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segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Um Novo Despertar” é o terceiro (bom) filme que Jodie Foster dirige

A idéia da marionete que manipula o próprio dono já apareceu em histórias de horror como, por exemplo, em “Magia Negra” (1978), com direção de Richard Attenborough e Anthony Hopkins no papel do boneco. É mais uma edição do tema da criatura que se volta contra o criador, como no clássico gótico Frankenstein, ou nas muitas narrativas de ficção científica em que as máquinas se revoltam contra os humanos. Mas neste “Um Novo Despertar”, o terceiro filme dirigido por Jodie Foster, o personagem de Mel Gibson sofre uma ruptura psíquica e abre espaço para um alter ego, ou seja, uma extensão de si mesmo que assume o comando da sua existência. Esse “duplo”, que de resto é ele mesmo, toma a forma de um desses bichos de pelúcia que podemos “vestir” como uma luva e, usar os dedos para movimentar a sua boca, enquanto falamos por ele. Um brinquedo que se transformou em personagem de TV, em diversas séries infantis, depois de “Vila Sésamo”.
Neste caso, temos um castor de pelúcia, que Mel Gibson acha numa lata de lixo, momentos antes de tentar o suicídio. O inusitado é que ele enfia o tal fantoche no braço e não o tira mais de lá, nem para tomar banho ou fazer amor com a esposa, aliás, interpretada com a ostumeira competência pela própria Jodie Foster. E passa se comunicar com as pessoas como se o bicho de pano estivesse falando no lugar dele. Mas claro, todos vêm que é o próprioMel Gibson que fala, ainda que use uma voz estranha e um forte sotaque britânico para caracterizar o personagem do castor. Apesar de maluco e bastante tolo, esse procedimento serve a princípio para afastar a depressão e permitir o reatamento com a esposa de quem tinha se separado. Só que, ao passar do tempo, ela entra em colisão com essa farsa e tudo se complica.
O filme não segue o percurso costumeiro dos roteiros em que a dramaturgia se mistura com a psicanálise e toma o rumo de uma contundente alegoria da vida em família no mundo ocidental. Desprovido de todas as bóias salva-vidas que o Actor’s Studio e demais métodos de preparação do ator poderiam oferecer, Mel Gibson se entrega plenamente ao papel, numa atuação em que prova ser um artista de muitos recursos, independente de todas as vacilações em sua carreira.
Não se sabe direito por que motivo o protagonista se acha deprimido, ainda que seja um industrial profissionalmente bem sucedido e bem casado. Mas isso não tem grande importância na trama, fundamentada no desacerto dele com o filho mais velho que o rejeita a ponto de estudar meticulosamente os seus hábitos, só para não repeti-los no cotidiano. Apesar da melodia chapliniana pontuando a trilha sonora, trata-se aqui de um drama sobre o milenar conflito de gerações, em que o filho odeia o pai, que por sua vez odeia o pai e assim por diante. Mas o comando firme e suave de Jodie Foster atenua excessivo peso dessa corrente e mantém o filme em seu prumo, apesar de alguns transbordamentos emocionais.

UM NOVO DESPERTAR
The Beaver
estreia 27 05 2011
gênero drama /família
EUA, 2011, 100 min, Livre.
Distribuição Paris Filmes
Direção Jodie Foster.
Com Mel Gibson, Cherry Jones e Jodie Foster
COTAÇÃO

