Ao receber um dos 12 prêmios que ganhou no festival
de Pernambuco, entre os 14 que estavam em competição, a diretora Betse de Paula
agradeceu a Oscarito e Grande Otelo – ícones da chanchada, como que invocando um
parentesco com aquela tradição que, na época foi combatida pelos críticos
porém, mais tarde, reabilitada. Teve gente que estranhou, porque “Vendo ou Alugo”
não é musical e nem carnavalesco – ainda que tenha um gingado de malandragem
que ajuda a fazer o seu encanto. Uma irreverência ao comentar a sociedade atual
que lembra o teatro de revista e antigos programas radiofônicos, como “Balança
Mais não Cai”. Ou seja, o filme reproduz o tom e o espírito daquele tempo em
que se fazia graça com coisas sérias, porque afinal, as melhores piadas são
para isso mesmo.
Natalia Timberg é a viúva arruinada de um embaixador e vive
num casarão carioca que era de luxo em meados do século passado e agora faz
divisa com uma favela ocupada pelo tráfico e uma unidade pacificadora. Sua
filha Marieta Severo ainda é chique, mas sobrevive de organizar festas e outros
expedientes. A única saída é vender ou alugar o imóvel, mesmo que ninguém o
queira – a não ser um pastor que enriqueceu não se sabe como e um francês que
explora o turismo de risco. O filme é dirigido pela talentosa meio carioca meio
brasiliense irmã de Marcos Palmeira e produzido por Marisa Leão, que tem se
mostrado vitoriosa em praticamente todas as iniciativas – desde épicos
políticos dos anos de 1980, como “O Homem da capa preta” e os blockbusters
cômicos da atualidade, como “De pernas pro ar”.
Desta vez a ousadia de Marisa é
enfrentar as evidentes dificuldades de uma comédia montada sobre o movediço
terreno dos indicadores sociais contemporâneos – como a violência urbana, que
inclui a chamada guerra contra o tráfico – e construída a partir de personagens
extraídos diretamente do mundo real e que, mesmo assim, são capazes de provocar
o riso de qualquer um. Esta é, aliás, a essência das tradicionais chanchadas
dos anos 1940 e 1950 que Marisa Leão recupera neste projeto do qual,
sabiamente, ela participa também como roteirista junto com a diretora, para
focalizar com o máximo de humor e senso crítico as encrencas de uma família de
quatro mulheres interpretadas por Marieta Severo e Sílvia Buarque (mãe e filha
na vida real), além de Natália Timberg e a jovem Bia Morgana (filha da diretora
na vida real). Ou seja, temos sim vida inteligente na comédia brasileira.
VENDO OU ALUGO
Brasil, 2012, 88 min, 14 anos
estreia 09 08 2013
Gênero comédia/ social
Distribuição: Europa Filmes
Direção Betse de Paula
Com Marieta Severo, Marcos Palmeira, Natália Timberg
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE
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