Textos de Luciano Ramos (jornalista, sociólogo e escritor paulista) sobre crítica de filmes nacionais e internacionais, reflexão a respeito da arte cinematográfica, notícias sobre o mundo do cinema, inserção do cinema na história da cultura, patrimônio histórico e cultural.
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quarta-feira, 3 de maio de 2017
Mostra sobre Antonioni exibe grandes clássicos. Dentre eles, "Passageiro: Profissão Repórter"
Cena do longa "Profissão Repórter", com Jack Nicholson
Entre os dias 26 de abril e 22 de maio acontece no
CCBB de São Paulo uma Retrospectiva – talvez a mais completa exibida até hoje –
do mestre Michelangelo Antonioni, que morreu em 2007 aos 95 anos. A partir do
dia 11 de maio essa mostra será replicada no Cinesc até o dia 17, sempre com
cópias digitais ou em película 35 mm. Poderemos ver tudo o que ele criou:
desde os curtas iniciais até as obras primas da maturidade.
Trailer de "O Eclipse", memorável filme em cartaz no CCBB:
Ao lado dos títulos mais conhecidos, como “Blow Up” e a chamada “Trilogia da Incomunicabilidade”, se destaca “Passageiro Profissão Repórter”, estrelado por
Jack Nicholson. O destaque vem de seu caráter inovador ou, melhor,
revolucionário em termos de linguagem. Em duas salas de cinema, o filme estreou
em São Paulo em abril de 1976, portanto há 41 anos. Eu, Luciano Ramos, escrevi a crítica para o
Jornal da Tarde, e seleciono trechos que reproduzo agora.
Considerava o filme como “uma realização tão desconcertante quanto deve ter
sido o primeiro contra-plano, ou a primeira fusão de imagens da história do
cinema". Trata-se de um plano-sequencia com sete minutos de duração, em que a
câmara passeia pelo interior de um quarto de hotel, voa para gora, ultrapassando
as grades da janela, circula pela praça em frente e enquadra o ponto de
partida.
Continuando os trechos selecionados de minha crítica de 1976, afirmo que "os fatos cruciais do enredo acontecem dentro daqueles minutos, mas sempre fora
do nosso campo de visão. Com isso, o que não aparece na imagem torna-se
estranhamente vivo. Essa dinamização da área exterior à tela amplia o peso dos
limites da percepção visual, bem como o desequilíbrio entre o aparente e o
transparente captados pela câmara. (...) Os cortes de tempo mantem-se
imprevisíveis, forçando ao máximo a atenção e se negando a satisfazer qualquer
expectativa da plateia."
Trailer de "Passageiro: Profissão Repórter"
Ou seja, a objetiva nunca se compromete com o desejo da plateia e nem com o
ritmo da história. Às vezes se demora sobre um detalha da paisagem, antes de
enfocar os atores. Ou permanece no ambiente, mesmo depois dos intérpretes terem
se retirado. Assim, o cineasta rompe com os esquemas consagrados de narração e
não compactua com os condicionamentos cinematográficos costumeiros do público.
Torna-se o senhor absoluto do espetáculo e obriga o espectador a preocupar-se
com o que está acontecendo fora da tela. Não apenas com a ação do repórter, mas
com o tema que ele pretende noticiar. Em breve continuaremos a análise de “Passageiro: Profissão Repórter”,
obra prima que Michelangelo Antonioni lançou em 1975 e que se destaca entre
aquelas que formam a Retrospectiva do cineasta lendário, a ser
mostrada até 22 de maio e acontece no CCBB de São Paulo e, em
seguida, no Cinesesc.
Editor Geral Doutor em Cinema pela Unicamp. Crítico de cinema da Rádio Cultura FM, no programa CINEMA FALADO. Exerceu a crítica de cinema na Rádio USP, no Jornal da Tarde e na Folha de São Paulo. Dirigiu o Departamento de cinema da Rede Bandeirantes. Roteirista das minisséries "Avenida Paulista" e "Moinhos de Vento", bem como da novela "Champanhe" da Rede Globo.
Todos os textos aqui presentes no blog são de sua autoria.
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