
Me perguntaram porque considero Rodrigo Garcia um bom diretor. Principalmente porque estebelece uma
mise en scène em que se produzem significados, além daquilo que se acha escrito no roteiro. Evita longas e reiterativas conversas para explicar o que acontece, ao deixar que os gestos e olhares forneçam as informações visuais necessárias ao entendimento das cenas. Às vezes um único olhar por parte do intérprete consegue dizer tudo sobre o personagem. A primeira sequencia, por exemplo, já é notável pela concisão narrativa. Num primeiro quadro um casal de adolescentes se beija. Corta para a moça já grávida. Logo na terceira tomada, ela dá á luz uma criança. Em todas as etapas, sem recorrer a diálogos, a direção evidencia a perplexidade no rosto da garota. Primeiro em relação ao próprio sexo; em seguida, à gravidez, ao parto e, acima de tudo, ao peso da maternidade. Numa ironia final, vemos que cartas jamais abertas pelos destinatários se mostram mais eloquentes do que seriam se chegassem a ser lidas. Isso basta, ou não?
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