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sábado, 31 de dezembro de 2016

"O Menino no Espelho" é um encantador e filosófico longa inspirado na obra de Sabino


Filme narra a infância de um garoto - inspirado no escritor - durante os anos 30

Neste ano de 2016 foi lançado o filme brasileiro
“O Escaravelho do Diabo”, que pertence a um gênero raro entre nós que é o filme juvenil. Como a gente não tem parâmetros para a comparação, vamos sugerir a revisão de um belo exemplo lançado em 2014 que foi "O Menino no Espelho" - filme o qual pode ser visto em DVD ou na TV a cabo. 
Quem viu os filmes mineiros "Cinco Frações de uma Quase História", "Batismo de Sangue" e "Depois daquele Baile" percebeu que havia um capricho a mais naquelas produções de Guilherme Fiuza Zenha. Pois aquela qualidade adquire agora um grau superlativo, com esta obra de puro encantamento. 

É a adaptação de um romance autobiográfico de Fernando Sabino que faleceu há 10 anos, sobre a sua infância em Belo Horizonte por volta de 1938, época do levante dos integralistas – que aliás aparece no personagem muito bem trabalhado de Ricardo Blat. Assim como todo os interpretes, principalmente os infantis, Mateus Solano está excelente como o pai. Mas quem brilha mesmo é o novo astro Lino Facioli – que nasceu em Ribeirão Preto e, desde os 7 trabalha no cinema na Inglaterra, onde já fez 7 filmes e 6 episódios da série "The Game of Thrones". O garoto é de fato um fenômeno em termos de comunicabilidade e simpatia...

Guilherme Fiuza Zenha, o diretor de "O Menino no Espelho"

O roteiro consegue se fazer ao mesmo tempo fantástico e realista, educativo e divertidíssimo, irreverente e filosófico ao abordar a inevitável dualidade das crianças sempre em confronto com a sociedade dos adultos. Mas um dos pontos altos de "O Menino no Espelho" é a direção de arte que nos permite viajar para o Brasil, bem mais simples e tão belo, como era há 80 anos. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 22 12 2016


"Minha Mãe É uma Peça 2" traz Paulo Gustavo de volta aos cinemas

Nesta semana vivemos um acontecimento raro. Trata-se do número 1000, agora aplicado à quantidade de salas de cinema em que estreia um filme brasileiro. Você pode não acreditar, ou julgar que estamos falando de uma reedição do fenômeno “10 Mandamentos”. Mas na verdade é uma nova comédia de Paulo Gustavo, o grande nome atual do humorismo televisivo: “Minha Mãe é uma Peça 2”

A equipe e o elenco são os mesmos, sempre girado em torno da protagonista, a Dona Hermínia – livremente inspirada na própria mãe do cômico, que Paulo Gustavo caracteriza principalmente por meio da voz. É um tom cortante e um tanto rude, no mínimo firme e afirmativo.

Agora ela está financeiramente mais resolvida, porque passou a fazer um programa de TV. Continua cheia de problemas com a família e falando no mesmo tom. Mas isso é quase inevitável para os humoristas populares. Lembremos dos astros do cinema no século passado como, por exemplo, Zé Trindade e Ronald Golias. O fato é que o humorismo no cinema brasileiro descende diretamente do rádio. É dessa mídia que migraram os comediantes mais famosos. Daí a importância da voz. 

Mas a maior aposta do cinema adulto e natalino é “Capitão Fantástico”, protagonizado por Vigo Mortensen – esse nova-iorquino com pinta de dinamarquês, que já fez mais de 30 filmes e, no entanto, prossegue mais conhecido como um dos heróis de “O Senhor dos Anéis”.

Ele faz o papel de um pai de seis crianças, que se afasta da cidade e resolve criar os filhos numa floresta, longe da escola e da civilização. O roteiro constrói a sua história como uma metáfora da trajetória de Cristo. Ele é o mestre de seus filhos que, na verdade, reluta em se tornar adulto.


"O Lamento", inquietante filme de horror e suspense sul coreano, tem como diretor Hong-Jin Na, um cineasta de prestígio no oriente. A história é sobre uma misteriosa epidemia que vem matando os moradores de um vilarejo, na Coreia, é claro.

Da França, chega “O Que Está Por Vir”, que é como foi feita a tradução do título original L'Avenir -que significa, simplesmente, “O Futuro”. Todavia, o filme trata apenas sobre o presente. Ou seja, do cotidiano triste e desinteressante da personagem interpretada por Isabelle Huppert. A direção é de Mia Hansen-Løve que, aos 35 anos começou como assistente de Olivier Assayas e já fez dois longas.