* * * *

ÓTIMO

"Inversão" de Edu Felistoque: equilibrado em termos de defeitos e qualidades

Em “Inversão”, o título do filme contém a essência da sua proposta, ou seja, os elementos do enredo acabam se invertendo ao longo da narrativa, aparentemente simples, de um empresário que é seqüestrado por uma quadrilha formada por pessoas que trabalhavam com ele. Há até uma cena que parece uma citação ou uma homenagem ao célebre curta “Palíndromo” (2001) de Phillipe Barcinski em que uma história é narrada em mão dupla, de frente para trás e vice versa. Há uma impressão de amadorismo que perpassa o filme inteiro, principalmente por causa de opção de filmar o tempo todo sem tripé, com a câmara sempre trepidando e procurando o ângulo em qualquer tomada. Nesse ponto há um exagero, que acaba causando certo desconforto visual, principalmente para quem assiste à projeção situado um pouco mais próximo da tela. A repetição exaustiva desse recurso acaba por desgastá-lo no próprio decorrer do filme e anular qualquer efeito que pudesse obter.
Mas há idéias bem interessantes na concepção do filme, como a tonalidade monocromática separando as cenas do crime, da sua investigação e dos flash-backs. É também curioso o hiper-realismo na composição de alguns personagens, contrastando com o artificialismo de outros. Exemplo disso é a truculência dos policiais em contraponto com a loira e bela delegada, que parece ter saído diretamente de um seriado americano e que, lá pelas tantas, resolve também entrar de cabeça na esculhambação geral. O mérito maior de “Inversão” é não abrir mão da proposta de se apresentar como um filme de ação, no sentido estrito do termo, e com todas as dificuldades narrativas que isso possa acarretar, como perseguições, pancadaria, tiroteios, e até uma queda de avião após do que os personagens se vêm perdidos numa selva. Nesse esforço se destaca a capacidade de sugerir climas e cenários por meio apenas da iluminação, da montagem e do empenho dos atores. Nisso, o diretor Edu Felistoque remete a um tipo de criação cinematográfica digamos clássica, que foi introduzida no Brasil pelos técnicos da Vera Cruz e, depois, aprimorada e amplamente aplicada nas séries e novelas de TV até os anos de 1990.



INVERSÃO
Brasil, 2009, 91 minutos, 16 anos
estreia 27 05 2011
gênero ação / policial
Direção Edu Felistoque
Com Alexandre Barillari, Edu Silva, Giselle Itié
COTAÇÃO
* *
REGULAR

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O que há de mais clássico nos recentes lançamentos de drama e comédia em DVD

Por coincidência, a distribuidora Versátil especializada em clássicos lança quase ao mesmo tempo um dos filmes mais engraçados dos anos 1970 junto com um dos dramas mais sérios e pungentes da história do cinema. Com o velho ícone do humor francês, Louis de Funès, "As Loucas Aventuras de Rabbi Jacob" é apresentado em versão restaurada e remasterizada. No caminho do casamento da filha, um homem repleto de preconceitos se encontra no meio de uma conspiração terrorista.
Para fugir de seus perseguidores, assume a identidade de um rabino americano, que é esperado num encontro de judeus em Paris. Assim se inicia uma série de trapalhadas e impagáveis confusões, terminando com uma mensagem de tolerância. Em 1974, esse filme permaneceu meses em cartaz em São Paulo e toca em temas que também insistem em ocupar as primeiras páginas dos jornais: o terrorismo e a briga entre israelense e palestinos, no meio da qual o presidente Obama acaba de meter a colher. Volta e meia aparece no cinema uma comédia usando essa matéria prima, como o recente "Santa Paciência", de produção inglesa.
Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, "Umberto D" é uma obra prima sobre o abandono social na velhice, fruto da parceria entre o mestre Vittorio De Sica e o roteirista Cesare Zavattini, a dupla responsável por monumentos do neo-realismo italiano, como "Ladrões de Bicicleta" e "Milagre em Milão". No início dos anos 1950, enquanto a economia italiana renascia, os idosos padeciam em função das miseráveis pensões pagas pelo governo. Um funcionário público aposentado é despejado por não conseguir pagar o aluguel de seu quarto. Em companhia de seu único amigo, um cachorrinho, o idoso Umberto vaga pelas ruas, com o único objetivo de sobreviver. Essa história é dolorosamente atual, principalmente aqui, onde a Previdência Social oferece segurança e dignidade somente para quem fez carreira como alto funcionário público.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Os Agentes do Destino" transforma a ficção científica em discussão metafísica

