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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ainda em cartaz um dos melhores filmes de 2015: "A Ponte dos Espiões" de Spielberg

Numa lista oficial dos diretores mais bem sucedidos do ponto de vista financeiro, Steven Spilberg ocupa o primeiro posto. Entre 1990 e 2015, seus filmes renderam quase quatro bilhões de dólares. E o seu último trabalho, A Ponte dos Espiões prova que além de dinheiro, Spielberg sabe mesmo é fazer cinema. Pra início de conversa, ele contratou como roteiristas ninguém menos que os irmãos Coen, cineastas e autores de sucessos como “Fargo” e “Onde os Fracos não tem vez”.
Em 1957, portanto, no auge da Guerra Fria, um advogado americano vivido por Tom Hanks é intimado pelo governo a defender um acusado de espionagem – isto é, o lutar em favor do inimigo público número 01 daquele tempo. Aparentemente o filme serviria apenas para dizer que lá nos EUA tudo é feito para garantir os direitos civis, até mesmo os de bandidos estrangeiros. Mas Spielberg adota um ponto de vista mais profundo e faz A Ponte dos Espiões um comovente épico moral. Isto é, uma batalha em que diferentes modalidades éticas se digladiam.
Desenvolvida rigorosamente a partir de acontecimentos históricos, a narrativa se passa num momento dos mais nervosos da Guerra Fria, quando os soviéticos mandaram erguer na Alemanha Oriental uma barreira que ficou conhecida como o Muro de Berlim. O FBI descobriu e prendeu Rudolf Abel, um espião que trabalhava em Washington para a União Soviética. Foi uma operação que potencializou a crescente paranoia do povo americano quanto a proximidade de um conflito nuclear.


O governo do republicano Eisenhower decidiu processá-lo pelo crime de espionagem. No entanto, o seu julgamento deveria ser justo, ainda que todos os americanos quisessem vê-lo condenado. E o defensor do agente russo não deveria ser um advogado do estado, mas um particular, um profissional de carreira. Interpretado por Tom Hanks, o escolhido foi Jim Donovan, que levou a tarefa a sério e conseguiu evitar a pena de morte, sendo o réu condenado à prisão perpétua.
O tema é semelhante ao de “Conspiração Americana”, que Robert Redford dirigiu em 2010, sobre o julgamento da dona da casa, onde morava assassino do Presidente Abraham Lincoln. Aparentemente, ambos os filmes fazem o elogio, mas apontam a fragilidade de um sistema político que procura respeitar os direitos individuais. Mas Spielberg foi mais a fundo e em sua segunda parte, o filme ganha uma estatura dramática mais elevada. O fato é que logo em seguida, um avião americano foi abatido numa missão de espionagem no leste europeu e o seu piloto Gary Powers capturado pelos soviéticos. A partir daí, o entrecho assume um rumo diferente e, assim, logo após a prisão e o julgamento de um agente soviético que atuava em Washington, o piloto americano Gary Powers, que voava em missão de espionagem, foi capturado no Leste europeu. 


Na primeira parte deste épico moral, o estoico e persistente advogado interpretado por Tom Hanks consegue salvar da cadeira elétrica o misterioso espião comunista Rudolf Abel -- magistralmente incorporado pelo ator inglês Mark Rylance (FOTO ACIMA), que já interpretou Leonardo da Vinci num seriado de TV. Agora no segundo ato, o advogado Tom Hanks é intimado a completar o serviço e coordenar o processo de troca do agente russo pelo piloto americano.
Depois de enfrentar os próprios integrantes da justiça americana, por não terem a menor boa vontade para com aquele funcionário da KGB que conspirava para lançar bombas atômicas sobre a América, o advogado precisa driblar a incompreensível e desumana burocracia comunista. Tratava-se não apenas de cumprir a missão que recebera de Washington, mas de fazê-lo em sigilo absoluto e sem, esperar qualquer compensação financeira.
(ABAIXO:A CONSTRUÇÃO DO MURO DE BERLIM)


Além de conduzir a narrativa com a simplicidade e a segurança de quem não precisa provar nada, nem ao público e muito menos aos críticos, o mérito maior de Spielberg foi desenhar o seu protagonista sem nenhum traço de heroísmo óbvio ou artificial. 
(ABAIXO, O DIRETOR NO SET DE FILMAGEM) 
Trata-se de um profissional capaz de vencer apenas por executar o seu trabalho de modo honesto e empenhado. Os Irmãos Coen demonstram a sua de habilidade como roteiristas, ao compor a inusitada personalidade do espião comunista vivido por Mark Rylance. Esse ator fez o papel de Leonardo da Vinci na TV e, talvez por coincidência, o espião é colocado como um pintor figurativo. É ele que avalia e qualifica o personagem do advogado Tom Hanks, por meio de palavras e também de um retrato: o mesmo que, aparece no cartaz do filme. O desenho não embeleza nem faz a caricatura do herói, apenas registra a as rugas e a tensão no rosto de alguém que não esconde os conflitos interiores e o medo que sente, mas que não se nega a agir.

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