Na segunda metade do século 18, as monarquias da
Europa foram afetadas pela difusão das ideias racionais do iluminismo. Os
textos de Voltaire, Diderot e Rousseau se espalhavam como vírus por todas as
nações e classes sociais daquele tempo. Chegaram até o Brasil, para servir de
combustível ideológico na Inconfidência Mineira e outras revoltas contra o
colonialismo. No velho continente elas funcionaram como estímulo para o chamado
“despotismo esclarecido”, em que vários monarcas reformaram os seus regimes
absolutistas aplicando, ou fingindo aplicar, aqueles ideais que já tinham se
transformado em lei nos sistemas políticos da Inglaterra e dos Estados Unidos. Diversas
tentativas de modernizar o chamado “antigo regime” foram instituídas em Áustria,
Prússia, Rússia, Portugal, França e até na Dinamarca.
Esse é o tema de “O
amante da rainha”, dirigido pelo jovem e promissor Nikolaj Arcel, o roteirista de
“Os homem que não amavam as mulheres” (2009), tão bem sucedido que foi
refilmado em Hollywood dois anos depois com Daniel Craig. Interpretado pelo
carismático Mads Mikkelsen – que foi herói em “Depois do casamento” (2006) e
vilão em “Cassino Royale” (2006) – o personagem central é um médico alemão e iluminista
que ganha a confiança do rei Cristiano VII da Dinamarca e se transforma numa
espécie de primeiro ministro reformista, mas acaba se tornando politicamente
vulnerável ao se envolver afetivamente com a rainha Caroline Mathilde, de
origem inglesa e, portanto, de mentalidade mais aberta a antenada com o seu
tempo.
O papel é da encantadora atriz sueca Alícia Vikander, que veremos em
breve no elenco de “Ana Karenina” (2012) de Joe Wright e Tom Stopard. Além de
uma tocante história de amor impossível e de uma reconstituição de época
científica, em sua precisão e total ausência de charme, o filme revela em
detalhes a mecânica das articulações palacianas e a arquitetura do poder em
movimento. Numa monarquia de pequeno porte como aquela, as regularidades da
política descobertas por Maquiavel ficam mais fáceis de serem observadas. Assim
como as leis da física se mostram mais visíveis numa maquete de laboratório. Seria o caso de amor entre a rainha e o médico plebeu tão inviável quanto a utopia do Iluminismo segundo a qual o absolutismo monárquico poderia ser reformado pela força da razão?
O AMANTE DA RAINHA
En Kongelig Affære
Dinamarca, 2012, 137 min, 14 anos
estreia 08 02 2013
gênero docudrama/ história
Distribuição Vinny Filmes
Direção Nikolaj Arcel
Com Mads Mikkelsen, Alicia Vikander, Mikkel Boe Folsgaard
COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M O
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