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domingo, 30 de novembro de 2008

O premiado trabalho anterior dos Coen




Já é possível encontrar em DVD Onde os Fracos não têm Vez (No Country for Old Men), filme que os irmãos Coen dirigiram antes de Queime Antes de Ler, que entra agora em cartaz. Eles são considerados especialistas em humor negro. Essa expressão antiga não se referente a uma comicidade ligada a afro-descendentes, mas significa uma forma de fazer graça a partir de conteúdos macabros, dolorosos ou cruéis. Assim era, por exemplo, a 1ª piada da história do cinema, filmada em 1895 pelos irmãos Lumiére. Por trás do jardineiro, um garoto pisa numa mangueira com a qual ele rega o gramado. Quando o homem a aproxima do rosto para ver o que acontecera, o menino levanta o pé e a água ensopa o pobre jardineiro. O riso não vem do esguicho, mas do gesto mecânico do regador que o rebaixa de sujeito a objeto. Aqui o espanhol Javier Bardem (na foto)é um assassino profissional que ameaça matar a esposa de um cidadão, caso ele não revele o paradeiro de uma mala cheia de dólares. Várias cenas depois, com o dinheiro perdido e o marido morto, ele procura a mulher para matá-la. E explica que precisa cumprir a promessa, mesmo que ela já não tenha mais sentido. Esta cena é uma amostra do filme, que se justifica como um retrato atual, do oeste americano, assim como Baixio das Bestas e Árido Movie retratam aspectos do nosso nordeste. Em tempo: Onde os Fracos não têm Vez gangou os Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante, para Bardem e seu penteado linha pagem ou "playmobil".

Que tipo de comédia é esta dos irmãos Coen?


O gesto inequívoco de John Malcovich (foto abaixo) nos leva a suspeitar que, apesar de anunciada como "comédia negra", o último filme dos irmãos Coen mostre algum personagem para ser levado a sério. Que possa ser tomado por um acesso de fúria, motivado por um desejo autêntico de vingança. Neste caso, estaríamos diante de um exemplo de "ação dramática" invadindo a seara da humorismo. O mesmo acontece quando o personagem de George Clooney é observado furtivamente por alguém que estaciona em frente à sua casa. Na verdade, os autores de Queime Depois de Ler estão apenas brincando com o espectador, ao levantar uma suspeita só para derrubá-la em seguida. Trata-se de um "trop d'oeil", uma pegadinha, igual às que o mestre Hitchcock fazia às vezes e todos adoravam. Se o filme não tivesse toques de inteligência como este, não seria digno dessa dupla que fez Fargo, e tantas outras brincadeiras de bom gosto.
Os Coen até avisam que estão querendo se divertir às custas do público. Como por exemplo nesta cena, em que George Clooney ri num cinema ao lado de Frances McDormand (foto acima). É a repetição exata do que esta personagem fizera, agumas sequencias antes, assistindo o mesmo filme com outro companheiro. Talvez dizendo que nem sempre a graça está na tela, mas também na platéia.




sábado, 29 de novembro de 2008

Em Queime Depois de Ler, os irmãos Coen trabalham com o ridículo da comédia humana



Os irmãos Coen têm um senso de humor peculiar, em que os personagens não são desenhados como figuras propriamente cômicas, mas apenas ridículas. Em Queime Depois de Ler (Burn After Reading) que chegou ontem aos cinemas, atores de primeira linha interpretam um bando de fracassados que se disfarça de gente importante. Ao ser demitido, um gestor da CIA (John Malcovich) resolve redigir um livro de memórias, que ele imagina ter um efeito explosivo. A mulher dele (Tilda Swinton) aproveita para pedir o divórcio, porque tem um caso com um policial do Ministério da Fazenda (George Clooney). Ela faz um backup do computador do marido para que seu advogado estude as condições financeiras dele. Mas o CD é perdido numa academia de ginástica em que trabalham Brad Pitt (na foto) e Frances McDormand. Ao abri-lo, estes dão de cara com dados sobre espionagem e resolvem partir para a chantagem. Segue-se uma série de peripécias que chega a ter efeitos catastróficos para alguns dos envolvidos na trama. Mas que acentuam o patético de suas insignificantes existências: pessoas que agem como se os seus atos tivessem grande importância, mas cuja falta não faz a menor diferença para ninguém. Há algumas piadas isoladas, em que o riso aparece como efeito colateral. Porque parece que os irmãos Coen se acham decididos a enfatizar a vacuidade da existência e a falta de perspectiva para a vida em sociedade, mostrando o que há de mais amargo e constrangedor na comédia humana.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Caçada - reportagem: política para quem faz e aventura para quem assiste


A prisão de Radovan Karadzic, o genocida que cometeu atrocidades na guerra da Sérvia em 1995, ocupou recentemente os noticiários internacionais. Por coincidência estréia nos cinemas e agora em DVD o filme A Caçada, baseado numa matéria publicada na revista Esquire, em 2000. Nela, o jornalista Scott Anderson e outros cinco repórteres, percorreram o país em busca daquele que foi responsável pelo maior massacre na Europa desde a 2ª Guerra. O fracasso da expedição levou-o a concluir que as autoridades internacionais não se interessavam pela prisão de Karadzic. Mas interessou o produtor americano Mark Johnson, que contratou Richard Shepard para dirigir o projeto. Este tinha feito o divertido O Matador, com Pierce Brosnan e conquistado vários prêmios Emmy pela versão americana da novela Betty A Feia. No papel dos jornalistas que partem atrás do criminoso de guerra com o nome trocado, mas como o mesmíssimo rosto de Karadzic, temos Richard Gere e Terrence Howard (na foto), além de Jesse Eisenberg. O resultado pode ser visto como um impecável filme de aventura, com todos os elementos do gênero, associados a uma poderosa vertente documental. Principalmente porque o roteiro reproduz o mesmo trajeto percorrido no ano 2000 pelo repórter Scott Anderson e seus colegas, que tiveram a ousadia de se fazerem passar por agentes da CIA para entrevistar oficiais das Nações Unidas, policiais e ativistas sérvios. A Caçada é um belo exemplo de como o cinema pode abordar temas espinhosos sem abrir mão do humor e nem do senso de espetáculo.

Rede de Mentiras - o drama de um caçador de terroristas


Um modo eficiente de observar Rede de Mentiras, o último filme de Ridley Scott (Blade Runner) que estréia hoje, é compará-lo a outros filmes de ação e suspense lançados neste ano de 2008. Assim como em Controle Absoluto (Eagle Eye)– produção recente de Steven Spielberg, com Shia LaBeouf – a narrativa rende homenagem à imaginação de George Orwell. No clássico "1984", escrito em 1934, o escritor britânico profetizava que os cidadãos um dia poderiam ser vigiados ininterruptamente por meios eletrônicos. O ambiente dos dois filmes é o mesmo, ou seja, a nuvem ameaçadora do terrorismo islâmico. Mas o tema principal de Scott é novamente um agente do governo em confronto com seus superiores, repetindo a essência de O Caçador de Andróides. Desta vez o alvo da caçada é um poderoso líder terrorista escondido em algum do oriente médio. Leonardo DiCaprio faz o encarregado dessa missão supervisionada por um executivo da CIA interpretado por Russel Crowe. Os dois (na foto) se acham permanentemente conectados por celular e todos os passos do operador são monitorados via satélite. A partir disso se constrói o conflito central de Rede de Mentiras, que é muito semelhante ao de Quantum of Solace, a última aventura do 007: a quebra de confiança entre o comandante e o comandado, que comete o deslize de apaixonar em serviço. De resto, pelo alcance mais profundo das discussões e pelo artesanato do suspense, o filme de Ridley Scott é superior aos outros dois aqui citados, em todos os sentidos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito: um fenômeno de público


Nesta sexta, o filme "Bezerra de Menezes, O Diário de Um Espírito", de Glauber Filho e Joe Pimentel completa três meses em cartaz e já foi visto por 430 mil espectadores em todo o Brasil. Seus realizadores estimam atingir meio milhão de espectadores até o final de dezembro. É sem dúvida uma marca histórica, para uma produção nacional realizada fora do eixo Rio-São Paulo. O filme foi produzido no Ceará com orçamento de apenas 2,7 milhões de reais. Conta a história do médico cearense Adolfo Bezerra de Menezes, conhecido como o "Allan Kardec brasileiro", que faleceu em abril de 1900, no Rio de Janeiro. Além de Carlos Vereza no papel principal (na foto), o elenco traz Lucio Mauro e Caio Blat. Observe-se que, na listagem das bilheterias (fonte Filme B) se acha em quarta posição, perdendo apenas para as caríssimas produções de Fernando Meirelles, Hugo Carvana e Bruno Barreto. E supera folgadamente os filmes do global Jorge Fernando e do próprio Walter Salles.


Ensaio Cegueira. ...............845.880

Mãe Joana ........................513.775

Última Parada 174 ...........436.174

Bezerra de Menezes .......431.439

Guerra dos Rocha ............307.778

Linha de Passe .................155.638

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mil anos de Orações


Mil anos de Orações (Imovision)
Estréia em São Paulo “Mil anos de Orações” (Mr. Shi), do chinês de Hong Kong, Wayne Wang. Com quase 70 anos, ele tem uma carreira sólida, no cinema americano. Alguns de seus trabalhos mais conhecidos podem ser vistos aqui em DVD, como “Encontro de Amor” e “O Centro do Mundo”, sempre com histórias e atores ocidentais. Mas, desta vez, ele coloca em cena um drama que exprime o momento atual da cultura chinesa, em confronto com a globalização. Interpretado pelo veterano Henry O, que filma nos EUA desde “O Último Imperador”, um funcionário chinês, do tempo da revolução cultural maoísta, se aposenta e viaja para a América. Vai morar com a filha, uma mulher já madura e divorciada que trabalha como bibliotecária numa universidade. Ele conhece apenas meia dúzia de frases em inglês, mas ela ainda se expressa bem em mandarim. Só que isso não garante que pai e filha se comuniquem. O ancião tenta trocar idéias, porém só encontra o silêncio. A filha o aceita em casa, mas evita revelar detalhes de sua vida privada, que inclui o namoro com um homem casado. São de cortar o coração os esforços para se reconciliar com ela e compreender o universo em que se encontra. Mesmo assim, são muito engraçados os diálogos com uma senhora iraniana, que conhece a língua inglesa ainda menos que ele, e com uma dupla de missionários mórmon, para os quais Marx passa a ser um antigo profeta chinês.

AMAZONAS FILM FESTIVAL A AVENTURA DO CINEMA

O 5º Amazonas Film Festival se encerrarou em Manáus, no dia 14 de novembro. Foi um evento competitivo e temático, voltado para filmes de aventura, que focalizam a natureza e o meio ambiente. Nada mais adequado, portanto, para um festival no coração da Amazônia. A programação foi toda gratuita e apresentou mais de 200 filmes, entre documentários, longas e curtas-metragens dos mais diversos lugares do planeta. Foram ealizadas diversas pré-estréias mundiais, como as do chinês “Uma Imperatriz e os Guerreiros”, do iraniano “For a Moment, Freedom” (que ganhou o grande prêmio do júri) e do indiano “A Boy With a Grenade”, que concorreram na categoria de ficção – além do documentário neozelandês “The Crimson Wing: Mistery of the Flamingos”, uma superprodução filmada na Tanzânia, num local que é considerado o berço da humanidade. O presidente de honra do Festival foi o cineasta Gustavo Dahl e o presidente do Júri o diretor inglês Alan Parker. Foram homenageados os diretores Claude Lelouch, de “Um Homem e Uma Mulher”, e Carla Camurati, de “Carlota Joaquina”. Calcula-se que o evento foi acompanhado por um público de aproximadamente 130 mil pessoas. Além de atrativo turístico, o Festival tem como objetivo a formação de público. Por isso, o Amazonas Film Festival acrescentou outras mostras fora de competição. Destaque para a pré-estréia de “A Festa da Menina Morta” de Mateus Nachtergaele, que foi realizado em Barcelos, interior do Amazonas, com parte do elenco amazonense e apoio do governo do Estado. Ainda incipiente, produção local também se fez presente por meio de curtas metragens e os governos do estado e do município planejam investir maciçamente na formação e na qualificação de técnicos e cineastas locais.

Estréia em São Paulo um dos vencedores do Festival de Manaus

Na proa do barco que segue por um dos afluentes do Rio Negro, dois dos atores indígenas que atuaram no vitorioso "Terra Vermelha" observam a vida selvagem. Trata-se de um curioso fenômeno de inversão de papéis porque, no filme, eles aparecem na margem de um rio parecido com este, fantasiados de guerreiros pintados para o combate, para serem fotografados por turistas, exatamente como eles estão fazendo nesse passeio organizado pelo Festival de Manaus.
(foto de Luciano Ramos)



Terra Vermelha (Paris Filmes)


Chega aos cinemas “Terra Vermelha”, um surpreendente filme brasileiro concebido, dirigido e produzido na Itália por Marco Bechis. De família chilena e franco-suiça, ele cresceu entre São Paulo e Buenos Aires, de onde, aos 20 anos foi expulso por motivos políticos. Instalou-se em Milão, cidade em que viveu até os anos 80. Depois passou a circular entre Nova York, Los Angeles e Paris. Foi fotógrafo e artista plástico, antes de começar a fazer filmes nos anos 90. Este projeto teve a parceria de produtores paulistas, como os irmãos Gullane, e roteiro de Luiz Bolognesi, de “Chega de Saudade”. Mostra um grupo de índios guarani-kaiowás, no Mato Grosso do Sul, que vivem confinados numa reserva e são explorados pelos fazendeiros da região, trabalhando quase como escravos nas plantações de cana. Para ganhar um dinheirinho de uma pousada, outros se fantasiam pintados e armados como guerreiros, para serem fotografados por turistas. Os jovens começam a se suicidar e, por isso, os nativos invadem uma fazenda, sob o comando de um cacique bêbado e de um velho pajé. A história não tem tramas nem reviravoltas e se apresenta assim mesmo, simples, mas sem maniqueísmo ou tiradas de melodrama. Ainda que não tivesse sido premiado, “Terra Vermelha” foi bem recebido em Veneza. Artistas conhecidos, como Leonardo Medeiros e Matheus Nachtergaele fazem papéis do lado branco, enquanto os personagens nativos ficam a cargo de atores convocados nas próprias comunidades indígenas e que funcionam especialmente bem.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Parker Posey é a "Fay Grim" no filme de mesmo nome dirigido por Hal Hartley. Ela fez vários filmes com Hartley, de quem foi colega de escola. Ficou conhecida como atriz "indie" por excelência e tem idéias interessantes sobre o futuro do cinema, em função das novas mídias. O excesso de exposição de imagens em que o mundo se acha mergulhado tende a provocar uma nova "torre de Babel" e um novo parâmetro para a comunicação social. Ela foi uma das convidadas internacionais do último Festivak de Cinema do Amazonas.

No Festival de Manaus, Claude Lelouch fazia parte do juri de filmes de ficção e não parava de dar entrevistas. Alguns jornalistas adoravam o seu modo efusivo de falar sobre cinema. Outros, porém, "já tinham visto esse filme antes", ou seja, identificaram em algumas respostas do cineasta de "Um Homem e uma Mulher", determinadas frases feitas que ele costuma repetir nessas ocasiões. Como por exemplo, a sua inexplicável recusa em atribuir valor estético à "nouvelle vague".


Ao lado da cantora brasileira Talma de Freitas, a atriz canadense Neve Campbell também fez parte do juri do Festival de Cinema do Amazonas, concluído em 14 de novembro. Mas, ao contrários de seus colegas, ela se recusou a conceder entrevistas. Por ter trabalhado no começo da carreira em filmes de baixa qualidade, como a série "Pânico", muita gente acha que o motivo da recusa se deve à ausência de coisas para dizer. Mas acontece que ela também filmou com o grande Robert Altman, há cinco anos, em "De Corpo e Alma". Talvez tenho sido apenas excesso de timidez.


A atriz Parker Posey e o cineasta Sir Alan Parker navegam pelo Amazonas, para observar o encontro das águas do Negro e Solimões, num intervalo festivo do Amazonas Film Festival , em que eles faziam arte do juri de filmes de ficção. Em sua quinta edição o evento atribuiu o Grande Prêmio a um iraniano novato, cujo cinema nada tem a ver com a linha contemplativa de seus conterrâneos mais conhecidos entre nós: Arash Rihai protesta contra o fundamentalismo islâmico que transformou o país num verdadeiro inferno para boa parte dos seus cidadãos, especialmente os democratas. O título "For a Moment, free" ainda não tem tradução no Brasil, mas te tudo para tocar o coração do nosso público.