Isabelle Hupert desenvolve aqui uma personagem que é o oposto daquela criada por Paul Verhoven para o filme “Elle”. Trata-se, provavelmente, de uma febre de minimalismo que começa a tomar conta de alguns realizadores do cinema francês...

Porém o espetáculo mais atraente e encantador da semana é um filme musical de animação, "Sing - Quem Canta Seus Males Espanta". A proposta do diretor e roteirista inglês Garth Jennings é montar uma história em que cantores e músicos são animais. Tudo gira em torno de um concurso de canto patrocinado por um coala. A caracterização dos animais é tão bem feita que ficamos na dúvida se eles são bichos mesmo ou se são gente como a gente.

Na competição, uma menina porco espinho é roqueira, um gorila é um cantor romântico, uma elefanta é a cantora pop e um rato mal caráter e ligado aos gangsters tem uma voz sensacional – talvez numa alusão a Frank Sinatra. Com humor, emoção e suspense servindo de tempero, o filme significa diversão mais do que garantida.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Escritor de "Rogue One", Tony Gilroy tem notável carreira como cineasta


Tony Gilroy, diretor de "Conduta de Risco" e "Duplicidade"

As pessoas estranham ao ver o nome de Tony Gilroy como roteirista da aventura espacial “Rogue One - Uma História Star Wars”. Hoje de 60 anos, o novaiorquino vem consolidando a posição de um dos mais respeitados cineastas da indústria desde o final dos anos 1990, quando surpreendeu o mercado com o texto de “O Advogado do Diabo”, no qual criticava o sistema jurídico norte americano. Ao longo da carreira, ele produziu 5 títulos, entre os quais a prestigiada série “The House of Cards”. Escreveu 19 roteiros e dirigiu apenas 4. Entre eles, “O Legado Bourne”, no qual formatou esse personagem que protagonizou cinco filmes. Por isso é interessante rever os outros dois que ele escreveu e dirigiu, ou seja, os seus trabalhos mais autorais. São eles “Conduta de Risco”, de 2007, e “Duplicidade”, de 2009.        

A ideia para “Conduta de Risco” (trailer acima) deve ter surgido quando Gilroy pesquisava as grandes firmas de advocacia para “O Advogado do Diabo”. Ele imaginou um executivo que resolve se contrapor à própria empresa em que trabalha. Mais ou menos como o personagem Bourne – o agente da CIA que se transforma em inimigo n. 1 da instituição. Neste seu primeiro trabalho como diretor, ele mostra a enrascada em que se envolve um advogado que era do bem, mesmo sem sabê-lo.
Assim como o herói de “Rede de Intrigas”, que Sidney Lumet fez em 1976, o principal advogado de uma grande firma vivido por Tom Wilkinson enlouquece e começa a revelar os podres de seu maior cliente. Mas o protagonista do espetáculo é o personagem de George Clooney, seu colega e amigo que, por sua vez, vive uma dolorosa crise pessoal. Até para tentar se manter vivo ele não tem outra saída a não ser virar a mesa também. Como boa parte dos outros trabalhos de Tony Gilroy, “Conduta de Risco” reedita a luta de Davi contra Golias.

Já em “Duplicidade” (trailer acima) ele traz Clive Owen e Julia Roberts, além de Paul Giamatti e Tom Wilkinson. A trama até caberia na classificação de comédia de suspense, se não puxasse mais pelo sarcasmo do que pela comicidade. E se não apresentasse uma estrutura que joga com as expectativas que ela mesma vai oferecendo ao espectador. O casal de protagonistas se conhece em campos opostos, um trabalhando para a CIA e o outro para o serviço secreto britânico. 

Anos depois se reencontram, agora empregados no ramo de espionagem industrial, outra vez para patrões diferentes e que competem furiosamente entre si. O prazer da trama é ser enganado e desenganado sucessivamente pelas reviravoltas espiraladas com que Gilroy constrói o roteiro. Seu pano de fundo é guerra quente travada pelas indústrias farmacêuticas e a reflexão de como o futurologista italiano Roberto Vacca estava correto em seu livro “Il Mediovo Prossimo Venturo” (A Idade Média do Futuro, lançado em 1971). Ele dizia que a meta principal das grandes empresas seria a de se tornarem inexpugnáveis, assim como os feudos medievais. Dois filmes para ver e rever: “Conduta de risco” e “Duplicidade”. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Novo filme de Pablo Larraín, "Neruda" é frustrante e desapontador


