Hoje se encerra uma triste novela que há quase duas décadas vinha
assombrando o cinema brasileiro. O lançamento de um filme nacional é sempre
digno de alguma celebração. Até este, que tantos problemas proporcionou a esta sofrida
comunidade de artistas trabalhadores que dependem do cinema e da qual o nosso cinema
depende. Trata-se de Chatô - O Rei do Brasil. (FOTO ACIMA)
O projeto do filme foi aprovado pela Secretaria do Áudio Visual ainda no primeiro mandato do presidente FHC, iniciado em 1995. No 2º período da gestão de Francisco Weffort à frente do MinC, por volta de 1999, a prestação de contas do projeto Chatô foi recusada, por conter inúmeras irregularidades. Mas o produtor Guilherme Fontes continuava solicitando recursos e o escândalo resultante prejudicou todos os demais projetos de filmes em processo de captação. Ou seja, os empresários perderam momentaneamente a confiança necessária para prosseguir investindo em cinema. A Ancine ainda não fora criada, mas tudo isso está documentado.
Em 2008, ou seja 9 anos depois, a Agência Nacional do Cinema verificou que as irregularidades continuavam e a produtora de Fontes foi condenada pela Controladoria-Geral da União a devolver R$ 36,5 milhões ao Estado. Esse dinheiro não existia, é claro. Seis anos mais tarde, em novembro de 2014, o TCU condenou a produção a devolver R$ 66.267.732,48. Esse é o valor corrigido da captação original de R$ 8,6 milhões. Com as devidas multas, o débito subiu para R$ 71 milhões.
O filme portanto precisaria obter uma bilheteria de grandeza equivalente a “Tropa de Elite 2”, o que se mostra quase impossível. Principalmente porque Guilherme Fontes nega essa dívida e já não dispõe de recursos para promover esse lançamento e porque o filme adota a estética de uma comédia popular. Justamente num momento em que o mercado se acha sobrecarregado de produtos brasileiros concebidos nessa mesma linha.
A estreia de Chatô - O Rei do Brasil está se
beneficiando de uma audiência, digamos... cativa, formada por todos aqueles que
acompanharam a trajetória do escândalo provocado pela sua produção, iniciada
formalmente no primeiro mandato do presidente FHC. A coisa esquentou em 1999,
quando as contas do filme se mostravam irregulares. E pegou fogo em 2008, quando
a Controladoria-Geral da União determinou a devolução de R$ 36,5 milhões ao
Estado. Para a conclusão
do filme foi preciso o apoio de personalidades como Francis Ford Coppola. Nele
vemos a trajetória de Assis Chateaubriand, fundador
dos Diários Associados e do MASP. Chatô é interpretado por Marco Ricca e seu adversário
político Getulio Vargas é o papel de Paulo Betti. (FOTO ABAIXO) O elenco é enriquecido por grandes
atrizes como Leticia Sabatella, Andrea Beltrão e Eliane Giardini.
O roteiro evita a seriedade do livro de Fernando Morais e constrói uma espécie de farsa em torno dessas figuras históricas. No meio do filme, por exemplo, acontece um julgamento simbólico do protagonista, como se ele estivesse num programa de TV conduzido pelo apresentador Abelardo Chacrinha. E todas as suas aparições seguem essa mesma tonalidade feérica e circense que lembra os estilos de Joaquim Pedro em “Macunaima” e de Rogério Sganzerla em “O Bandido da Luz Vermelha”. Isso, aliás, é uma qualidade do filme que, dessa forma, se faz mais acessível às plateias, que foram pensadas para ser grandes.
Ou seja, brincar com a história não é pecado, como prova o próprio cinema de Glauber Rocha. Mas há inconsistências de roteiro como a construção do personagem Getúlio Vargas que permanece inalterado de 1930 a 1954, física e dramaticamente. É preciso certa ginástica mental para reconhecer alguns personagens, como o braço direito de Chatô, que parece uma fusão dos jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer. E para entender a cena do suicídio de Getúlio, em que vemos mãos enluvadas auxiliando o presidente a empunhar o revólver. O filme está querendo dizer que Getúlio foi assassinado? De resto, Chatô - O Rei do Brasil é divertido, traz informações importantes sobre a nossa história e merece ser visto. Até porque ganhou súbita atualidade com o mar de lama que agora atravessamos.
O roteiro evita a seriedade do livro de Fernando Morais e constrói uma espécie de farsa em torno dessas figuras históricas. No meio do filme, por exemplo, acontece um julgamento simbólico do protagonista, como se ele estivesse num programa de TV conduzido pelo apresentador Abelardo Chacrinha. E todas as suas aparições seguem essa mesma tonalidade feérica e circense que lembra os estilos de Joaquim Pedro em “Macunaima” e de Rogério Sganzerla em “O Bandido da Luz Vermelha”. Isso, aliás, é uma qualidade do filme que, dessa forma, se faz mais acessível às plateias, que foram pensadas para ser grandes.
Ou seja, brincar com a história não é pecado, como prova o próprio cinema de Glauber Rocha. Mas há inconsistências de roteiro como a construção do personagem Getúlio Vargas que permanece inalterado de 1930 a 1954, física e dramaticamente. É preciso certa ginástica mental para reconhecer alguns personagens, como o braço direito de Chatô, que parece uma fusão dos jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer. E para entender a cena do suicídio de Getúlio, em que vemos mãos enluvadas auxiliando o presidente a empunhar o revólver. O filme está querendo dizer que Getúlio foi assassinado? De resto, Chatô - O Rei do Brasil é divertido, traz informações importantes sobre a nossa história e merece ser visto. Até porque ganhou súbita atualidade com o mar de lama que agora atravessamos.
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