“O cavaleiro Solitário” se passa no Texas em 1869, quando
se iniciou a construção da Primeira Ferrovia Transcontinental e tem como
cenário a construção dessa histórica estrada de ferro que ligava o oeste ao leste
já urbanizado. Um dos primeiros filmes rodados nos Estados Unidos, aliás, foi
um curta-metragem de 11 minutos chamado “O Grande Roubo do Trem” (1904), mas,
neste filme dirigido por Gore Verbinsky, temos provavelmente os mais movimentados,
cômicos e surpreendentes assaltos a trem já filmados desde 1904.
Ele se inicia em
São Francisco no ano de 1933, quando o cartão postal da cidade que é a ponte
Golden Gate ainda se achava em construção. Naquele ano, o rádio começava a transmitir
o seriado The Lone Ranger, com as aventuras
de um justiceiro mascarado que tinha como companheiro o índio Tonto e um cavalo
branco chamado Silver e que, no Brasil, ganhou o nome de Zorro. Pouco tempo
depois, ele passou a aparecer também nos quadrinhos, no cinema e, de lá, na
televisão.
Neste filme, tudo começa com um garoto vestido como o herói e que, num
museu de cera, conversa com a estátua de um ancião comanche que não é outro
senão Johnny Depp, justamente no papel de Tonto. Esse diálogo é o fio condutor
da narrativa e parece assumir um sentido simbólico, ou seja, a imagem do menino
fantasiado de caubói em contato com um velho índio pode representar a juventude
americana, para quem os velhos mitos se renovam por meio do cinema.
Essa passagem
é apenas um exemplo da amplitude de ilações, ironias e significados múltiplos que
“O cavaleiro Solitário” injeta em cada cena, dando-se ainda ao luxo de conceber
momentos de movimentação feérica, por meio de ângulos tomados muitas vezes em escala
monumental. Outra firula é criar situações de intimidade, de preferência em
closes, encenadas num cenário freneticamente móvel, lembrado as comédias de
Richard Lester (“Help!” – 1965). Por sua vez, a trilha sonora raramente humorada
de Hans Zimmer enlouquece um pouco e se esbalda em caricaturas orquestrais.
Sinal
de inteligência ou prodigalidade, o roteiro nos oferece uma overdose de citações
plásticas e musicais dos clássicos do faroeste e filmes de animação, além de tiradas
espirituosas de todo o tipo – como as alusões a Dom Quixote e ao livro de cabeceira
do herói que é “Dois Tratados sobre o Governo”, de John Locke. Acima de tudo, porém,
Gore Verbinsky pega embalo na série “Piratas do Caribe” que ele fizera com Johnny
Depp, carrega na comicidade e se lança numa paródia das paródias que ele mesmo já
dirigira. Como o seu desenho animado “Rango” (Oscar de 2012) – ele mesmo uma
referência às desgraças do “Coiote”, que Chuck Jones desenhava desde 1949.
O CAVALEIRO SOLITÁRIO
The Lone Ranger
EUA, 2013, 149 min, 14 anos
estreia 12 07 2013
faroeste/ aventura/ comédia
Distribuição Disney
Direção Gore Verbinski
Com Johnny Depp, Armie Hammer, Helena Bohan Carter
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
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