Luis Gnecco vive o poeta revolucionário, Mercedes Moran interpreta sua amante

Em 2008, o cineasta chileno Pablo Larraín se tornou conhecido com o filme “Tony Manero”, sobre um psicopata que era obcecada por John Travolta. Em 2012, ficou famoso pelo docudrama “No”, no qual reconstituía a batalha publicitária que envolveu o plebiscito pelo fim do governo Pinochet. Em 2015 Larrain fez “O Clube”, sobre uma casa de praia para a qual os padres pecadores eram exilados. Por este trabalho, ele foi premiado nos festivais de Berlin, Havana, Lima, Chicago, Austin, Mar del Plata e Montreal. Com essa coleção de prêmios, ele ganhou fôlego para fazer “Neruda” que está em cartaz nos cinemas da cidade

A ação se inicia em 1948, quando o poeta e senador do Partido Comunista Pablo Neruda se acha numa sessão do Senado chileno. Era uma situação semelhante ao líder do Partido Comunista Brasileiro, Luis Carlos Prestes, que antes de ser cassado, foi senador da República entre 1946 e 1948. Numa amostra do que seria o resto do filme, Pablo Larraín situou primeira cena no banheiro do Senado. Quer dizer, mais do que uma reflexão histórica sobre aquele episódio, a proposta é reunir cenas de impacto envolvendo Pablo Neruda, um astro da poesia internacional, e o mexicano Gael Garcia Bernal, um astro do cinema, no papel do policial que o persegue.

Com exceção do clássico “O Carteiro e o Poeta” de 1994, o poeta agraciado com o Prêmio Nobel em 197 1não tem a sorte com o cinema que de fato merecia. O filme anterior sobre a sua biografia, feito por Manuel Basoalto em 2014, foi apenas sofrível, porque submetia a ordem dramática da narrativa a um discurso que Neruda fez no dia de sua posse como senador. Mas é possível que este trabalho de Pablo Larraín seja ainda mais frustrante. Limita-se a uma perseguição, ou seja, o policial interpretado por Gael Garcia correndo atrás de Neruda que ingressara na clandestinidade e permanecia por certo tempo no país, se mudando de um esconderijo para outro. 



Gael García Bernal, que já viveu Che Guevara, agora é o tirano à caça dos comunistas

Nesse processo totalmente linear, quase não há conflito e o filme se ocupa em levantar curiosidades sobre o protagonista – como por exemplo a sua vaidade e o gosto pela bebida e pelas mulheres. Ou seja, o filme “Neruda” é um bom exemplo de confusão entre a ação física e a ação dramática.

Filme de Matheus Souza mostra que há esperanças para a comédia nacional


Fábio Porchat (esq.) e Leandro Soares (dir.) em cena do longa

Logo nas primeiras imagens e diálogos do filme, já se escutam as primeiras gargalhadas. Isso não determina, mas indica para a comédia “Tamo Junto” que se inicia uma possibilidade de acerto. Os momentos seguintes mostram-se ainda mais promissores. É quando os tipos principais do enredo começam a ser apresentados: um rapaz simpático e boa pinta, mas incompetente por inteiro, e seu amigo de infância. Esse então uma nulidade completa, que tem aquele garotão como ídolo e modelo de virilidade. Não estamos falando da dupla Jerry Lewis e Dean Martin, mas de comediantes brasileiros da nova geração.

E essa nova dupla é formada pelo digamos... “galã” Leandro Soares e pelo clow e também diretor do filme Matheus Souza. Esse então é uma figura notável porque, além de ser naturalmente engraçado, é capaz de elaborar um texto cômico e inteligente, em especial por evitar clichês e lugares comuns. Aliás, a comparação com Jerry Lewis não se aplica inteiramente, porque o humor de Matheus Souza é mais verbal do que físico. Ele faz o tipo do sujeito inadequado ao mundo real: um nerd de quase 30 anos que ainda guarda os videogames com os quais brincava na infância.


Em 2008 Matheus teve um sinal claro de reconhecimento, quando o seu trabalho “Apenas o Fim” ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri popular no Festival do Rio. Ou seja, teve a aprovação de um público bem volumoso. E em seguida, trabalhando com Domingos de Oliveira em “BR 716”, recebeu do mestre um elogio igualmente de peso. Para Domingos, Matheus é o melhor ator e autor de sua geração. A propósito há vários elementos comuns entre “Tamo Junto” e o último filme de Domingos,  que é “BR 716”.

