Nesta 5ª feira será lançado o
filme americano “O Grande Herói”, produzido e protagonizado por Mark Whalberg,
um docudrama sobre a vida real de Marcus Luttrell que, em 2005, foi escalado
para integrar um grupo de 4 soldados da Marinha com a missão se matar um líder
da Al Qaeda. Para isso, eles precisavam “apenas” desembarcar de helicóptero
numa montanha do Afganistão, caminhar até uma aldeia lotada com centenas de
talibãs, executar o terrorista e voltar pra casa. Só que, logo de cara uma
cabra denunciou a presença dos americanos e a heroica turminha viu-se vivendo
uma situação parecida com aquela antológica piada de José Vasconcelos na qual o
caubói John Wayne, ao se encontrar cercado por milhares de índios, não teve
alternativa senão tornar-se ele próprio um índio.
Estou mencionando este filme para
falar de outro: o brasileiro “Alemão” de José Belmonte, em que Caio Blat,
Milhem Cortaz, Otávio Müller e Gabriel Braga Nunes são policiais infiltrados no
morro do Alemão no dia em que aquela favela foi invadida pela polícia. Trata-se
de outra situação equivalente que o diretor de “Se Nada mais der Certo” (2008)
desenvolve com extrema competência. A perseguição de moto pelas vielas do
morro, por exemplo, já revela o seu domínio sobre a ambientação e o ritmo da
história. A maior parte deste drama, porém, se desenrola dentro do esconderijo
onde os policiais tentavam se proteger e isso acaba trasformando a narrativa
numa espécie de peça teatral, com a densidade de “Entre Quatro Paredes” de Jean Paul
Sartre.
Sem a estatura da marca “Tropa de Elite” criada por José Padilha, este “Alemão”
de José Belmonte marca o abandono pelo diretor daquele tom positivo e
esperançoso que vimos em “Se Nada mais der Certo”. O roteiro, no entanto,
mantem a proposta de cruzar as linhas da trama, ou seja, de entrelaçar as
trajetórias abordadas pelo filme, isto é, misturar os problemas individuais com
as questões sociais e políticas: os romances secretos e as articulações palacianas.
Antônio Fagundes interpreta o delegado, provavelmente fictício, que teria
concebido o projeto inicial de ocupar de surpresa o complexo do Alemão em
novembro de 2010. Numa cena, ele mostra a sua contrariedade de ter o seu plano
incorporado pelo governo, sem o cuidado que merecia.
De outro lado, o chefe do
tráfico vivido por Cauã Reymond precisa fingir que não se abala ao saber que a
mãe do seu filho se acha presa, por acaso, no mesmo esconderijo em que um grupo
de policiais infiltrados no morro como informantes se acha entocado. Essa
miniatura da vida humana nas cidades é desenhada pelo filme como uma antecipação
do inferno, em todos se colocam contra todos, mesmo sem perder a capacidade de
manifestar afetos, medos e simpatias. Um universo de perigo e violência do qual
não existe fuga possível, nem para o matagal que cerca o morro do Alemão e que,
pacientemente, espera o dia em que será trocado por mais algumas centenas de
barracos. O diretor nos revela que o tema do filme é o sacrifício dos homens,
mas, poderíamos acrescentar que é também o da vida sobre a terra.
ALEMÃO
Brasil, 2013, 109 min, 16 anos
gênero docudrama/ policial
Distribuição Downtown Filmes
Direção José Eduardo Belmonte
Com Caio Blat, Milhem Cortaz, Otávio Müller,
Gabriel Braga Nunes, Antonio Fagundes, Cauã Reymond
COTAÇÃO
* * *
B O M
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