O cinema não para de se inventar se reinventar.
Ao registrar a montagem de uma peça de teatro por um grupo de presidiários, os octogenários
irmãos Taviani (“Pai Patrão”, 1977) nos oferecem uma nova reflexão a respeito
do sentido do espetáculo como elemento essencial da natureza humana. Que
mistério tem esse exercício de fingir para os demais que somos outras pessoas,
justamente para exprimir o que de fato somos? Numa prisão de segurança máxima,
os detentos se inscrevem nos testes para integrar o elenco da tragédia “Julio
Cesar”, de Shakespeare. No processo de encenar um texto escrito por um inglês
no século XVI, aqueles criminosos italianos têm a oportunidade de viajar ao
tempo de suas próprias origens, fincadas na tradição romana do século I A.C.
Ao
serem autorizados pelo diretor cênico a se expressarem em seus próprios
dialetos locais – sicilianos, napolitanos etc – os voluntários recebem a
mensagem implícita de que, mesmo na pele de senadores ou generais da antiga
Roma, eles jamais deixam de manifestar suas verdadeiras identidades. O filme
leva o título de “Cesar deve morrer” e não se resume à documentação daquela
experiência teatral. Os irmãos Taviani acrescentam conteúdos pessoais ao
material filmado, abrindo espaço para a intimidade emocional dos intérpretes.
Confrontados com aquilo que foi o assassinato político de um suposto tirano
pela elite da república, eles percebem que se acham também condenados à sua
condição de seres humanos – o que implica no inevitável enfrentamento do livre
arbítrio. Ou seja, as grades os impedem de sair da prisão, mas não lhes protegem
da própria consciência. Antes de ouvir as sentenças que os condenaram, todos
eles foram julgados. E agora é a vez de julgarem aqueles personagens que eles
trouxeram de volta à vida, por meio da exposição de aspectos profundos das suas
personalidades.
Cesare Deve Morire
Itália, 2012, 76 min, Livre
estreia 01 03 2013
gênero/ drama/ documentário
Distribuição: Europa Filmes
Direção: Paolo & Vittorio Taviani
Elenco: Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
Um comentário:
Achei morno, uma alegoria iluminista primária, e senti que o público aquiesceu porque a mensagem é politicamente correta e nos coloca como bons cidadãos de coração gentil capazes de dar chance a quem quer se reintegrar.
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