Enquanto os devotos de Iemanjá festejavam a Rainha
do Mar, um grande homem de cinema deixava o mundo dos vivos. É até possível que
parte das flores, das palmas e do perfume das oferendas tenha embalado a
passagem do criador de filmes como “Santo Forte” e “Cabra Marcado pra Morrer”. Mais
útil, porém, do que comentar a morte do documentarista Eduardo Coutinho é falar
da vida e da importância deste artista, deste operário do gênero que ele
re-inventou durante sua carreira – felizmente vitoriosa e merecedora do reconhecimento
geral que ele conquistou, por parte do público, dos estudiosos e dos críticos, de
todas as tendências. Ele mesmo, aliás, era um teórico – assim como foram os
mestres, como Eisenstein, Hitchcock, Rosselini e Humberto Mauro. Coutinho
pertencia a esse panteão muito restrito dos realizadores que, além de criar,
pensavam o cinema, ou seja, desenvolviam análises e conceitos sobre a sua arte.
Como é o caso das suas reflexões sobre as fronteiras entre o documentário, a ficção
e a chamada vida real, especialmente em obras seminais como “Jogo de Cena” (foto acima). O
trabalho de Eduardo Coutinho colocou esse gênero de filme no centro da atividade
cultural brasileira e, por isso, ele entrou para a nossa história. Mas é importante
que a multidão de seus seguidores tome os 20 filmes que ele dirigiu como
marcos, ou paradigmas, e não como padrões a serem imitados. Que seu método de
trabalho seja um exemplo para todos nós, mas que seu estilo não se transforme
em maneirismo. Amém...
Triste fim, como os dos grandes heróis, que desbravam, conquistam, inovam, trazem à luz o que doravante permanecia adormecido...vá em paz!
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