Autor de O Vingador do Futuro, O Homem Duplo, O Homem do Castelo Alto e outras obras primas do gênero chamado de “ficção-científica”, o americano Phillip K. Dick morreu em 1982, aos 52 anos, logo após conquistar a estabilidade financeira proporcionada pelo sucesso de Blade Runner – O Caçador de Andróides. Recorrendo ao gênero policial como um terreno de comparação, em termos de importância, seu trabalho se aproximava mais de Dostoievsky do que de Agatha Christie. Mais do que “científico” e baseado num conto de Dick, o filme Agentes do Destino oferece um suspense metafísico e meta-linguístico, ao colocar em pauta a questão do livre-arbítrio, na vida e na dramaturgia.
Matt Damon interpreta um jovem candidato ao Senado americano, com grande possibilidade de chegar à presidência. Após uma eleição, ele percebe que um grupo de pessoas interfere em sua vida para afastá-lo da mulher (Emily Bunt – O Lobisomen) – uma bailarina destinada a se tornar a maior coreógrafa do país – e considerada por ele o amor de sua vida. Os responsáveis pela intervenção são indivíduos com aparência de policiais e dotados de poderes mágicos que ele descobre serem anjos, ou emissários do divino, encarregados de zelar pelo cumprimento dos planos que Ele desenhara para os humanos. A cada “acidente” ou falha na “programação”, esses agentes entram em cena para promover uma “manipulação”, com vistas ao “ajustamento” mencionado no título original. Por coincidência esses conceitos e ações fazem parte de uma determinada corrente da semiótica atual.
Para complicar essas tarefas, é preciso que os humanos continuem acreditando no princípio do livre arbítrio. Um desses seres sobrenaturais é interpretado por Terence Stamp (Teorema e Superman II) e explica que a liberdade dos mortais existe sim, ainda que dentro de limites impostos pela vontade divina. Nesse sentido, ele apresenta uma irônica interpretação da história, pela qual os homens se acham sempre em conflito com o projeto do criador. Assim, Ele teria criado a “Pax Romana” que foi anulada pelos bárbaros, dando origem aos mil anos da “Idade das Trevas”. Mais tarde, deu-nos a Renascença que a humanidade estragou com o Absolutismo. Ao Iluminismo se seguiu o “Terror”, a “belle époque” foi encerrada ela Primeira Guerra e assim por diante.
Para o herói do filme em particular, o amor só lhe seria permitido “em pequenas doses”, porque o relacionamento com uma mulher que lhe bastasse afetivamente seria letal para o desenvolvimento de sua trajetória política. Nesse ponto, aliás, parece ficar explicada a importância do celibato para alguns líderes e sacerdotes. A novidade é que a trama procura mostrar as coisas do lado feminino: se aquela futura coreógrafa se casasse com o presidente, terminaria a carreira ensinando balé para crianças. Por essa brecha envereda toda a carga romântica da história que, por conta da sua diminuta dosagem, funciona aqui como um saboroso tempero para a narrativa. Como do ponto de vista da ação dramática, só interessam os personagens capazes de escolher entre este ou aquele caminho, o dilema dos agentes celestiais passa ser, então, o mesmo do roteirista George Nolfi (Ultimato Bourne – 2007), em seu primeiro trabalho como diretor.

Ele recorre, então, à idéia exposta por outro agente segundo a qual nem mesmo os desígnios celestiais são imutáveis e existem resíduos de antigas programações que se transformaram ao longo do tempo. Em outras palavras, até destino muda de idéia. O fato é que não há cena sequer em que o personagem de Matt Damon passe sem ser levado a tomar uma decisão, ou seja, absolutamente todos os caminhos do roteiro se acham nas mãos do protagonista, como se ele estivesse em constante batalha contra o “deus ex machina”. E nessa guerra quem vence são o saudoso Phillip K. Dick e o promissor roteirista George Nolfi.



OS AGENTES DO DESTINO
The Adjustment Bureau
estreia 13 05 2011
EUA, 2011, 106 min, 12 anos.
gênero ficção científica / fantasia
Distribuição Paramount
Direção George Nolfi
Com Matt Damon, Emily Bunt, Terence Stamp
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Apesar do título infeliz, "Reencontrando a Felicidade" não é um melodrama açucarado.

