Em favor a "Reis e Ratos", é preciso ressaltar uma qualidade que é a leveza com que trata assuntos sobre os quais não temos o hábito de fazer piada, mesmo porque não se costuma achar a menor graça deles. É o caso do tema do próprio filme: o golpe de estado que, a partir de 1964, assombrou a nação por mais de 20 anos e até hoje provoca calafrios em quem viveu aquele período. Sempre imaginamos um cenário no mínimo sério, quem sabe neo-realista ou na linha do Dogma dinamarquês, para abrigar as "tenebrosas transações" mencionadas por Chico Buarque na letra de "Vai passar". É saudável, porém, imaginar que talvez tudo aquilo não passasse de uma conspiração iniciada por um bando de pés-de-chinelo, até para dessacralizar certas figuras emblemáticas da época, como a do sinistro Cabo Anselmo, por exemplo. Por isso Mauro Lima foi feliz em criar uma dupla de "clowns" como detonadores do plano golpista. Os agentes da CIA Selton Mello e Otávio Muller são como os inspetores Dupond e Dupont da série Tintin (foto abaixo), que não acertam uma. Se vestem, agem e falam de modo ridículo, como de resto as duplas de humoristas ao longo da história do cinema, do tipo o gordo e o magro, Oscarito e Grande Otelo etc. Aliás, Marx já dizia que a história pode se repetir (ou reconstituir), nunca como tragédia, mas sempre como farsa.
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2 comentários:
Parabéns, mais uma vez pelo texto. Objetivo e claro. Um abraço...
Luciano, convido a ti e a teus leitores para conhecerem e participarem com suas produções literárias do Urbanasvariedades, o modo long play do Urbanascidades, blog cultural de produção coletiva. Visite urbanasvariedades.blogspot.com. e solte o verbo.
Um abraço,
Paulo Bettanin.
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