Numa lista oficial dos diretores mais bem sucedidos
do ponto de vista financeiro, Steven Spilberg ocupa o primeiro posto. Entre
1990 e 2015, seus filmes renderam quase quatro bilhões de dólares. E o seu
último trabalho, A Ponte dos Espiões
prova que além de dinheiro, Spielberg sabe mesmo é fazer cinema. Pra início de
conversa, ele contratou como roteiristas ninguém menos que os irmãos Coen, cineastas
e autores de sucessos como “Fargo” e “Onde os Fracos não tem vez”.
Em 1957, portanto, no auge da Guerra Fria, um advogado americano vivido por Tom
Hanks é intimado pelo governo a defender um acusado de espionagem – isto é, o lutar
em favor do inimigo público número 01 daquele tempo. Aparentemente o filme
serviria apenas para dizer que lá nos EUA tudo é feito para garantir os
direitos civis, até mesmo os de bandidos estrangeiros. Mas Spielberg adota um
ponto de vista mais profundo e faz A
Ponte dos Espiões um comovente épico moral. Isto é, uma batalha em que
diferentes modalidades éticas se digladiam.Desenvolvida rigorosamente a partir de acontecimentos históricos, a narrativa se passa num momento dos mais nervosos da Guerra Fria, quando os soviéticos mandaram erguer na Alemanha Oriental uma barreira que ficou conhecida como o Muro de Berlim. O FBI descobriu e prendeu Rudolf Abel, um espião que trabalhava em Washington para a União Soviética. Foi uma operação que potencializou a crescente paranoia do povo americano quanto a proximidade de um conflito nuclear.
O governo do republicano Eisenhower decidiu processá-lo pelo crime de espionagem. No entanto, o seu julgamento deveria ser justo, ainda que todos os americanos quisessem vê-lo condenado. E o defensor do agente russo não deveria ser um advogado do estado, mas um particular, um profissional de carreira. Interpretado por Tom Hanks, o escolhido foi Jim Donovan, que levou a tarefa a sério e conseguiu evitar a pena de morte, sendo o réu condenado à prisão perpétua.
Na primeira parte deste épico moral, o estoico e persistente advogado interpretado por Tom Hanks consegue salvar da cadeira elétrica o misterioso espião comunista Rudolf Abel -- magistralmente incorporado pelo ator inglês Mark Rylance (FOTO ACIMA), que já interpretou Leonardo da Vinci num seriado de TV. Agora no segundo ato, o advogado Tom Hanks é intimado a completar o serviço e coordenar o processo de troca do agente russo pelo piloto americano.
Depois de enfrentar os próprios integrantes da justiça americana, por não terem a menor boa vontade para com aquele funcionário da KGB que conspirava para lançar bombas atômicas sobre a América, o advogado precisa driblar a incompreensível e desumana burocracia comunista. Tratava-se não apenas de cumprir a missão que recebera de Washington, mas de fazê-lo em sigilo absoluto e sem, esperar qualquer compensação financeira.
(ABAIXO:A CONSTRUÇÃO DO MURO DE BERLIM)
Além de conduzir a narrativa com a simplicidade e a segurança de quem não precisa
provar nada, nem ao público e muito menos aos críticos, o mérito maior de
Spielberg foi desenhar o seu protagonista sem nenhum traço de heroísmo óbvio ou
artificial.
(ABAIXO, O DIRETOR NO SET DE FILMAGEM)
Trata-se de um profissional capaz de vencer apenas por executar o
seu trabalho de modo honesto e empenhado. Os Irmãos Coen demonstram a sua de habilidade como roteiristas, ao compor a inusitada
personalidade do espião comunista vivido por Mark Rylance. Esse ator fez o
papel de Leonardo da Vinci na TV e, talvez por coincidência, o espião é
colocado como um pintor figurativo. É ele que avalia e qualifica o personagem
do advogado Tom Hanks, por meio de palavras e também de um retrato: o mesmo
que, aparece no cartaz do filme. O desenho não embeleza nem faz a caricatura do
herói, apenas registra a as rugas e a tensão no rosto de alguém que não esconde
os conflitos interiores e o medo que sente, mas que não se nega a agir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário