Por conta de seu estilo abertamente fantasioso, como
um conto de fadas repleto de computação gráfica, pode não parecer, mas “47
Ronins” é também um filme histórico, porque se refere a um episódio que
realmente ocorreu no Japão, no ano de 1701, e que o povo daquele país comemora
todo o dia 14 de dezembro – data, aliás, em que o filme dirigido pelo novato
Carl Rinch foi lançado por lá. Todo o ano, milhares de pessoas visitam o
cemitério de Sengakuji, onde aqueles 47 espadachins se acham enterrados junto
com o seu mestre Asano Naganori. Esse era um senhor feudal injustamente
condenado a cometer sepuku, ou seja, o ritual suicida do arakiri, pelo crime de
sacar a espada após ter sido insultado por um parente do xogum, em pleno
palácio do governo.
Então, 47 de seus samurais se tornaram ronins, isto é, guerreiros
renegados que juraram secretamente se vingar. Este capítulo sangrento da
história japonesa gerou centenas de filmes, desde a invenção do cinema. Ganha agora
esta sofisticada versão de Hollywood, falada em japonês e inglês, somente com
atores nipônicos – entre eles Rinko Kikuchi (“Circulo de Fogo”), Hiroyuki Sanada
(“Wolverine – Imortal”) Tadanobu Asano (“Thor”) – e Keanu Reeves (trilogia
“Matrix”), num curioso caso de transculturalismo. Traz inclusive uma explicita lamentação
ao racismo no Japão do século XVIII. Trata-se da mais bela, rica e mirabolante de
todas, misturando realidade política com magia, fantasmas, dragões e outros
elementos sobrenaturais extraídos da mitologia japonesa.
É como se aqui no
Brasil, alguém filmasse, por exemplo, o quilombo dos Palmares com orixás e sacis
participando do elenco e da trama. O papel de Reeves como um guerreiro mestiço
dotado de poderes mágicos é totalmente fictício, mas se encaixa em figuras
parecidas com aquelas que foram interpretadas por atores como Toshiro Mifune e
Shintaro Katsu, em outras adaptações. Isto é, um ronin andarilho e
marginalizado, quase um mendigo, mas essencial ao plano dos vingadores. Os
puristas poderão protestar contra esse excesso de liberdades ficcionais, mas
quem assistir aos três diferentes filmes japoneses clássicos da saga dos 47
ronins, numa caixa de DVDs recentemente lançada pela Versátil, verá que apesar
de uma estrutura básica comum, aquelas três obras se mostram absolutamente
diversas umas das outras. Afinal, todo acontecimento histórico comporta
diferentes interpretações. Boa parte delas, mesmo sem demônios ou fadas, cheias
de fantasia.
47 Ronin
EUA, 2013, 120 min, 14 anos
estreia 31 01 2014
gênero aventura/ fantasia/ história
Distribuição Sony Pictures
Direção Carl Erik Rinsch
Com Keanu Reeves, Hiroyuki Sanada, Kô Shibasaki
COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M A
4 comentários:
O trailer no cinema me passou a impressão de ser apenas mais uma bobagem para adolescentes.
Voce confia mais no trailler do que em nosso texto...
Não foi por mal, rs..., eu confio no seu texto.
acabei de assistir o filme, o qual longe de ser "apenas mais uma bobagem para adolescentes" nos conta um pouco da história do mundo oriental, do Japão do período feudal, seus costumes e tradição, dando vida a lenda dos 47 ronins.
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