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domingo, 19 de fevereiro de 2017

Federico Fellini foi um dos diretores que melhor incorporou a "carnavalização"




O diretor italiano comandando sua orquestra.

O filósofo russo Mikhail Bakhtin, um dos fundadores da semiótica, falecido em 1975 aos 80 anos, formulou o conceito de “carnavalização”, como parte de uma teoria geral do humor. 
Para ele, o carnaval representa um conjunto de manifestações da cultura popular medieval, além de um princípio para a compreensão de mundo que, ao ser transportado para obras literárias, chama-se “carnavalização da literatura”. De modo simplificado, ela se manifesta pela inversão das formas consagradas. Quando essa atitude é passada para o cinema, o primeiro cineasta a ser lembrado é Federico Fellini.

O filme de Fellini em que melhor se percebe essa postura de inversão é “Satyricon”, realizado em 1969. Ambientado na Roma no tempo de Nero, o roteiro se inspira no texto do cronista Petrônio, que vivia naquela época e frequentava a corte do imperador. 

O protagonista é o jovem Encólpio, que lamenta a perda de seu amante Gitone para o seu amigo Ascilto. A carnavalização felliniana se manifesta na própria forma do filme que se mostrava erótico, extravagante e escandaloso, enquanto a corrente dominante do cinema focalizava as mais sérias questões políticas e existenciais. 


“Satyricon de Fellini” se encontra numa caixa junto com outros três títulos do diretor. Numa linha estética semelhante, temos “Roma de Fellini”, de 1972, que pode ser definido como um filme-ensaio sobre a própria memória do cineasta. Por meio de lembranças ficcionadas da sua juventude, e de algumas cenas da cidade no tempo em que o filme foi rodado, Federico reconstrói a Roma da sua imaginação. 

Parte de "Roma de Fellini", de 1972

Em seu último filme, “A Voz da Lua”, de 1990, o cineasta retorna àquela mesma atmosfera onírica e poética. O filme é armado pelos devaneios de um lunático, interpretado pelo cômico Roberto Benigni que, mais tarde, seria premiado com o Oscar por “A Vida é Bela”. 

E finalmente a caixa se completa com o documentário “Ciao Federico”, de 1970, filmado nos bastidores da produção de "Satyricon", com a participação de Giulietta Massina, Capuccine e do próprio Federico. Isso e mais uma hora de entrevistas e depoimentos na coleção da Versátil com o título de “A Arte de Federico Fellini”.

Filmes dos Irmãos Marx são diversão garantida para as platéias.

Quarteto era composto por Groucho, Harpo, Chico e Zeppo.

Para alegrar o carnaval dos cinéfilos, sugerimos DVDs com os cinco primeiros filmes dos Irmãos Marx, esse o mais completo e competente time de humoristas da história do cinema americano. Essa coleção da Universal inclui "No Hotel da Fuzarca", "Os Galhofeiros", "Os Quatro Batutas", "Os Gênios da Pelota e Diabo a Quatro"
Groucho, Chico e Harpo já estavam numa outra caixa da Warner, também disponível no Brasil, e contendo outras seis comédias insuperáveis: A Grande Loja, No Tempo da Onça, Um Dia nas Corridas, Os Irmãos Marx no Circo, Uma Noite em Casablanca e Uma Noite na ÓperaEstes últimos são espetáculos musicais de produção requintada.
O que marca o trabalho dos Irmãos Marx é a coordenação de três diferentes estilos de comicidade. Em primeiro lugar, o humor verbal e anárquico de Groucho, famoso por frases de efeito, como “não frequento clubes que me aceitem como sócio”. Depois, as piadas visuais criadas pelo Harpo, que jamais falava, e cujas gags partiam para o absurdo. E, finalmente, o Chico. 

Além de fazer o tipo do imigrante italiano que nunca conseguia se expressar em inglês corretamente, em todos os filmes, ele costumava apresentar um número de humor musical, tocando piano de um modo caricato e muito engraçado. Os Irmãos Marx
 significam diversão garantida.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Chanchada "Tudo Azul" traz consigo homenagem ao carnaval e crítica social


Letreiro do filme de Moacyr Fenelon
Quando se pensa em juntar filmes e carnaval, a associação mais imediata são as comédias carnavalescas que dominavam o nosso cinema entre os anos de 1940 e 1960. 
Esse tipo de espetáculo conhecido como “chanchada”, entretanto, começou a perder força com o advento da televisão. Mas algumas obras primas do gênero podem ser vistas em DVD ou no Youtube. Entre elas, o magnífico “Tudo Azul” dirigido por Moacyr Fenelon, com roteiro de Henrique Pongetti, em 1952.