Matheus Souza, Alice Wegmann, Sophie Charlotte e Leandro Soares formam o elenco


Se nos anos de 1960, Domingos de Oliveira se valia do encanto de Leila Diniz, Matheus investe na beleza e na comunicabilidade de Sophie Charlotte. Ao lado dela, aliás, ele começou a carreira ainda muito jovem no Teatro Tablado. A propósito, a atuação de Matheuz lembra um pouco a de Woody Allen, no começo da carreira, e a de Paulo José, em clássicos como “Todas as Mulheres do Mundo”. Ambos os filmes giram em torno do apartamento dos pais, em que os personagens aprontam as peripécias que fazem o roteiro do filme. Em resumo: há esperança para a comédia brasileira.

Capitão Fantástico é, involuntariamente, uma parábola da história de Cristo


Viggo Mortensen (de amarelo) é o protagonista deste filme

Houve época em que o natal pautava diretamente a programação dos cinemas. Mais precisamente, entre os anos de 1950 e 1970, quando os adultos de hoje ainda eram jovens, sempre havia filmes natalinos em cartaz.
Alguns títulos eram reprisados todos os anos, como o lacrimoso melodrama espanhol “Marcelino Pão e Vinho”. Ou os épicos “Os 10 Mandamentos” (trailer acima) e “Ben Hur”. No entanto, o maior interesse ficava com filmes sobre a vida de Cristo. “O Rei dos Reis”, de Nicholas Ray, rivalizava com “A Maior História de Todos os Tempos”, de George Stevens. O mais incrível é essa tradição continua, ainda que disfarçada em roteiros de histórias recentes. 

Por exemplo, no próximo dia 22, em estreia internacional, será lançado “Capitão Fantástico”, com Viggo Mortensen no centro do elenco, ele que foi um dos heróis em “O Senhor dos Anéis”. Ambicioso, esse título teve destaque nos festivais de Cannes e Sundance deste ano. Provavelmente não houve essa intenção, mas ele funciona quase como uma parábola da trajetória de Jesus Cristo. Viggo Mortensen interpreta um visionário que vive afastado do mundo urbano, em companhia de seus 6 filhos. Na verdade seus discípulos, porque as crianças não frequentam a escola e o pai lhes ensina tudo o que elas precisam saber e que está contido na biblioteca de uma casinha no meio da floresta.

Num dos exageros de caracterização em que o filme às vezes escorrega, vemos que ele não ensina apenas o conteúdo dos livros, mas faz de seus filhos especialistas em Yoga e caçadores com treinamento militar. E todos são marxistas, oscilando entre o trotskismo e o maoísmo. Todos menos um, que se encanta com as benesses do capitalismo, na casa dos primos. E porque o roteiro precisava que um deles cumprisse a função de Judas.



Ficção narra a história de uma família bem distante dos padrões


Apesar de todas as boas intenções, a realidade cobra o seu preço e o nosso herói vai enfrentar a família do poderoso sogro. Esse é o papel de Frank Langella, atuando aqui como um misto de Nixon e Poncius Pilatus. Este é o primeiro longa dirigido pelo ator Math Ross, que, aliás,

já trabalhou em 44 filmes. Imitando um parlamentar politiqueiro, ele tentou contentar todas as tribos da plateia, de velhos hippies a novos republicanos. E assim, num esquema “self service” o filme “Capitão Fantástico” nos oferece dois finais... Nenhum dos dois satisfatórios.

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 15 11 2016

Para muita gente o lançamento mais importante da semana, talvez de toda a temporada, seja “Rogue One - Uma História Star Wars”. É a primeira produção da franquia com um elenco diferente da formação original. O diretor é o jovem inglês Ben Mendelsohn, especialista em efeitos visuais - até porque o forte do filme é a quantidade de criaturas alienígenas atuando ao lado dos personagens centrais. 
A principal figura da equipe, no entanto, é o grande roteirista Tony Gilroy - que inclusive desenvolveu a série de longas do agente Jason Bourne. Mas a sua credencial mais importante é o drama político “Conduta de Risco” que ele fez em 2008 com George Clooney.

Sob o comando da inglesa Felicity Jones, que vimos em “A Teoria de Tudo”, os guerreiros rebeldes planejam roubar os planos da Estrela da Morte para derrotar a opressão do Império.


Para outro tipo de espectador, o filme preferido da semana pode ser “Sully - O Herói do Rio Hudson”, dirigido pelo eterno caubói Clint Eastwood. Quem assume o cargo de herói é Tom Hanks, no papel de um comandante que salva uma aeronave pousando em pleno Rio Hudson.

