Trata-se de uma produção
paulista de qualidade técnica e artística bem acima da média atual. Por trás
dos acertos que marcam este projeto acha-se Fernando Meirelles e cuidado com
que ele cerca suas realizações. Esta já foi por alguém chamada de “aquele filme
argentino feito em São Paulo”. Esse comentário um tanto venenoso, porém, não se
encontra totalmente fora da realidade. Assim como geralmente ocorre no cinema
argentino, de fato, este longa-metragem de estreia de Luciano Moura não está
preocupado em elaborar denúncias, discursos ou teses sobre a nossa realidade
social, apesar de se mostrar fiel a ela. Parte de uma proposta dramática
simples, mas humana o bastante para manter a nossa atenção em torno de um pai
desesperado que parte numa busca frenética, quase alucinada, do filho
adolescente que foge de casa.
Wagner Moura, aliás, sem qualquer parentesco com
o diretor – responsável pelas séries televisivas “Antônia” e “Os Filhos do
Carnaval” – interpreta com o máximo de entrega esse pai que percorre os mais
desencontrados ambientes, seguindo pistas de modo geral inconsistentes, munido
apenas de coragem e intuição. O dado de originalidade na historia é que o
garoto, sem recursos para fugir de motocicleta ou de automóvel, usa um cavalo
como meio de transporte. Quem resumir o enredo do filme poderá considerá-lo
simples demais: um médico que sai pelo mundo à procura do filho desaparecido.
Na verdade, entretanto, essa sinopse é apenas o fio condutor para uma série de
pequenos episódios, todos originais e surpreendentes, que formam essa
trajetória. Eles funcionam praticamente como um conjunto de curtas metragens,
com relativa autonomia uns dos outros, cada um deles montado a partir de
personagens fortes e situações inesperadas. É o caso do parto de emergência que
o protagonista é obrigado a fazer, ao encontrar um grupo de jovens que acampara
perto de uma rave. Ou da briga quase
mortal com um camponês que vestia uma camiseta idêntica à que o menino usava no
dia da fuga.
A principal qualidade dessa narrativa, porém, é que o personagem
vai se alterando ao longo dela, até o momento final em que ele se encontra
capaz de compreender o nó, o pântano em que a sua vida se estacionara. E,
portanto, partilhar conosco a essência desse drama que passa ser inteligível
por todos nós, ao ultrapassar o limite de uma desgraça pessoal e mostrar a
amplitude desse sofrimento que atinge a humanidade por inteiro. Ou seja, o
conflito sem fim entre pais e filhos e todas as dores e asperezas – inevitáveis
na passagem da infância para a maturidade. No conjunto da encenação, tudo
funciona: desde o roteiro de Elena Soarez (“Casa de Areia” e “Eu, tu, eles”)
até a cenografia, a música, os figurinos e o trabalho dos coadjuvantes. Com
destaque para a sensível Mariana Lima (“Sessão de Terapia”) no papel da mãe, e
de Lima Duarte, numa atuação especialmente notável e emocionante.
A BUSCA
Brasil – 2012 – 96 min. – 12 anos
Distribuição: Paris Filmes e Downtown Filmes
Direção: Luciano Moura
Com Wagner Moura, Mariana Lima, Lima Duarte e Brás Antunes
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
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