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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

É um filme de ficção? Ou seria um documentário? Não! É "O Céu sobre os Ombros"

Somente agora entra em cartaz "O Céu sobre os Ombros" que foi premiado como melhor filme no Festival de Brasília de 2010. Essa demora deve-se provavelmente à dificuldade dos exibidores em definir a obra como ficção ou como documentário. Ela é assinada por Sérgio Borges, mas foi produzida por um grupo de Minas Gerais chamado de o “Coletivo Teia”. Por isso teve o escandaloso custo de 200 mil reais, dinheiro que seria insuficiente até para realizar uma reportagem de casamento e que, no entanto, obteve o máximo da qualidade técnica que um simples equipamento digital poderia alcançar. O mais curioso a respeito do filme é que podemos acreditar quando ele se apresenta como um “híbrido” entre ficção e documentário − mesmo que esse conceito não tenha consistência no campo da teoria do cinema. projeto tem como ponto de partida a pesquisa para um documentário sobre três indivíduos − “não-atores” − de Belo Horizonte que tivessem trajetórias de vida tão diferenciadas que parecessem personagens de ficção: um transexual intelectual que se prostitui em tempo parcial; um angolano que se considera escritor, mas não consegue concluir um texto sequer; e um devoto de Krishna que, além dos empregos de cozinheiro e atendente de telemarketing, participa de uma torcida organizada de futebol. Em seguida os escolhidos interpretam a si mesmos em seus cotidianos. Sabe-se que quem não é ator profissional tem tanta dificuldade para “fazer o papel” de si mesmo quanto o de Hamlet. Há momentos, porém, de uma impactante impressão de realidade. Quando por exemplo, o angolano brinca com seu filho, ou na cena em que o transexual conversa com um cliente na rua. Na apresentação do “Hare Krishna”, por outro lado, percebe-se que uma pessoa pode passar o dia inteiro sem pensar, isto é, quase em estado de meditação: quando não está entoando um mantra (no templo ou ao telefone), ele está fritando pastéis ou gritando pelo seu time num estádio, em comunhão mental com a massa.
O resultado é de fato impressionante porque, para garantir a aparência de uma narrativa ficcional, a edição final tenta eliminar uma das marcas menos óbvias ainda que mais importantes para caracterizar o gênero documentário. Segundo o teórico Bill Nichols, na ficção (e no filme de Sergio Borges) é mais comum a montagem em continuidade, que opera para tornar “invisíveis” os cortes entre as tomadas. Já no documentário, predomina uma montagem de evidência, em que os cortes seguem a lógica de uma argumentação e não se acham presos à necessidade de dar a impressão de uma unidade temporal e espacial. Em suma, O CÉU SOBRE OS OMBROS nos mostra o comovente retrato de três personalidades estranhíssimas, que chamam atenção pela diferença, mas que têm um pouco de cada um de nós.

O CÉU SOBRE OS OMBROS
Brasil, 2010, 72 min, 16 anos
estreia 18 11 2011
Distribuição Vitrine Filmes
Direção Sérgio Borges
Com Everlyn Bardin, Edjucu Moio,
Murari Krishna, Grace Passô
COTAÇÃO
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B O M

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