Era uma comédia abertamente crítica e social, como se percebe em seu carro chefe “Lata d’agua na cabeça”, uma marchinha de Jota Junior. Enquanto Marlene cantava, a imagem mostrava lavadeiras reais, filmadas de verdade, numa favela de morro.


Cena do musical "Tudo Azul"

O lado especificamente satírico e político de “Tudo Azul”, porém, aparece em outros números musicais do filme, como é caso do célebre Maria Candelária, cantada pelo saudoso Blecaute. 

O filme traz outras marchinhas que impressionam pela temática social, como por exemplo “O Apanhador de Papel”, lançada pelo grupo Quatro Ases e um Coringa. A imagem mostra moradores de rua apanhando restos de papel para reciclar, enquanto pessoas bem vestidas saem alegremente dos bares restaurantes.


Com um elenco repleto de estrelas da década de 1950, ou seja, Virgínia Lane, Luiz Delfino, Linda Batista, Dalva de Oliveira, Jorge Goulart e a participação especial da Escola de Samba Império Serrano. O filme "Tudo Azul", voltou em 2002 em cópia restaurada, quando foi relançado pelo SESC.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Marcelo Gomes faz um encantador trabalho em "Cinema, Aspirinas e Urubus"


João Miguel (esquerda) e Peter Ketnath (direita) protagonizam o longa

Hoje vamos voltar uns 12 anos no tempo e relembrar um belo filme para ser revisitado em DVD ou na TV a cabo. É “Cinema, Aspirinas e Urubus”.A direção era de Marcelo Gomes e, no elenco estavam Peter Ketnath, João Miguel e Hermila Guedes.
Em plena 2ª Guerra, o sertanejo nordestino Ranulpho segue em busca de vida melhor no Rio de Janeiro. Nesse caminho, porém, ele encontra um aventureiro alemão que, numa direção oposta, foge da guerra na Europa e pretende se embrenhar cada vez mais pelo sertão nordestino. O estrangeiro sai do Rio de Janeiro e se dirige ao Nordeste do Brasil num caminhão carregado de frascos de aspirina e de filmes para a divulgação desse produto, que ainda não era conhecido entre nos.

Desse encontro, resulta uma amizade quase impossível, que permite ao então estreante diretor pernambucano Marcelo Gomes desenvolver um curioso ensaio sobre o confronto e a atração entre duas culturas diferentes. Ou seja, traz um olhar completamente novo sobre o processo de integração do Brasil arcaico à moderna civilização ocidental que, no filme, é simbolizada pelo rádio, pelo cinema, pelo motor a gasolina e pela indústria farmacêutica.

O rádio do caminhão transmite os sucessos da Rádio Nacional, enquanto um projetor portátil exibe filmes de propaganda – esse é o saboroso lado documental do filme. No Festival do Rio de Janeiro de 2004, Cinema, Aspirinas e Urubus, ganhou o Prêmio Especial do Júri, além do prêmio de Melhor Ator para João Miguel, que interpreta o sertanejo Ranulpho. Na 29ª Mostra Internacional de Cinema SP, o ator repetiu a façanha e o filme foi a primeira produção brasileira a receber o prêmio de Melhor Filme da Mostra.


Filme tem o sertão de Pernambuco como cenário

Essa impressionante série de troféus começou no Festival de Cannes, em que recebeu o Prêmio da Educação Nacional, concedido pelo Ministério de Educação da França. Caberia, então, perguntar se esta é uma peça educativa. De modo geral, qualquer filme é capaz de educar, desde que apresente qualidade artística. Mas este trabalho de Marcelo Gomes é um curioso exemplo de ensaio histórico e sociológico sobre o Brasil dos anos de 1940.

A história se passa em 1942, no interior de Pernambuco, onde se cruzam um sertanejo que foge da seca e um alemão que foge da guerra, vendendo aspirina pelo sertão. Só que além dessas figuras centrais, “Cinema, Aspirinas e Urubus” quase atribui status de personagem a determinados meios de comunicação que promoveram a inserção do Brasil no mundo contemporâneo, ou seja, o cinema e o rádio.