"Amanhã nunca mais" é o primeiro longa ficcional do multimídia Tadeu Jungle. O filme tem jeito de ter sido feito por um cineasta veterano porque de fato, desde os anos 1980, o diretor tem lidado com várias linguagens audiovisuais (vídeo clipes, comerciais, programas de TV, documentários, vídeo-arte etc) e agora estréia nessa modalidade pela porta da frente, numa produção de excelente nível. Em perfeita integração, a música tem a assinatura de André Abujamra e a fotografia de Ricardo della Rosa. O elenco tem Lázaro Ramos, Maria Luisa Mendonça, Luis Miranda, Milhem Cortaz e uma série de outros craques. O tema se resume ao período de algumas horas na vida de um anestesista preto e pobre, em sua luta para voltar pra casa com o bolo de aniversário da filhinha, numa cidade que parece ser São Paulo. Esse trajeto vira uma odisséia, porque ele precisa superar mais obstáculos do que aqueles 12 enfrentados por Hércules em toda a sua mítica existência.
Boa parte dos comentários afirma que o roteiro lembra “Depois de Horas”, porque a história se passa numa noite sem fim. E também “Sim Senhor” com Jim Carey e até “Acorrentados” (1958), com Sidney Potier, ou “Um dia de Fúria” (1993) com Michael Douglas. Quanto a isso (e inspirado pelo protagonista) só posso dizer não! Não é assim que se analisa um filme, buscando semelhanças com outros. O que este tem de específico é o estilo com o qual Tadeu constrói essa obra de suspense, tão angustiante quanto engraçada. Tanto que, num determinado momento começamos a achar que não haverá mais saída para o protagonista, e aí relaxamos, desejando que ele não consiga mesmo chegar ao seu destino. Afinal ele é um personagem muito menos dramático do que cômico – dada à sua forma quase mecânica e imutável de agir e à ausência da palavra “não” no seu vocabulário, em que, aliás, não existe duplo significado. Quando, por exemplo, ele quer saber em que trabalha uma moça que lhe pede carona, ela diz “eu faço programa” e ele pergunta “em que canal?”.
À primeira vista, a saga do médico que precisa lidar com mil probleminhas para entregar o bolo de aniversário na festa da filha, não tem nada de extraordinário: trânsito, chuva, carro sem gasolina, trombada com motoqueiro, colega mau caráter e chefe pior ainda são coisas que todo o mundo já encarou. Mas nunca todas assim, ao mesmo tempo. E principalmente por um personagem tipo “o bom caráter de plantão”, que apresenta enorme dificuldade em estabelecer limites em relação aos demais. Em função disso, (só para brincar também de caça às semelhanças) ele se parece um pouco com o inglês Jorge VI, de “O Discurso do Rei”, com gagueira e tudo. Mas o que identifica este filme é a linha construtivista adotada pelo diretor, explícita até no cartaz do filme, que só faz sentido depois de assisti-lo.
Tadeu Jungle já teve a fama de videomaker vanguardista e um tanto hermético, mas aqui ele revela a simplicidade e a paciência de uma mulher rendeira, ao bordar minuciosamente a sua trama, feita tanto de largas pinceladas quanto de figuras mínimas. Como é aquela minúscula pontinha de Lourenço Mutarelli, na cena em que aparece Paula Braun, com quem aquele autor e ator partilhou a tela de “O Cheiro do Ralo”. No enredo de "Amanhã nunca mais" não faltam private jokes e pistas falsas inseridas com sutileza quase subliminar, como o abaixo assinado que o herói assina sem ler, ou o som de gente fazendo sexo (ou seria de um filme pornô?) na casa da doceira onde ele passa para apanhar o melhor da festa. Tomara que esta experiência não seja apenas mais uma das freqüentes aventuras midiáticas de Tadeu porque, amanhã e daqui para frente, sim. Queremos mais!
Boa parte dos comentários afirma que o roteiro lembra “Depois de Horas”, porque a história se passa numa noite sem fim. E também “Sim Senhor” com Jim Carey e até “Acorrentados” (1958), com Sidney Potier, ou “Um dia de Fúria” (1993) com Michael Douglas. Quanto a isso (e inspirado pelo protagonista) só posso dizer não! Não é assim que se analisa um filme, buscando semelhanças com outros. O que este tem de específico é o estilo com o qual Tadeu constrói essa obra de suspense, tão angustiante quanto engraçada. Tanto que, num determinado momento começamos a achar que não haverá mais saída para o protagonista, e aí relaxamos, desejando que ele não consiga mesmo chegar ao seu destino. Afinal ele é um personagem muito menos dramático do que cômico – dada à sua forma quase mecânica e imutável de agir e à ausência da palavra “não” no seu vocabulário, em que, aliás, não existe duplo significado. Quando, por exemplo, ele quer saber em que trabalha uma moça que lhe pede carona, ela diz “eu faço programa” e ele pergunta “em que canal?”.
À primeira vista, a saga do médico que precisa lidar com mil probleminhas para entregar o bolo de aniversário na festa da filha, não tem nada de extraordinário: trânsito, chuva, carro sem gasolina, trombada com motoqueiro, colega mau caráter e chefe pior ainda são coisas que todo o mundo já encarou. Mas nunca todas assim, ao mesmo tempo. E principalmente por um personagem tipo “o bom caráter de plantão”, que apresenta enorme dificuldade em estabelecer limites em relação aos demais. Em função disso, (só para brincar também de caça às semelhanças) ele se parece um pouco com o inglês Jorge VI, de “O Discurso do Rei”, com gagueira e tudo. Mas o que identifica este filme é a linha construtivista adotada pelo diretor, explícita até no cartaz do filme, que só faz sentido depois de assisti-lo.
Tadeu Jungle já teve a fama de videomaker vanguardista e um tanto hermético, mas aqui ele revela a simplicidade e a paciência de uma mulher rendeira, ao bordar minuciosamente a sua trama, feita tanto de largas pinceladas quanto de figuras mínimas. Como é aquela minúscula pontinha de Lourenço Mutarelli, na cena em que aparece Paula Braun, com quem aquele autor e ator partilhou a tela de “O Cheiro do Ralo”. No enredo de "Amanhã nunca mais" não faltam private jokes e pistas falsas inseridas com sutileza quase subliminar, como o abaixo assinado que o herói assina sem ler, ou o som de gente fazendo sexo (ou seria de um filme pornô?) na casa da doceira onde ele passa para apanhar o melhor da festa. Tomara que esta experiência não seja apenas mais uma das freqüentes aventuras midiáticas de Tadeu porque, amanhã e daqui para frente, sim. Queremos mais!
AMANHÃ NUNCA MAIS
Brasil, 2011, 77 min, 12 anos
estreia 11 11 2011
gênero comédia / social
Distribuição Fox
Direção Tadeu Jungle
Com Lázaro Ramos, Maria Luíza Mendonça,
Fernanda Machado, Milhem Cortaz e Luis Miranda
Brasil, 2011, 77 min, 12 anos
estreia 11 11 2011
gênero comédia / social
Distribuição Fox
Direção Tadeu Jungle
Com Lázaro Ramos, Maria Luíza Mendonça,
Fernanda Machado, Milhem Cortaz e Luis Miranda
COTAÇÃO
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ÓTIMO
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ÓTIMO
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