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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Surpresas, novidades e deslumbramento visual em "Branca de Neve e o Caçador"


Há uma cena no início de "Branca de Neve e o Caçador" em que a heroína está presa em um calabouço pela Rainha má e reza o Pai Nosso por inteiro, provavelmente para deixar claro que a história se passa num reino cristão da Idade Média. Isso porque a trama do filme se aproxima mais da mitologia celta anterior à conversão da Grã Bretanha ao cristianismo – povoada por anões, duendes, fadas e bosques encantados – do que da tradição popular alemã, de onde foi adaptada pelos irmãos Grimm, no século XIX. Por outro lado, a cenografia e a caracterização dos personagens buscam uma visão, digamos, realista dos castelos e aldeias feudais, onde predomina a lama e a sujeira. Muito do filme, aliás, se manifesta meramente por meio de imagens. Por exemplo, os soldados encantados da Rainha má são feitos de carvão e ela mesma se compõe de uma gosma negra idêntica ao petróleo, talvez para mandar um recado ecológico à platéia.
Aí se destaca a exuberância da direção de arte de David Warren (“A Invenção de Hugo Cabret” e “Seeney Todd – o barbeiro demoníaco da Rua Fleet”), criando uma atmosfera radical de conto de fadas, com duendes de impressionante delicadeza e um troll deveras horripilante. O humor fica por conta dos anões, que se diferenciam completamente dos gentis homenzinhos de Walt Disney, transformados em ferozes salteadores em lugar de mineiros humildes e pacatos. Interpretada com empenho por Charlize Theron, a feiticeira que se fez tirana mantém a sua beleza física roubando o alento vital das meninas do lugar, como uma espécie de vampiro, na linha da Condessa Bathory. Todo o país se torna estéril e miserável até que, após a puberdade, a princesa Branca de Neve traz esperança de redenção e vitalidade para o povo. Nesse sentido, representa o próprio culto ao feminino professado pelos celtas primitivos e pagãos.
Tudo o que já estava no desenho animado de Walt Disney é transfigurado agora num registro mais épico e quase sociológico. Isso se manifesta no tratamento dado à relação entre Branca e o personagem do caçador – aqui especialmente valorizado. E na convocação de outro mito medieval, para ampliar a aparência de relato histórico do filme, que é o de Joana D’Arc. Em alguns cartazes, a estrelinha Kirsten Stewart aparece a cavalo, envergando uma armadura, como a donzela guerreira de Orleãs e a Alice de Tim Burton. Ela, de fato, fotografa bem, mas boa parte do público talvez não a considere mais bonita que Charlize Theron. Ou seja, a premissa do filme é uma disputa em torno dessa categoria tão relativa ao gosto de cada um que é a de “a mais bela”.
BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR
Snow White and the Huntsman
EUA, 2012, 125 min, 12 anos
estreia 01 06 2012
gênero / conto de fadas / história
Distribuição Paramount
Direção Rupert Sanders
Com Kristen Stewart, Charlize Theron, Chris Hemsworth
COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M O

Um comentário:

Enaldo Soares disse...

Se não fosse o post eu pensaria que é mais um filme bobagem sobre a Idade Média