A arquiteta Raquel Rolnik informa que o futuro do Cine Belas Artes ainda não foi selado com a decisão do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) de não abrir o processo de tombamento do cinema. O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), que é um órgão estadual decidiu pela abertura do processo de tombamento não apenas do cinema, mas também do antigo bar Riviera (na esquina oposta à do Belas Artes) e da passagem subterrânea da Rua da Consolação, que liga as duas esquinas. Ou seja, a posição do Condephaat incluiu não apenas o cinema, mas toda o seu entorno. Por sinal, o edifício Anchieta, onde ficava o Riviera, foi projetado pelo escritório dos irmãos Roberto, em 1941, e é um importante exemplar da arquitetura modernista em São Paulo. No entanto, a abertura do processo de tombamento não significa que esses lugares serão de fato preservados. Mas enquanto a avaliação formal não é concluída e votada no Conselho, os proprietários dos imóveis não podem descaracterizá-los nem fisicamente nem quanto ao seu uso. Qualquer coisa que eles decidam fazer também depende de autorização do Condephaat neste período.
O Conpresp decidiu sem discutir, adotando a interpretação da Procuradoria Geral do Município (PGM) de São Paulo, que considerou inconstitucional o tombamento de um uso de um edifício cuja arquitetura não é significativa. Isso revela total desconhecimento das leis que regulam o patrimônio histórico em nosso país: há muitos anos órgãos municipais, estaduais e federais têm tombado imóveis que não apresentam interesse arquitetônico. Vejam o exemplo da Fábrica de Cimento Perus, em São Paulo, que foi tombado pelo significado histórico daquele lugar para a população da cidade ou inúmeras casas onde viveram pessoas importantes da nossa história. A abertura do processo de tombamento pelo Condephaat significa a possibilidade de realização de um debate mais qualificado a respeito.Para comemorar a notícia, o Movimento pelo Cine Belas Artes convida para uma festa em frente ao cinema na quarta-feira (5), às 19h.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro foi tombado o cine Paissandu, no bairro do Flamengo. Inaugurado em 1960 e fechado há um mês, quando o grupo Estação Botafogo anunciou que não tinha condições de continuar administrando o cinema sem um patrocinador, o Paissandu foi tombado pelo prefeito Cesar Maia como patrimônio cultural da cidade. Intelectuais e cineastas, alguns remanescentes da chamada Geração Paissandu, que deu fama ao lugar nos anos 60 tinham iniciado uma campanha pelo tombamento temendo que os donos do imóvel vendessem o cinema. Eles anunciaram que o Estação vai administrar e o Sesc vai patrocinar o Paissandu por dez anos. Depois de passar por obras de modernização, o Paissandu vai reabrir com uma programação de filmes de arte que marcaram a sua história. Bom... tirem as suas próprias conclusões.
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