.
http://cinelupinha.blogspot.com/
LUCIANO,finalmente um blockbuster com conteúdo depois de x-men naõ havia mais um cinema de entretenimento que valesse o ingresso , porque vc naõ falou do super 8 outra jóia do cinema recente.
Vou falar do Super 8, sim.
eu assistir e é otimo mesmo vale a pena..
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