Depois de Hedwig – Rock, Amor e Traição (2001) e Shortbus (2006) – filmes elogiados por alguns e massacrados pela maioria – o ator e diretor John Cameron Mitchell desenha um novo rumo para o seu trabalho como cineasta em Reencontrando a Felicidade. Corajosamente, ele avança por um terreno assombrado pela presença da morte, como uma força dominante na trajetória dos personagens centrais: o casal encarnado por Nicole Kidman e Aaron Eckhart perde o filho de quatro anos, atropelado por um vizinho. Como resposta ao sofrimento, cada um deles eles delineia um reação diferente. Por exemplo, a mãe procura apagar os vestígios materiais do menino, mas o pai não aceita essa estratégia e a tendência é ambos se destruírem mutuamente. Ele tenta convencê-la e conceber mais uma criança, mas a esposa se acha incapacitada para qualquer projeto que envolva amor e sexo.
Ela não se conforma com o consolo pré-fabricado da religião, mas, num inesperado paradoxo, acaba se tornando amiga do jovem que, mesmo acidentalmente, foi o responsável pela irremediável perda. Por sua vez, este é apresentado no filme de maneira bastante sutil e original, por meio de seus desenhos. Numa história em quadrinhos, o rapaz exorciza a sua culpa por meio de uma crença em universos paralelos, nos quais todos os viventes poderiam se reencontrar. Mas o importante nessa trama lacônica e elegantemente construída é a capacidade de perdoar se manifestando numa personagem materialista e refratária aos preceitos religiosos. Os intérpretes atuam comedida e corretamente, mas o grande mérito pertence ao diretor, estimulando o pensamento sem fugir da emoção, que brota sem exagero como se fosse uma conseqüência natural da narrativa.


REENCONTRANDO A FELICIDADE
Rabbit Hole
EUA, 2010, 91 min.
Estreia 06 05 2011
gênero drama
Distribuição Paris Filmes
Direção John Cameron Mitchell
Com Nicole Kidman, Aaron Eckhart,
Sandra Oh e Dianne Wiest
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Raridade: um festival de cinema suiço em São Paulo, com uma dúzia de filmes inéditos


Entre os dias 13 e 22 de maio, o CineSESC e o CCBB apresentam uma mostra de filmes inéditos, selecionados entre os melhores da produção atual da Suíça, referentes às várias regiões do país, com suas peculiaridades linguísticas e estéticas. Os filmes tratam de temas relevantes tanto para a comunidade suíça como para os brasileiros e reafirma o papel do cinema como um interlocutor universal. A mostra será aberta com Sommervögel (Aves de verão - na foto acima), que aborda a questão da inclusão e ganhou o prêmio de público na última edição do Festival Solothurn. Esse é o principal evento cinematográfico da Suíça, reunindo anualmente as novas tendências do cinema helvético, com produções de realizadores suíços residentes ou não no país. A seleção do festival reflete a diversidade da indústria cinematográfica da Suíça. Para a ocasião, já está confirmada a presença do diretor Paul Riniker, de "Aves de Verâo". Dentre as produções selecionadas, Sennentuntschi, que gerou protestos tanto da igreja como do público e Silberwald (Floresta prateada - na foto abaixo), história de um grupo de adolescentes e seus rituais de passagem numa sociedade em transformação. Gênero tradicionalmente marcante do cinema suíço, os documentários serão representados por “Cleveland contra Wall Street”, sobre a crise imobiliária nos EUA em 2009; “Aisheen, Ainda vivo em Gaza”, que mostra o conflito na região do ponto de vista dos civis e “Daniel Schmid, o gato que pensa”, dedicado à vida e obra do consagrado cineasta suíço. Detalhes da programação no CineSESC e no CCBB.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O martelo de "Thor" derruba barreiras entre os mundos do cinema e dos quadrinhos.