O ato de heroísmo acontece logo nos começo do filme e até está no trailer. O drama vem em seguida, com o julgamento do aviador pelas autoridades americanas.


Para aquela parcela mais politizada do público, temos o decepcionante “Neruda” de Pablo Larraín, que recentemente lotou a sua prateleira de troféus com “O Clube” e agora tem essa aventura vivida pelo poeta chileno indicada para concorrer ao Golden Globe de filme estrangeiro. A narrativa não passa de uma longa perseguição na qual o chefe de polícia vivido por Gael Garcia Bernal tenta prender o poeta e senador comunista. Nada mais que isso.


Os cinéfilos mais renitentes talvez não deixem escapar esse drama familiar romeno bastante elogiado que é "Sieranevada". É dirigido por Cristi Puiu, famosos pela “Morte do Sr. Lazaresco” de 2005 e detentor de 35 prêmios internacionais – a maioria deles na Europa oriental.

Com o lado positivo de escalar veteranos, como Norival Rizzo, Zecarlos Machado e Imara Reis, Newton Canito que fazia series policiais de TV, agora lança uma comédia chamada “Magal e os Formigas”. O astro é Sidney Nagal... É sem dúvida uma curiosidade.

Quanto a mim não há dúvida que vou assistir novamente a melhor animação da temporada e talvez do ano: “Sing- Quem Canta Seus Males Espanta”. O diretor é o criativo inglês Garth Jennings que, em 2005, fez a ficção científica alternativa “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. O filme derruba qualquer baixo astral e, mesmo em sua cópia dublada, as músicas estão mantidas em sua versão original. O que é essencial porque o filme “Sing” é uma homenagem à canção americana. 

sábado, 3 de dezembro de 2016

Perturbador e agressivo, Paul Verhoeven volta aos cinemas com "Elle"


Isabelle Huppert é a protagonista do novo filme de Verhoeven

Chega aos cinemas mais um controvertido trabalho do holandês Paul Verhoeven, muito procurado na recente 40ª Mostra internacional de São Paulo. Há mais de 20 anos aquele cineasta lançava “Instinto Selvagem”, focalizando uma figura feminina que impactou o publico da época pela agressividade sexual e por conta de um componente de conotação maligna em sua personalidade. Sharon Stone cruzava e descruzava as pernas, atribuindo assim uma marca gestual para a sua personagem demoníaca. Aliás, muito menos ambígua e assustadora do que esta Michele, interpretada por Isabelle Hupert. Na comparação com a francesa, aquela mulher fatal americana mais parece uma santinha de colégio interno.
Com o desconcertante “Elle”, o cineasta holandês elaborou uma das maiores sensações da 40ª Mostra. O filme não permite classificação, embora seja geralmente rotulado como “de suspense”. No entanto, são tantas as risadas que ele provoca que se encaixaria também como comédia, ou melhor, uma farsa de humor negro. Um dos parâmetros trabalhados no roteiro é de fato o cinema de Hitchcock, numa referencia mais clara pelo uso da trilha sonora e pela ambientação predominantemente noturna. Mas uma breve reflexão sobre a protagonista nos leva a concluir que estamos diante de um estudo sobre a dualidade humana.


No que se refere à Michele, encarnada por Isabelle Hupert, nada é o que parece ser. Ela é estuprada, dentro de casa, na primeira cena do filme e já surpreende com a frieza de sua reação. Em vez de se queixar à polícia (o que é o mais devido), faz apenas um exame de sangue para ver se foi contaminada. Mais tarde, se masturba ao espreitar um jovem vizinho pela janela. E tem um caso com o marido da melhor amiga, ainda que mantenha uma aparência diáfana e quase assexuada que, de fato, lembra as loiras de Hitchcock. É generosa com a mãe e o filho, embora costume humilha-los diante de todos. E assim por diante, essas oposições reunidas nessa mesma personagem se sucedem, diversas vezes ao longo do filme. Até alcançar o supremo e sintético paradoxo de uma pessoa que é, ao mesmo, tempo vítima e agressora. 

"Elle" trata da dualidade humana em estilo de lembrar Hitchcock

Por meio desse estratagema ficcional, numa dramaturgia totalmente anti naturalista, a personagem central do filme “Elle” consiste numa construção abstrata que exprime os aspectos contraditórios do universo feminino. Isto é, os arquétipos opostos de Eva e de Lilith.