Chega às telas o personagem Thor, 45 anos depois de seu lançamento por Stan Lee e Jack Kirby, na revista “The Marvel Super Heroes”. O problema de adaptar quadrinhos para o cinema quase sempre esbarra com a especificidade dessas duas mídias, cada uma com seu público, suas condições de produção e consumo. Neste caso, também conta o fato desse herói não ter se originado no contexto dos comics, mas na antiga mitologia nórdica. Nos anos 1960, aliás, a editora Marvel foi considerada por críticos de prestígio “a matriz da mitologia do século XX” e Stan Lee chegou a ser apelidado de “o novo Homero”, por ter desenvolvido as sagas de figuras épicas como o Homem Aranha, o Quarteto Fantástico, o Homem de Ferro, o Incrível Hulk, o Surfista Prateado e este, o Poderoso Thor.
Uma vez Stan Lee declarou: “Eu admiro Shakespeare acima de qualquer coisa” e agora ele tem Kenneth Branagh − que já adaptou para o cinema quatro tragédias daquele autor − dirigindo o deus do trovão com a grandiosidade que ele merece. E o diretor de “Henrique V” (1989) e “Hamlet (1996) obteve o resultado que quase ninguém atingira antes, que é o da integração quase perfeita entre os universos do cinema e da HQ. Um bom gibi é capaz de nos transportar para outros mundos, porque mergulhamos nele com o senso crítico desligado e aceitando todas aquelas fantasias como coisas plausíveis. Já o cinema pede personagens dotados de conflitos internos, mas, se o filme exagera na densidade da dramaturgia, corre o risco estragar tudo.
Foi o que quase aconteceu, por exemplo, com “Batman, o Cavaleiro as Trevas”, de Christopher Nolan (2005). Apesar do sucesso de público e crítica, ele aprofundou com seriedade os aspectos psicológicos do herói em crise de consciência e do vilão Coringa pintado como um bandido muito próximo de um psicopata real. Por sua vez, nas mãos de Alain Chabat, “Asterix & Obelix: Missão Cleópatra” (2002) perde todo o encanto ao ser transformado de comédia gráfica de época numa chanchada, um besteirol sem um pingo de elegância ou inteligência.
Ou seja, a melhor adaptação é a que produz um efeito de envolvimento na narrativa, equivalente ao que uma revista em quadrinhos pode provocar, por meio de palavras e figuras. Em primeiro lugar, nem tudo precisa ser explicado porque, entre um quadro e outro, a imaginação do leitor complementa as sugestões oferecidas pelo desenho. Do mesmo modo, em “Thor” tudo se encaixa sem necessidade de explicações racionais, porque afinal estamos diante do filho de Odin que baixa em nosso planeta e se envolve com os humanos. É justamente dessa situação, na qual um ser divino se encontra partilhando o rés-do-chão com os simples mortais, que Branagh retira a comicidade necessária para que o filme não deixe a impressão de levar-se demasiadamente a sério: as pomposas falas de Anthony Hopkins, no papel de Odin, ficam amenizadas em confronto com o linguajar, ora técnico ora prosaico, da cientista vivida por Natalie Portman.
Por outro lado, no cinema os personagens não resistem àquela alta definição típica dos gibis e, assim por exemplo, o vilão Loki que é desenhado nos quadrinhos como um demônio do mal aparece no cinema cheio de dúvidas interiores, sublinhadas pelos olhos tristes do ator Tom Hiddlestone. Aliás, o restante do elenco é de primeira: além do ator trágico sueco Stellan Skarsgård, temos o simplório Clark Gregg, curiosamente vivendo pela quinta vez o agente Coulson da SHIELD − uma espécie de FBI do mundo Marvel − em filmes com diferentes personagens de Stan Lee. Finalmente, cumpre alertar que os acertos de “Thor” nada têm a ver com o discutível recurso do 3D. Como diz o cartunista Allan Sieber, “os caras pegaram o cinema, que é uma experiência de você entrar na tela, dentro da história, e inverteram: agora é a história que invade você.”

THOR
EUA, 2011, 114 min, 10 anos
estreia 29 04 2011
gênero fantasia / quadrinhos / mitologia
Distribuição Paramount
Direção Kenneth Branagh
Com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins,
Stellan Skarsgård,Tom Hiddlestone
COTAÇÃO
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ÓTIMO